Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Araújo Netto

PCC

"Rebelião é notícia no exterior", copyright Jornal do Brasil, 20/02/01

"O longo período de silêncio que a mídia italiana e européia concedeu ao Brasil foi interrompido no último fim de semana pela revolta nas penitenciárias de São Paulo. Jornais, rádios e televisões deram muito espaço e destaque ao ”horror”, à ”filial do inferno”, aos sete mil reféns (mil dos quais, seriam crianças indefesas e inocentes) feitos pelos dez mil presos no Carandiru.

Durante dois dias – domingo e segunda-feira – as notícias e imagens da rebelião dos presos mereceram as manchetes dos jornais, telejornais e noticiários de rádio. As reportagens destacavam a importância do grupo Primeiro Comando da Capital, que teria se transferido do Rio para São Paulo, e teria atuado como coordenador da rebelião.

Segundo as informações divulgadas na Europa, a perfeita e sincronizada deflagração da rebelião foi feita através de celulares. A comunicação, ainda de acordo com jornais e emissoras de televisão, teria sido o principal destaque da operação.

Um detalhe repetidamente mencionado nas noticias divulgadas na Itália diz respeito a oito prisioneiros italianos de Carandiru. ”Nenhum deles participou da rebelião. Nenhum deles sofreu qualquer violência. Todos estão bem” – tranqüilizavam locutores e apresentadores de TV. as notícias. A rebelião dos cárceres sensibilizou a mídia européia a ponto de fazê-la desprezar as fotos do pré-carnaval no Rio e na Bahia.

A Agência de Notícias Inglesa, a Reuters, emitiu durante o dia de ontem uma série de reportagens contando detalhes e repercussões da rebelião. O fim dos confrontos também mereceu destaque no serviço noticioso da BBC na internet. Apesar do incidente ter sido comparado com o que aconteceu em 1992, quando 111 presos foram mortos, a matéria ressaltava a ação mais comedida polícia."

"Gugu vence briga da audiência", copyright Jornal do Brasil, 20/02/01

"A rebelião simultânea de mais de 25 mil presos em 19 cidades do estado de São Paulo, no domingo, acirrou a já tradicional guerra pela audiência nas tardes dominicais. Entre os programas de variedades, esportivos e filmes da programação, quem saiu ganhando no Ibope foi o SBT. Durante as quase cinco horas em que o Domingo legal, apresentado por Gugu Liberato, ficou no ar – de 15h50 às 20h30 – a emissora de Silvio Santos registrou média de 29 pontos de audiência contra 26 do Domingão do Faustão, da Globo. ”Ninguém nos derruba quando há um fato jornalístico quente. Dedicamos 80% do programa para noticiar a rebelião. Exibimos em primeira mão momentos importantes, como presos sendo baleados”, analisa o diretor do Domingo legal, Roberto Manzoni.

Com um link em frente à Casa de Detenção, outro em um helicóptero e apenas uma repórter, o SBT teve pico de 38 pontos de audiência. A agilidade da cobertura da emissora não evitou apelos como o que Gugu fez para que a cantora Simony – que visitava o marido no Carandiru durante a rebelião – se comunicasse com o SBT. Depois do pedido, a cantora acenou e beijou o marido em frente às câmeras.

”Notícia em programa de variedades deixa de ser tratada como jornalismo e vira show”, avalia o diretor da divisão de produção de notícias da Band, José Ochiuso. Também com um link em terra e outro no ar, seis repórteres e dez flashes ao vivo entre 14h30 e 21h45, a Band esticou o tempo do Notícia de domingo de 15 para 40 minutos por causa da rebelião. Teve pico de 6 pontos de audiência durante a tarde.

Segundo a Central Globo de Jornalismo (CGCom), o diferencial da emissora foi a amplitude da cobertura. ”A TV Globo foi a única que deu a real dimensão das rebeliões. As onze emissoras do Estado foram acionadas e entraram ao vivo”, explica o diretor da CGCom, Luiz Erlanger."

"Imprensa estrangeira dá destaque à série de motins", copyright O Estado de S. Paulo, 20/02/01

"Os principais jornais da Europa e dos Estados Unidos deram destaque às rebeliões em seqüência ocorridas no domingo no Estado de São Paulo. O sistema de notícias da BBC de Londres fez questão de ressaltar que o sistema prisional constitui ‘a reinvenção do inferno’, na definição de uma comissão do Congresso Nacional. A BBC salientou que as rebeliões no País viraram epidemia. Ainda na Inglaterra, o The Guardian considerou que a situação é caótica e fora de controle num dos piores sistemas do mundo.

Já o diário espanhol El País ressaltou que a liderança dos motins estava no ‘infernal’ Carandiru, sob o comando do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma ‘organização narcotraficante’ que se insurgiu pela transferência de líderes.

O The New York Times preferiu mostrar em seu noticiário que observadores internacionais, ligados aos direitos humanos, acompanhavam de perto a situação nos presídios. O Los Angeles Times retratou a tensão no início da noite de domingo, enquanto The Washington Post comentou as imagens televisivas da rebelião e lembrou o episódio do massacre do Carandiru, quando 111 presos foram mortos, durante a invasão do Pavilhão 9 pela Tropa de Choque da Polícia Militar, em 1992.

