Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

CBS investiga erro na divulgação dos resultados

ASPAS

"CBS investiga erro na divulgação dos resultados", copyright O Globo / Los Angeles Times, 16/11/00

"Nova York. A CBS formou um grupo com executivos da emissora e acadêmicos de jornalismo para investigar o que ocorreu de errado na cobertura da noite da eleição, quando a vitória de George W. Bush chegou a ser anunciada, e evitar que o problema se repita. Entre os membros do grupo estão Linda Mason, vice-presidente de Relações Públicas da CBS, e Kathleen Jamieson, reitora da Escola Annenberg de Comunicação da Universidade da Pensilvânia.

Com base em dados da Voter News Service, empresa que acompanha a apuração dos votos, a CBS e outras emissoras de TV projetaram inicialmente a vitória de Al Gore na Flórida, na noite de terça-feira. Depois, declararam que a disputa estava muito apertada para determinar um vencedor, para mais tarde anunciar a vitória de George W. Bush no estado e, conseqüentemente, na disputa pela Presidência. Mais uma vez, tiveram que voltar atrás.

– Devemos ao público e a nós mesmos uma explicação sobre por que erramos – disse o presidente da CBS, Andrew Heyward.

A NBC, a CNN e a ABC também estão investigando o erro. A Fox News, primeira a afirmar que Bush teria ganho, disse que ainda não está pronta para anunciar seus planos. No início da semana, John Ellis, consultor contratado para chefiar a projeção dos votos da Fox News, revelou ter passado a noite de terça-feira com seu primo Bush ao telefone, enquanto trabalhava. A emissora investiga se Ellis passou informações sobre as projeções para Bush.

"‘La cucaracha’", copyright Jornal do Brasil, 12/11/00

"Ah, se fosse na América Latina! O sistema eleitoral americano do ‘tudo ou nada’ foi criado há mais de 200 anos, segundo consta, para garantir igual representatividade aos pequenos e grandes estados da União. Mas se tal sistema tivesse sido criado na Colômbia, seria estigmatizado pelos scholars ianques como um pacto de oligarquias para manter no poder dois partidos, o Liberal e o Conservador. Tal sistema seria classificado de antidemocrático. Troquem Liberal e Conservador por Democrata e Republicano, e Colômbia por Estados Unidos. Alguém vai ter coragem de classificar o sistema americano de ‘pacto de oligarquias’ ou afirmar que é antidemocrático? Com a palavra os leitores.

Para quem está de fora do processo americano fica a impressão de que lá só concorrem dois partidos. Nada mais falso. Basta ver a cédula do condado de Palm Beach, onde houve grande confusão com um monte de eleitores judeus votando no anti-semita Pat Buchanan, devido ao desenho confuso da cédula eleitoral. Na Flórida há DEZ CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DOS EUA! Além dos Democratas e Republicanos, têm candidatos o Partido Libertário, os Verdes, os Trabalhadores Socialistas, a Lei Natural, o Mundo dos Trabalhadores, os Constitucionalistas, os Socialistas e os Reformistas.

Então, esse negócio de partido nanico não é uma mazela tupiniquim. A América está cheia de partidos nanicos. A diferença é que aqui há horário gratuito na TV e os minoritários dispõem de algum espaço para fazer ouvir a sua voz. Aqui, a turma irredenta do PSTU pode fazer chegar a sua proposta, e até o alucinado Enéas tem liberdade para anunciar-se à opinião pública. Aqui, o PT pôde tornar-se, em menos de três décadas, um dos grandes partidos políticos do país.

Nos Estados Unidos isso é impossível. Quem já ouviu falar em Monica Moorehead? Ela é a candidata à presidência do Partido Mundo dos Trabalhadores. Ou de James Harris, do Partido dos Trabalhadores Socialistas? Mesmo nomes nacionalmente conhecidos como Ralph Nader (do Partido Verde) ou Path Buchanan, jornalista de extrema direita (do Partido Reformista), só conseguem comer as beiradas do mingau, dividido, desde sempre, entre Democratas e Republicanos, que dia a dia se tornam mais e mais parecidos.

E isso para não falar no vexame da imprensa, notadamente da TV. Na noite da eleição fui dormir com a CNN dando a Flórida como de Gore. Adormeci convicto de que daria Democrata na cabeça. De madrugada fui acordado pelo secretário do jornal que disse que havia parado as máquinas porque faltavam ainda 30 mil jornais para completar a rodada e a decisão da eleição seria dada dali a meia hora, no máximo. Disse que agüentávamos meia hora (havia duas primeiras páginas prontas, uma com Bush a outra com Gore). Se não saísse resultado, que tocasse a rodada, já que não haveria mais tempo para mudar a primeira página.

Antes de voltar para a cama liguei a CNN e espantei-me. A Flórida era Republicana! Bush ganhou, pensei e voltei a dormir. De manhã cedo, no café, tornei a ligar a TV e – surpresa! – a Flórida não era de ninguém, e os apresentadores da CNN estavam há 12 horas no ar. A safra de abobrinhas acabara há muito e eles não tinham a mais vaga idéia do que estava acontecendo. Nunca vi um show tão explícito de incompetência global. Os institutos de pesquisa (os mesmos para todas as TVs), a internet, milhões de dólares em eletrônica sofisticada, tudo virou pó e ridículo em ritmo globalizado.

Ah, se fosse na América Latina. Ah, se fosse no Brasil!"

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