Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Stephen Roach

E-NOTÍCIAS

INTERNET EM CRISE

"As charadas da nova economia", copyright O Estado de S. Paulo, 4/02/01

"Apesar do fim do excesso de publicidade que cercava a Nasdaq e a nova economia, a produtividade ainda é o assunto do dia em Washington e em Wall Street.

O presidente do Fed, Alan Greenspan, nos recordou isso no depoimento que prestou ao Congresso recentemente, afirmando que a capacidade de recuperação da produtividade poderia ser de grande importância para amortecer o lado negativo de uma recessão nos Estados Unidos. Ademais, o debate sobre a política fiscal está sendo colocado no contexto de superávits resultantes da melhora das perspectivas de crescimento econômico dos Estados Unidos a prazo mais longo, determinada pela produtividade. E os mercados financeiros estão cada vez mais enamorados das perspectivas de uma recuperação em formato de V no segundo semestre, presumindo-se que a alavancagem resultante do aumento da receita seja um importante subproduto do milagre da produtividade americana por um período tão longo.

Ontem, tive a oportunidade de tratar deste tema em um foro em Washington.

Partilhei a tribuna com peritos do Fed, da Agência de Estatísticas Trabalhistas dos Estados Unidos, da Brookings Institution, da indústria, e com acadêmicos. Era um grupo sério, fazendo pesquisas sérias sobre um tópico de importância crítica para o macrodesempenho da economia dos Estados Unidos. E era um grupo que geralmente é otimista em relação à história da produtividade. Seus integrantes não viam muitas razões para que o extraordinário desempenho dos últimos cinco anos não estivesse bem alicerçado nos fundamentos da nova economia.

Assim, eles argumentaram que a magia bem poderia continuar em futuro previsível. Por que eles me convidaram a participar das discussões, jamais saberei. Mas contei uma história muito diferente no fim de um longo dia. Foi algo mais ou menos assim: Consideremos a possibilidade de que a nova economia seja mais um produto da publicidade do que uma realidade. De que o impacto da bolha da Nasdaq tenha sido tão penetrante a ponto de acabar infectando a economia real, que é mais ampla – dando origem a um excesso de oferta de tecnologia de informação e um impacto altamente instável sobre a riqueza dos consumidores. Consideremos a possibilidade correlata de que esses excessos na economia real tivessem sua contrapartida no sistema financeiro: que tanto os consumidores como as empresas tivessem ido longe demais na alavancagem de seus balanços para as promessas de prosperidade e riqueza ilimitadas.

Se há ainda alguma coisa que tenha um mínimo de verdade nesta explicação alternativa, então há, conforme argumentei, um lado escuro na nova economia, que a primeira recessão da Era da Informação está prestes a desmascarar.

Há três pontos principais nesse possível enigma da nova economia; o primeiro ponto é um sério problema de mensuração. Talvez os números relativos à produtividade não sejam tudo o que deveriam ser. Se assim fosse, a produtividade estaria sendo exagerada e a economia dos Estados Unidos estaria menos isolada do que se presume. Ouvimos falar muita coisa sobre a importância da mensuração quando os números oficiais sobre a produtividade estavam apresentando resultados não medidos de acordo com os padrões tradicionais – a persistência dos ganhos de 1,5% na primeira metade da década de 90. Mas agora que a maré mudou – quase 3% de crescimento da produtividade anualizada na segunda metade da década de 90 -, ninguém ousa desafiar a integridade dos números.

Eu ouso. Continuo a acreditar que os resultados da produtividade estão seriamente distorcidos pela subestimação das horas trabalhadas no setor de serviços de ‘colarinho branco’. Essa afirmação é especialmente verdadeira no caso dos trabalhadores como gerentes, executivos e profissionais que compõem um terço da força de trabalho de ‘colarinho branco’ total do setor de serviços. Esses trabalhadores, o maior grupo ocupacional da força de trabalho dos Estados Unidos, recebe um salário fixo, independentemente das horas que dedicam ao trabalho. Por cortesia da portabilidade de trabalho inspirada pelas tecnologias de informação – facilitada pelos laptops, telefones celulares e pagers – esses trabalhadores estão trabalhando muitas horas além dos limites do dia de trabalho medidos oficialmente. A produtividade não decorre do fato de eles trabalharem maior número de horas, e sim do fato de criarem maior valor agregado por unidade de insumo. Em vista da provável mensuração inadequada das horas de trabalho, venho argumentando, há muito tempo, que as estimativas da produtividade dos trabalhadores de ‘colarinho branco’ provavelmente são exageradas.