Agências – Na manhã de ontem, o assunto ainda teve tratamento prioritário da agência Reuters, superando até mesmo as novidades sobre os conflitos no Oriente Médio. A espanhola Efe colocou as notas sobre o caso no topo de suas chamadas internacionais, destacando que a situação estava sob controle, nas palavras do secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. A France Press optou por apresentar o caso sob o ponto de vista de um ‘braço-de-ferro’ entre o Estado e o PCC, afirmando que o grupo criminoso teria transformado o segundo maior complexo penitenciário do planeta em ‘quartel-general’."

"Imprensa estrangeira destaca más condições carcerárias no Brasil", copyright O Globo, 20/02/01

"As rebeliões de domingo nos presídios de São Paulo ganharam destaque nos principais órgãos de imprensa do mundo, que em sua maioria apontaram as más condições carcerárias no Brasil.

Nos Estados Unidos, o ‘New York Times’ destacou que foi ‘a maior onda de rebeliões da ‘História brasileira’, lembrando na reportagem o massacre de Carandiru, em 1992, quando 111 presos foram mortos na invasão do presídio pela polícia durante uma revolta.

O ‘Washington Post’ disse que as rebeliões são comuns nas ‘indecentemente superlotadas e violentas prisões brasileiras’, chamando o presídio de Carandiru de um dos mais perigosos da América Latina.

O ‘Correio da Manhã’, de Portugal, ressaltou que o número de mortos era diferente de acordo com a fonte da informação, citando as autoridades e a namorada de um preso.

A repercussão da rebelião nos presídios de São Paulo na imprensa francesa foi discreta. O jornal a abrir mais espaço foi o ‘Le Monde’, que, em sua página 4, a terceira da editoria internacional, publicou uma reportagem sob o título ‘Brasil: uma rebelião geral nas prisões do estado de São Paulo faz ao menos 8 mortos’. Com informações atribuídas à agência France Press, o jornal diz que a rebelião iniciada no domingo foi sem precedentes na História do Brasil. ‘Cerca de dez mil presos rebelados fizeram quase sete mil pessoas de reféns, sendo que mil crianças, e matou oito pessoas, segundo as autoridades e parentes dos presos’.

Os outros dois grandes jornais da França, ‘Le Figaro’ e ‘Libération’, publicaram apenas notas sucintas sobre o assunto, em suas paginas dedicadas a assuntos internacionais. Em sua nota, o ‘Libération’ também lembra que o Carandiru foi o palco do massacre de 111 presos em 92.

O diário argentino ‘La Nación’ destacou que foi a maior rebelião carcerária da História brasileira e citou frase do governador em exercício de São Paulo, Geraldo Alckmin, que afirmou que ‘o governo não vai permitir que o crime organizado domine o sistema penitenciário paulista’.

Na Inglaterra, o jornal esquerdista ‘The Guardian’ destaca o número de mortos – no momento do fechamento da edição, ainda 11 – e diz que ‘as revoltas e violência nas superlotadas prisões do país são coisa comum’. O ‘Guardian’ cita observadores afirmando que o governo brasileiro está perdendo o controle do sistema penitenciário.

O espanhol ‘La Vanguardia’, de Barcelona, citou o número diferente de presídios que estariam revoltados – 19 segundo o governo e 32 segundo as emissoras de TV – e chamou a atenção logo nas primeiras linhas para a grande quantidade de reféns tomados pelos presos: sete mil, entre funcionários e parentes de detentos.

A agência Reuters fez um retrospecto das revoltas nas prisões do país sob o título ‘a história das rebeliões carcerárias no ‘inferno reinventado’ do Brasil’.

O jornal italiano ‘Il Corriere della Sera’ publicou em sua edição de ontem que o Brasil passou o domingo colado na TV acompanhando os detalhes das rebeliões em São Paulo e classificou a penitenciária de Carandiru como ‘uma das mais lúgubres do mundo’. O diário afirma que o Primeiro Comando da Capital detém o controle das prisões, nas quais ‘o homicídio e a revolta são o pão cotidiano’.

No site da rede de notícias a cabo CNN, a rebelião em São Paulo teve destaque pequeno na edição em inglês, na qual outras notícias tiveram maior destaque. Na edição em português, no entanto, o assunto foi manchete, ganhando desdobramento em reportagens menores, uma das quais destacando os comentários do presidente Fernando Henrique Cardoso de que o episódio prejudicou a imagem do país no exterior.

Por sua vez, o site da rede britânica BBC na internet fala da rebelião na página de abertura, mas com pouco destaque. A reportagem também lembra que as revoltas carcerárias no Brasil são comuns e que as condições nas prisões são freqüentemente condenadas pelos grupos que defendem direitos humanos. A BBC lembra o fato de os líderes da rebelião terem acesso a telefones celulares."

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