Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ O Estado de S. Paulo
Quinta-feira, 31 de julho de 2008
ELEIÇÕES / EUA
Patrícia Campos Mello
McCain compara Obama a Britney e Paris Hilton
‘A campanha do candidato republicano John McCain estreou um anúncio de TV comparando o democrata Barack Obama à cantora Britney Spears e à socialite Paris Hilton. O anúncio começa com imagens de Britney e Paris (conhecidas pelos escândalos em que se envolvem) e depois mostra o comício que Obama fez para 200 mil pessoas em Berlim. ‘Ele é a maior celebridade do mundo – mas será que ele está pronto para liderar?’ diz o locutor.
Segundo a campanha de McCain, o anúncio é uma tentativa de se contrapor à comoção gerada pela candidatura de Obama e à pouca cobertura da mídia ao republicano. ‘O povo americano quer eleger a maior celebridade do mundo ou um candidato que é um herói, um líder, e tem as idéias certas para lidar com os sérios problemas que enfrentamos?’, disse Steve Schmidt, estrategista da campanha de McCain.
A campanha de Obama respondeu usando a letra de uma das músicas de Britney. ‘No dia em que vários órgãos de imprensa estão criticando os falsos ataques de McCain contra Obama, ele resolveu atacar mais uma vez. Ou alguns diriam: ?Ooops, he did it again!?’
Perguntado sobre a escolha de Britney e Paris para o anúncio, o gerente da campanha de McCain, Rick Davis, ironizou: ‘Decidimos descobrir quem eram as três maiores celebridades do mundo. Britney era a segunda e Paris, a terceira’, disse. ‘McCain não é uma celebridade internacional. Nós o vemos mais como um líder global.’
A campanha de Obama promete lançar um anúncio ridicularizando os mocassins Pregiato, do designer italiano Salvatore Ferragamo, usados pelo republicano. McCain, que se apresenta como um sujeito simples, usou os mocassins de US$ 520 diversas vezes na semana passada.’
GIL PEDE PARA SAIR
‘Sufocado como artista’, Gil deixa ministério
‘Sem esconder o alívio, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, anunciou na noite de ontem, em Brasília, a saída do cargo. Após encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, ele confidenciou que se sentia sufocado como artista e reclamou que os recursos da pasta não chegam a 1% do Orçamento da União, como recomenda a Unesco. ‘No governo a gente sufoca um pouco a inspiração, não tem tempo para ela’, disse ao Estado.
Gil relatou em entrevista coletiva que, no encontro de ontem, Lula estava mais sensível e avaliou que não teria problemas políticos com a saída do cantor do cargo. O presidente, antes de se despedir e desejar boa sorte ao artista, fez um longo relato sobre agricultura familiar e biocombustíveis, segundo o próprio ministro.
Por isso, Gil disse que Refazenda era a música mais apropriada para o momento de saída do governo. ‘Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão’, lembrou o trecho da música que fala de um abacateiro, metáfora da árvore da vida. ‘É uma música que fala das plagas do planalto central, se quiserem podem usar como jingle.’
Quem deve assumir o Ministério da Cultura é o atual secretário-executivo da pasta, Juca Ferreira, que já está interinamente na função. Ferreira poderá assumir em definitivo o cargo no próximo mês, após viagem de Lula à China.
Gilberto Gil fazia parte de um seleto grupo de apenas quatro ministros no mesmo cargo desde janeiro de 2003, quando Lula tomou posse para cumprir seu primeiro mandato. Os demais são Celso Amorim (Relações Exteriores), Jorge Félix (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência).
FAMÍLIA
Uma temporada recente de shows na Europa e nos Estados Unidos levou Gil a voltar a pedir a Lula o afastamento. ‘Eu disse ao presidente que o jogo estava de dois a zero para ele’, contou.
‘Hoje (ontem) fiz um gol e saí ganhando.’ Na entrevista, Gil disse que não saía do governo para atender ao aumento da demanda de shows, mas para dar mais atenção à família.
Ele, no entanto, admitiu ‘pressões’ por conta da agenda de artista. O ministro lembrou ter sido criticado por acumular o cargo com a carreira de músico.