A segunda peça do quebra-cabeças é o próprio ciclo de produtividade.

Ainda que tivesse ocorrido uma aceleração na tendência da produtividade, há uma boa razão para suspeitar que haverá desaceleração daquela tendência em uma mudança cíclica. Isso tenderia a exacerbar os custos e as pressões das margens sobre as empresas americanas, e a criar pressões ainda maiores para a redução do número de funcionários e sobre o orçamento das companhias de tecnologia de informação, que estão no centro da nova economia. Examinei as tendências da produtividade em cada um dos ciclos econômicos, retrocedendo até a década de 60. E todos eles têm uma coisa em comum: quer a tendência da produtividade fosse forte (1960) ou fraca (1980), ela sempre entrava em colapso quando a expansão diminuia e a economia caia na recessão.

O enfraquecimento de fim de ciclo resultou das restrições impostas ao mercado de trabalho por uma economia de pleno emprego. Uma vez ultrapassado esse limiar, o aumento da contratação traria trabalhadores menos produtivos – com menos instrução, menos experiência, menos motivados e menos leais do que os funcionários que já estavam na empresa. Assim, haveria uma diluição do conteúdo da produtividade da força de trabalho, tornando virtualmente impossível manter os aumentos da eficiência de meados do ciclo. Nas recessões, a produtividade cairia pela simples razão de que os ajustes decorrentes das contratações aparentemente retardam a redução da produção.

Nos primeiros estágios da recessão, os gerentes de negócios a negam, normalmente. Mas quando as condições econômicas atingem esse muro proverbial, os cortes de custos são implementados vigorosamente. Com dispensas agora crescentes, e o dispêndio de capital diminuindo significativamente, as lições cíclicas do passado são uma verdade dolorosa nos dias de hoje.

A terceira peça do quebra-cabeças é a mais ameaçadora – a publicidade em torno da nova economia, liderada pela Nasdaq, levou ao excesso de oferta de tecnologia de informação. Sou o primeiro a admitir que estou em terreno instável ao fazer essa afirmação. A extensão plena de qualquer excesso de oferta no lado do suprimento da macroequação nunca é conhecida senão após o fato. Isso foi verdade no caso dos excessos de oferta da Smokestack America, no fim da década de 70, e é verdade no caso da bolha dos imóveis comerciais do fim da década de 80.

Mas também poderá ser verdade em relação à grande pândega da nova economia com a tecnologia de informação. Afinal, os investimentos fixos das empresas situam-se, atualmente, em 13,9% do PIB nominal, igualando o recorde atingido no início de 1981, quando a economia dos Estados Unidos estava entrando no que muitas pessoas imaginaram ser a pior recessão registrada após a Segunda Guerra. Os apologistas insistem em afirmar que essa proporção exagera qualquer excesso – ela se baseia no investimento bruto que é dominado pelas grandes necessidades de reposição das empresas de tecnologia de informação, de vida efêmera. Os dados tendem a confirmar isso: nossos cálculos indicam que as reposições perfazem, atualmente, 75% do investimento bruto em equipamentos e softwares, o que representa um grande aumento em relação à porcentagem de 50% que prevaleceu na primeira metade da década de 80.

Com uma parcela bastante grande dos orçamentos de dispêndio de capital sendo usada para custear a substituição de equipamentos obsoletos, a expansão líquida da capacidade produtiva foi mais limitada. Os dados indicam a necessidade de cautela para não saltar dos excessos de investimentos bruto para um excesso no lado da oferta da economia dos Estados Unidos.

Isso fecha o círculo da publicidade que tem sido feita em torno da nova economia. No fim, muitas das avaliações da nova economia baseiam-se em nada mais do que suposições. A única coisa ‘real’ no quadro da tecnologia de informação são as estimativas do governo das despesas com hardware e software.

Os números ajustados levando-se em conta a inflação, que projetam o crescimento real do PIB, baseiam-se em estimativas fundamentadas em suposições dos deflatores ajustados para a melhora de qualidade. Na minha opinião, a extensão do ciclo de reposição baseia-se, em grande parte, na necessidade criada pelo vendedor de atualizações demasiadamente freqüentes dos produtos _ o mais novo laptop, um novo telefone celular, um sistema operacional mais potente, a última plataforma de e-mail e um processador de texto mais aperfeiçoado. E o retorno da macroprodutividade mensurada, como foi dito acima, baseia-se em uma contabilidade macro muito criativa.

