Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Celso Fonseca

QUALIDADE NA TV

PORTO DOS MILAGRES

"Morte de oito personagens agiliza Porto dos milagres", copyright IstoÉ, edição 1639

"O mundo das novelas é mesmo engraçado. Na célebre O bem-amado, de Dias Gomes, primeiro folhetim em cores exibido no Brasil, o coronel Odorico Paraguaçu, papel do falecido Paulo Gracindo, atravessou toda a trama em busca de um cadáver para inaugurar o cemitério da fictícia Sucupira. Se por acaso Odorico reaparecesse como prefeito da também fictícia Porto dos Milagres – cidade que batiza a nova novela das oito da Rede Globo -, ele estaria com seus problemas resolvidos. Nos dez capítulos iniciais da história assinada por Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares morreram nada menos que oito personagens em circunstâncias variadas. Bartolomeu Guerreiro foi envenenado por Adma (Cássia Kiss), mulher de seu ambicioso irmão gêmeo Felix, papel duplo de Antonio Fagundes. Leôncio (Tuca Andrada) e Laura (Carolina Kasting) sumiram do mapa na explosão de um barco, provocada pela polícia que os perseguia. O coronel Jurandir (Reginaldo Farias) acabou morto por um tiro da espingarda de Rosa Palmeirão (Luiza Tomé) – ele estuprou sua irmã Cecília (Luiza Curvo), que, ultrajada, se enforcou. Arlete (Letícia Sabatella), prestes a ser assassinada a mando da pérfida Adma, também se suicida jogando-se no mar. Eulália (Cristiana Oliveira) teve uma morte não premeditada. Faleceu após o parto e, fazendo jus aos toques de realismo fantástico e de religiosidade que marcam a trama, abertamente inspirada no universo de Jorge Amado, surgiu na forma de Iemanjá para buscar o marido Frederico (Maurício Mattar), que sumiu nas águas salgadas durante uma tempestade.

A mortandade, na verdade, deu agilidade à história, que, de acordo com Linhares, nestes primeiros capítulos ganhou o formato proposital de minissérie. ‘Tudo aconteceu muito rápido para os telespectadores não se acostumarem com os personagens’, justifica ele. A novela foi escrita como uma saga e os capítulos iniciais tinham a função de explicar o nascimento do casal de protagonistas. No caso, Guma – o heróico pescador vivido por Marcos Palmeira – e Lívia (Flavia Alessandra). Na segunda fase, que já se iniciou, deve haver menos tragédias e mais humor. Neste quesito, a ricaça Augusta Eugênia de Proença de Assunção, de Arlete Salles – que está dando um banho de interpretação -, promete render momentos ainda mais divertidos, principalmente depois de enfrentar a decadência sem perder a pose. Por enquanto, Porto dos milagres se mantém em índices de audiência apenas satisfatórios, oscilando entre 40 e 45 pontos, similares à média inicial da lacrimosa Laços de família. Intensa em sua trama ágil e intrincada, espera-se que Porto dos milagres conquiste de vez o público. Criatividade e ação, ao que tudo indica, não vão faltar."

UM ANJO CAIU DO CÉU

"Anjinho cabeça", copyright Veja, edição 1689, 28/02/01

"Caio Blat caiu do céu para a novela das 7 da Globo. Depois da trupe de marmanjos rudes e musculosos que atuou em Uga Uga, ele apela para o público feminino que curte o modelo oposto de galã, de traços suaves e jeito sensível. Nas asas do personagem central de Um Anjo Caiu do Céu, esse ator paulistano de 20 anos parece feito sob medida para encarnar o querubim Rafael, anjo da guarda do personagem de Tarcísio Meira. Curiosamente, ele não foi a primeira escolha. ‘Queriam que o papel fosse de Fábio Assunção ou de Rodrigo Santoro’, diz o autor da novela, Antonio Calmon. ‘Briguei para ter o Caio, porque o primeiro era muito velho e o segundo, sem humor. Eu estava com a razão.’ Bastou um mês de exibição da novela, que de resto está demorando a engatar, para que Blat se convertesse em um dos campeões de correspondência da Globo: são cerca de oitenta mensagens endereçadas a ele todas as semanas, a grande maioria de crianças e garotas de cabecinhas povoadas por sonhos românticos com aqueles cachinhos negros e o ar maroto. Recebendo hoje um salário de 7.000 reais, o ator deve ver em breve seus rendimentos se multiplicarem. Uma fábrica de brinquedos pretende lançar o Angel Game, réplica do aparelhinho que Rafael utiliza para se comunicar com o Paraíso (ou ‘diretoria geral’, como se diz na novela). Blat vai faturar com o merchandising. Além disso, está sendo negociada a estréia de sua página de internet no portal Globo.com.

Blat é adepto do visual ‘novo hippie’. Gosta de envergar camisetas e calças largas, sandálias de couro e bolsas a tiracolo. Os cachos angelicais que exibe na novela são apliques, mas ele está deixando o cabelo crescer e em breve poderá dispensá-los. Costuma completar o figurino papo-cabeça com um livro grosso embaixo do braço – sua forma preferida de levantar peso. Tudo, realmente, coisa da pesada: pode ser um romance do russo Dostoievski ou do franco-argelino Albert Camus, o Fausto de Goethe, ou uma peça teatral. Ele tem um pendor para línguas: só conversa em francês com seu bicho de estimação, a gata ‘Renata’. Até dois anos atrás, Caio Blat organizava saraus literários com seus amigos. ‘Bebíamos cerveja, fumávamos maconha e discutíamos a filosofia de Nietzsche’, lembra ele, que diz não usar mais nenhum tipo de droga menos potente do que os pensamentos do alemão. Os saraus terminaram, mas não o interesse por literatura. ‘Eu não assisto à televisão em casa’, afirma ele. ‘Isso me deixa tempo livre para ler, o que é muito melhor.’

A boa lábia e o jeito de príncipe encantado lhe rendem conquistas ecléticas. Durante três anos ele namorou a belíssima Mariana Ximenez, que interpretava Bionda em Uga Uga. Depois engatou um romance com Preta Gil, filha do compositor Gilberto Gil. Acabou em meados do ano passado. ‘Não deu certo, tínhamos projetos de vida diferentes’, diz Blat. Traduzindo: Preta queria casar e ter um filho, mas ele não achava que fosse a hora certa. No momento, o galã está sozinho. Correm boatos sobre um namoro secreto entre ele e a atriz Débora Falabella, que interpreta a personagem Cuca em Um Anjo Caiu do Céu. Blat nega veementemente. ‘Ela está com meu melhor amigo, o ator Daniel de Oliveira’, afirma. ‘Além disso, eu e ela trabalhamos juntos e trabalho para mim é sagrado.’ Filho de pai cardiologista e de mãe dentista, ele fez as primeiras pontas como ator aos 9 anos de idade. Hoje, conta com 200 comerciais, seis peças teatrais e seis novelas no currículo. Blat também está envolvido num projeto ambicioso: dirigir o espetáculo Extase, do dramaturgo Walcyr Carrasco. Garante que não se sente inseguro e talvez não precise mesmo de supervisão de um adulto. Tudo indica que ele tem um ótimo anjo da guarda."

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