Neste ano, ele tirou férias de 30 dias e conseguiu licença de 40 dias para fazer apresentações. ‘Não me incomodavam muito as críticas, pois não me sentia responsável por atitudes negativas’, afirmou. ‘Houve sinergia entre o trabalho do artista e do ministro.’
Ele calculou ter dedicado 80% do tempo para os trabalhos de ministro e 20% para a música. ‘A balança tendia a pender mais para a atividade artística, e aí resolvi sair’, disse. ‘O presidente entendeu isso e me liberou’, completou.
Gil disse ter tomado novamente a decisão de deixar o governo no último dia 27. Agora, o artista pretende se dedicar ao seu mais novo disco, Banda Larga.
CORDAS VOCAIS
Pela manhã, no Rio, Gil discursou na abertura do Fórum Nacional de Direito Autoral, um tema que lhe é bastante caro.
A voz, que vem falhando por conta de danos nas cordas vocais, provocados pela rotina de ministro acrescentada à de cantor, não foi poupada para defender, com ardor, a necessidade de revisão da Lei 9.610, de 1998, que dispõe sobre o assunto.
‘Ou a sociedade brasileira discute isso ou daqui a dez anos estaremos fora do bonde da história’, afirmou, para, em seguida, admitir: ‘Se minha fonoaudióloga me ouvisse, talvez me repreendesse.’
Uma das mudanças na legislação propostas pelo ministério é a proibição da cessão total dos direitos do autor.
Essa seria uma forma de proteger o criador na hora de ele negociar a transferência de direito de exploração econômica de sua obra.’
Rodrigo Savazoni
No último período, foi ministro de Xangô
‘Outubro de 2007. Gilberto Gil está na Califórnia, nos Estados Unidos, para se encontrar com figurões do Vale do Silício. No Brasil, especula-se sobre sua saída do Ministério da Cultura. Gil pretende aproveitar a viagem para depositar na balança dos prós e contras razões para permanecer, ou não, no comando da pasta.
Na bandeja do ‘fico’, pesam a lealdade da equipe, a crescente projeção nacional e internacional de sua figura política e a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não queria perdê-lo. No prato do ‘saio’, acumulam-se um calo nas cordas vocais – acostumadas a cantar, não a discursar – e a pressão da música, materializada em sua mulher e produtora Flora Gil, que desde o início do segundo mandato de Lula não escondia de ninguém querer a saída do marido.
Certa noite, no hotel, Gil conversa com um assessor. O telefone toca. Ao desligar, o ministro gargalha, divertido. Vira-se e diz que era Flora, uma disciplinada filha de santo. Ela acabara de voltar do terreiro e tinha recebido de Xangô, orixá associado à Justiça e aos raios e trovões, um recado: não era hora de Gil deixar o ministério porque ainda tinha uma missão a cumprir. Gil continua a rir.
O assessor, então, pergunta. ‘Mas e aí, ministro?’
Gil responde: ‘Agora, é Xangô, ué?’’
TELECOMUNICAÇÕES
Falco critica ‘achismo’ da Embratel
‘O presidente da Oi, Eduardo Falco, chamou de ‘achismo’ os argumentos usados pela Embratel contra a compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi. ‘Provavelmente algum advogado está usando o nome da Embratel’, disse o executivo, sobre o documento enviado pela operadora de longa distância à Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda. ‘Eu respeito os executivos da Embratel, mas eles estão agora numa posição indesejável. A Embratel está se expondo sem argumentos concretos.’
Pedro Dutra, advogado da Embratel, preferiu não responder ao executivo. A Embratel divulgou uma nota dizendo que foi a Seae que solicitou uma opinião da empresa sobre a compra da BrT pela Oi. O comunicado é bastante parecido com outro que a empresa havia divulgado anteriormente, mas inclui uma frase nova: ‘A Embratel não se posicionou contra a compra da BrT pela Oi.’ Em sua petição à Seae, a empresa argumenta que a criação da BrOi (como foi apelidada a nova empresa) prejudicaria a concorrência.