No início do ciclo econômico, todas essas suposições são coerentes.

Sempre são. Os excessos têm um meio muito conveniente de mascarar as incoerências em qualquer tendência macro. Mas no fim do ciclo essas mesmas incoerências podem ser desmascaradas muito rapidamente – e causar problemas.

A meu ver, esse desmascaramento está começando agora.

Os pedidos de bens de capital estão caindo dramaticamente. Companhias de telecomunicações estão cortando os orçamentos de tecnologias de informação neste exato momento. Companhias de mídia estão desligando a tomada de uma e-venture após outra. E à medida que as pressões de margens se intensificarem e ampliarem para o setor empresarial como um todo, tenho a certeza de que aumentarão os incentivos para que uma ampla série de companhias reduza os onerosos custos fixos atribuídos aos orçamentos inchados das tecnologias de informação.

Se o ciclo da Teconologia da Informação (TI) sofrer uma queda de preços inesperada, todas as probabilidades indicam que isso acontecerá na frente de produtividade. Os defensores mais confiáveis da nova economia admitem que os recentes milagres de produtividade podem ser atribuídos, em grande parte, ao ‘aprofundamento do capital’ – a substituição da energia fornecida pela mão-de-obra pelos onipresentes dispositivos de informação. Isso coloca a TI no desconfortável papel de narcótico da nova economia – as pessoas precisam cada vez mais dela para manter viva a magia. Entretanto, este é, por definição, um processo que não pode ser sustentado. Bastará a redução do índice de crescimento das tecnologias de informação por um período prolongado para interromper o aprofundamento de capital e colocar o milagre da produtividade da nova economia no gelo. No ponto em que está agora o ciclo das TIs, esse frio bem poderia representar a maior ameaça à economia dos Estados Unidos. E assim termina a história dos enigmas da nova economia.

Stephen Roach é economista-chefe do banco Morgan Stanley Dean Witter Texto extraído de pronunciamento feito na National Association for Business Economics, intitulado Mensurando a Produtividade na Nova Economia, em 30 de janeiro."

"Ex-funcionários do Super11 tentam cobrar dívida do iG", copyright Valor Econômico, 30/01/01

"Os advogados dos ex-funcionários do falido Super11.net, provedor de acesso grátis à internet que fechou as portas em setembro, estão pleiteando na Justiça a transferência de todo o passivo trabalhista da empresa para o iG. Eles alegam que, logo após o encerramento do serviço de acesso gratuito, o iG assumiu toda a base de usuários do seu ex-concorrente. Esse fato, segundo eles, demonstra que o iG é o sucessor legal do provedor falido.

A dívida trabalhista com os 120 funcionários – saldos de salários de agosto e setembro, férias, FGTS e multas legais – supera R$ 1 milhão. Para garantir o pagamento, os advogados também estão tentando via Justiça o bloqueio dos bens que restaram do provedor. Segundo eles, o iG paga ao Super11 R$ 120 mil mensais, a título de aluguel do banco de usuários. Eles estão pedindo que a quantia seja depositada em juízo até o final do processo, também como forma de assegurar o pagamento dos empregados.

‘Caso os juízes do Tribunal Regional do Trabalho aceitem a tese dos advogados, o iG terá de arcar com o pagamento dos empregados demitidos pelo Super11’, disse um funcionário que prefere não se identificar.

Os advogados dos funcionários argumentam que basta acessar o endereço do provedor falido (www.super11.net) para comprovar a tese de sucessão legal. O endereço direciona o internauta para uma página do iG. O Super11 tem alegado que o contrato com o iG não tem nada a ver com a dívida trabalhista.

Nenhum executivo do iG quis se manifestar sobre o assunto. Sua assessoria de imprensa informou, porém, que o provedor vai cumprir o que for determinado pela Justiça.

Já o presidente do Super11, Nagib Mimassi, disse que estava ‘muito ocupado’ na tarde de ontem e que, por isso, não falaria sobre os processos trabalhistas de seus ex-funcionários.

Os problemas com o Super11 começaram a surgir em junho do ano passado, quando o provedor atrasou pela primeira vez os salários. Em agosto a situação piorou: empregados e fornecedores ficaram sem receber em definitivo.

Nos primeiros dias de setembro, os funcionários foram impedidos de entrar no prédio. No mesmo dia, foi anunciada a desativação do serviço de acesso gratuito."

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