‘Estamos convictos do aumento da competição’, disse Falco. O executivo disse que, com a nova empresa, será criada a quarta operadora nacional de telefonia celular (as três atuais são a Vivo, a TIM e a Claro) e a segunda infra-estrutura nacional de comunicação de dados (a primeira é a Embratel). ‘Na telefonia fixa, as áreas não são sobrepostas. A aquisição não vai diminuir a competição porque ela não existe.’
Falco afirmou que já esperava a oposição das empresas internacionais (a Embratel pertence à mexicana Telmex). ‘O que me causou estranheza foi a forma’, disse o presidente da Oi. ‘Não vejo fatos e dados nas peças da Embratel a que tivemos acesso. Acho que foi um vacilo da Embratel na contratação de quem a representa.’
A Embratel apontou, na petição à Seae, a necessidade de se implementar ou reforçar medidas pró-competição, como o unbundling (abertura da rede de acesso aos concorrentes) e a portabilidade numérica (possibilidade de trocar a operadora e manter o número). ‘Não tem nada a ver uma coisa com outra’, disse Falco.
O presidente da Oi negou que a empresa tenha sido beneficiada pelos bancos oficiais. ‘A Oi está comprando com recursos próprios’, disse Falco. ‘Os empréstimos são produtos comerciais, de prateleira, em que a garantia é a própria companhia.’ Ele acrescentou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) participa como banco e como investidor. A Oi conseguiu um empréstimo de R$ 4,3 bilhões do Banco do Brasil e o BNDES destinou R$ 2,569 bilhões para a reestruturação societária da empresa.
Além da Seae, a Secretaria de Fiscalização e Desestatização (Sefid), do Tribunal de Contas da União (TCU), também vai acompanhar ‘cada passo’ do processo de fusão da compra da BrT pela Oi. A medida, aprovada por unanimidade, foi proposta pelo ministro Raimundo Carreiro, ex-integrante do Conselho Consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
A decisão do TCU autoriza a Sefid a realizar diligências e requisitar documentos de quaisquer órgãos da administração pública envolvidos no processo de fusão, sobretudo da Seae e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça. A Sefid poderá ainda requisitar informações das empresas que serão atingidas pela fusão.
Em comunicado, o ministro Carreiro afirma que ‘questionamentos têm sido feito quanto à possível concentração excessiva no mercado de telecomunicações’. E que a fusão resultará numa nova empresa, com mais de 52 milhões de clientes da telefonia fixa e móvel.
Carreiro lembra que a legislação em vigor – o Plano Geral de Outorgas (PGO) – impede a fusão de concessionárias que operem o serviço em áreas diferentes. ‘Para viabilizar a operação de fusão seria preciso alterar a legislação atual’, afirma Carreiro, lembrando que a proposta de mudança do PGO já está em consulta pública na Anatel desde 15 de junho último, com término previsto para amanhã.
Para Carreiro, a importância da matéria torna necessário que a Secretaria de Fiscalização atue no processo de acompanhamento, em caráter excepcional, ‘com o intuito de que este tribunal seja informado pela Anatel de cada passado dado, inclusive por meio magnético, sobre o andamento da fusão, permitindo, assim, a realização do controle da operação’.’
TELEVISÃO
Gafe ou montagem?
‘A Band diz ter sido vítima de um vídeo clandestino na internet, com direito a colagem de frases e distorção dos fatos, sobre os bastidores da cobertura da Festa de Parintins, transmitida pela rede em junho. Esta foi a reação da rede ao ser procurada pelo Estado para se manifestar sobre o novo hit do YouTube.
No vídeo, Patrícia Maldonado e José Luiz Datena, âncoras da transmissão, referem-se ao evento de modo negativo. Patrícia diz que o apresentador oficial da festa ‘não é mais chato por falta de espaço’. Já Datena briga com a técnica, abusa dos palavrões e parece cansado da cobertura.
Procurados pelo Estado, organizadores do evento e representantes dos bois Caprichoso e Garantido demonstraram indignação.
A Band, por meio de sua Assessoria de Imprensa, garante que em nenhum momento os apresentadores reclamaram do evento. Sobre a queixa de Patrícia, diz que ela se referia a um animador de torcida local.
Já nos bastidores, o episódio causou tensão. Os apresentadores levaram pito da direção da casa, que atribui o vídeo a uma iniciativa da concorrência, pela perda dos direitos de Parintins.
Feras radicais
‘É reality, mas não é show’, garante Maurizio Rossi, produtor do Donnavventura, um popular reality da Itália. Seis beldades começaram ontem, na Daslu, uma viagem de 100 dias de carro rumo ao Caribe. A trip será transmitida só na Itália, mas o produtor está tentando vender uma versão brasileira para alguma emissora por aqui.
Entre-linhas
O documentário 1968, Mordaça no Estadão, que revela episódios inéditos da censura sofrida pelos jornais O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde entre 1968 e 1975, quando matérias censuradas eram substituídas por versos de Os Lusíadas e por receitas de bolo, será exibido na próxima sexta-feira, dia 1.º de agosto, às 8 h na AllTV (www.alltv.com.br). Criada no Brasil há cinco anos, a AllTV é a primeira TV na internet com programação ao vivo 24 horas.
Ed Motta inaugura a temporada de participações especiais no Menu Confiança, do GNT. Após a saída de Renato Machado da mesa de Claude Troisgros, um convidado por semana, a partir de 18 de agosto, vai harmonizar vinhos com a receita do chef.
Saul Galvão, jornalista e colunista do Estado, será o segundo convidado de Troisgos para o Menu do GNT. Depois tem Jorge Lucki e a sommelier da Enoteca Fasano Paula Arruga.
Make up infeliz em A Favorita: para evidenciar a má fase de Donatela, anularam aquele efeito de escova permanente na até então impecável cabeleira de Cláudia Raia. Não convence.
Por falar na Favorita, a novela vai cativando ibope sem trair a sinopse original. O capítulo de anteontem bateu nos 41 pontos de média, com 59% de participação entre o total de TVs ligadas.
Recorde em Pantanal, também na noite de terça-feira, com 18 pontos de média. É o melhor resultado até aqui da reprise no SBT.’
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Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 31 de julho de 2008
GIL PEDE PARA SAIR
Após licença, Gil volta ao país e pede demissão da Cultura
‘Dizendo ter ‘cumprido um ciclo’, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, anunciou no final da tarde de ontem seu afastamento do governo federal, após reunião de uma hora no gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele alegou temer que o equilíbrio entre o ‘artista’ e o homem de Estado pudesse ‘ficar crítico’.
Numa entrevista de 21 minutos em que mesclou frases saudosas e elogios ao presidente Lula, Gil anunciou o próprio substituto. Ele disse que Juca Ferreira, hoje secretário-executivo, assumirá a pasta, o que não foi confirmado oficialmente pelo Palácio do Planalto até o fechamento desta edição.
É a terceira vez que o ministro pede para deixar o cargo -nas outras duas, foi convencido pelo presidente a ficar. ‘Eu disse a Lula que estava dois a zero para ele. Hoje, eu fiz um gol’, afirmou, após cinco anos e meio à frente do ministério.
Cantor e compositor, ele vinha sendo criticado por supostamente negligenciar o ministério em favor da música.
Ontem, Gil negou ter ficado incomodado com as cobranças, mas reconheceu que a ‘dose inicial’ de 80% de dedicação ao ministério e 20% aos projetos pessoais não vinha sendo cumprida. ‘Essa proporção foi se desequilibrando um pouco, mas não foi nada absurdo’, afirmou o ministro, que neste ano tirou os 30 dias regulares de férias e outros 40 dias de licença.
Gil voltou ao Brasil no dia 27 de uma temporada de shows na Europa e nos Estados Unidos. Ele está em fase de lançamento de um novo projeto, intitulado ‘Banda Larga’.
Ao fazer um balanço de sua gestão, a única crítica a ele mesmo e a Lula foi não ter conseguido um orçamento ‘mais generoso’ do Ministério da Cultura. ‘As dificuldades todas com as contas governamentais, o superávit e essas coisas todas que são conhecidas de todo mundo fizeram com que não atingíssemos a meta de 1% [do Orçamento Geral da União] que era o desejado por nós e o recomendado pela Unesco.’
Gil teve atritos fortes com produtores e artistas durante sua gestão. Ao propor a criação da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual), em 2003, foi acusado de querer interferir na liberdade de expressão. A idéia acabou arquivada pelo governo.
Por não reformar a Lei Rouanet, como prometia desde que assumiu, recebeu críticas duras de artistas como Paulo Autran e Marco Nanini. Estes, como outros colegas, também atacaram Gil por dedicar parte de seu tempo à carreira de músico. O fato de ter criado programas como os Pontos de Cultura e organizado os editais de patrocínio público não foi suficiente para reduzir essas críticas.
‘Refazenda’
Para Gil, ‘Refazenda’ é a música que simboliza seu ciclo na gestão petista. ‘O governo do presidente Lula significa uma refazenda extraordinária do país. Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão…’, disse, declamando trechos da canção.
Ele mesmo explicou: ‘O governo do presidente Lula teve esta capacidade de fazer o país compreender o processo da transmutação permanente que se deve fazer da vida, com todos os instrumentos, inclusive os da política, da gestão, da criação, do estímulo à produção, da responsabilidade gerencial (…) Refazenda é uma música que eu cederia como jingle.’
Gil negou ter sofrido pressão de Lula ou do governo para se dedicar mais ao trabalho de ministro enquanto esteve à frente do cargo.
‘Agora o presidente entendeu que eu já tenho condições de me afastar sem dificuldades maiores para ele, do ponto de vista também político como do ministério, que fica com equipe azeitada, treinada, adaptada’, afirmou.’
Silvana Arantes
Para críticos, Ferreira já era ministro de fato
‘O sociólogo baiano Juca Ferreira, 59, anunciado pelo ministro demissionário da Cultura, Gilberto Gil, como seu substituto, é secretário-executivo do MinC (Ministério da Cultura) desde a primeira gestão do governo Lula.
Ferreira se aproximou de Gil em 1988, quando o músico anunciou sua candidatura a prefeito de Salvador. O sociólogo ofereceu-se como voluntário na campanha.
Depois disso, Ferreira assumiu a direção da Fundação Onda Azul, idealizada por Gil e dedicada ao tema da defesa ecológica da água. O sociólogo é do PV (Partido Verde).
Nos bastidores do poder, críticos da atuação simultânea de Gil como ministro e artista insinuavam que Ferreira era o ministro da Cultura de fato.
Admirador de Gil, o secretário-executivo nunca incentivou nem respaldou comentários desabonadores ao ministro.
Em mais de uma conversa com a Folha, ao longo das duas gestões, Ferreira classificou sua presença no ministério como expressão da habilidade política de Gil.
Segundo Ferreira, ‘ele [o ministro] acha que um dirigente tem que saber escolher pessoas que façam um balance [equilíbrio] com suas próprias qualidades e defeitos’. O sociólogo acredita que Gil identificou em sua personalidade profissional uma ‘capacidade de execução no dia-a-dia’ que seria complementar ao seu papel como ministro, ‘de líder, escudo protetor e o aríete do ministério’.
Ontem, Ferreira retornou de viagem oficial à Bolívia, onde participou, ao lado do presidente boliviano Evo Morales, de Encontro de Intelectuais e Artistas do Mundo pela Unidade e Soberania da Bolívia.’
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Comissão de ética era mais ‘flexível’ e ‘inteligente’, diz Gil ao sair do cargo
‘As críticas à atuação simultânea de Gilberto Gil como ministro da Cultura e artista o acompanharam durante todo o governo Lula. Ontem, horas antes de anunciar seu desligamento do ministério, Gil criticou a Comissão de Ética Pública, vinculada à Presidência.
O ministro disse que apenas no início do primeiro mandato pôde ‘misturar os compromissos privados, como artista, com os oficiais [como ministro], inclusive sem ônus para o Estado, nas viagens como artista, já pagas pela própria atividade artística’, porque ‘a direção da comissão de ética era mais flexível, mais tolerante, diria talvez até mais inteligente mesmo no período anterior’. As ‘novas gestões do comitê de ética’, como o ministro as classificou, o proibiram de acumular as duas atividades, por julgar que isso ‘era incompatível’.
O presidente da Comissão de Ética Pública, Sepúlveda Pertence, não quis opinar sobre a ‘dupla função’ de Gil e fez apenas breve comentário sobre a declaração do ministro. ‘Quanto às apreciações dele sobre inteligências alheias, o juízo é dele’, disse Sepúlveda, que assumiu o cargo em fevereiro deste ano. Segundo Sepúlveda, não há nenhum caso referente a Gil em análise da Comissão de Ética no momento.
Ao longo de sua permanência no governo, Gil foi alvo de diversas consultas na Comissão de Ética. Em outubro de 2007, por exemplo, o colegiado considerou ‘impróprio’ o estabelecimento de vínculos comerciais entre Gil e o banco Itaú. O ministro autorizou o banco a utilizar uma versão modificada da música ‘Pela Internet’, de sua autoria, em uma propaganda.
Não houve punição a ele.
Olhos marejados
Citando a ‘reserva’ com que sua indicação ao ministério foi recebida no Brasil, Gil disse: ‘Um colega meu chegou a dizer que era um escárnio ter um ministro da Cultura como eu no Brasil. Não é assim, não foi assim, não tem sido assim, e eu espero que tenha sido muito importante para o Brasil e para a cultura no mundo todo, para as relações internacionais do Brasil, que um artista tenha se desempenhado com relativa facilidade [no ministério]’. Nessa hora, os olhos de Gil marejaram, e ele suspendeu a fala, para conter o choro.
O ministro teve encontro com a imprensa no Rio, pela manhã, depois de abrir seminário promovido pelo Ministério da Cultura para discutir provável reforma na legislação de direito autoral. Rouco, o ministro elevou a voz para defender a revisão da legislação brasileira sobre propriedade intelectual.
Na sua avaliação, ‘ou a sociedade brasileira discute profundamente a questão da propriedade intelectual ou daqui a dez anos estamos fora do bonde da história. Se a gente perder o bonde nessa questão, a gente estará perdendo o bonde da história em todos os campos.
Está aí a OMC [Organização Mundial do Comércio], que não me deixa mentir. Está lá tudo travado, por causa dessas questões’.
Gil tem shows no sábado, em Itaipava (RJ), e no fim de semana seguinte, em Curitiba (8 de agosto) e Florianópolis (9 de agosto). São apresentações prévias à turnê ‘Banda Larga’.
Colaborou LETÍCIA SANDER , da Sucursal de Brasília’
Luiz Fernando Vianna
Adorno de luxo do governo, Gil não fez pouco
‘Gilberto Gil teria tratado melhor sua biografia se tivesse deixado o cargo ao fim do primeiro mandato de Lula. Afetuou-se a um pedido ‘fica, Gil’, de uma ala de artistas e do presidente, e tornou-se um ministro ‘cansado do ministério’, como disse à Folha em agosto de 2007.
Nos últimos dois anos, seu lado músico reaflorou com força: ele voltou a compor, lançou um disco, incrementou sua agenda de shows… Abriu em excesso seu flanco mais vulnerável: o de ganhar dinheiro privado enquanto ocupava um cargo público, destinando cada vez menos tempo a este.
Nem a simbologia de um artista de primeiro time ocupando o ministério bastou para preservá-lo. Mas não se deve menosprezar essa simbologia. Gil deu ao cargo uma dimensão que, em duas décadas de existência, ele ainda não tivera. E espantou a poeira dos apáticos oito anos de Francisco Weffort, quando as diretrizes culturais ficaram nas mãos dos gerentes de marketing das empresas.
A maior vitória de Gil, aliás, foi avocar para o ministério a formulação dos critérios de patrocínio a serem adotados por empresas públicas -que, na gestão anterior, escolhiam os patrocinados por indicação política ou idiossincrasias. Hoje, a regra são os editais, que podem ser questionados, mas não são obscuros.
A segunda maior vitória foram os Pontos de Cultura, projeto de custo relativamente baixo (R$ 185 mil cada ponto) que permitiu, em parceria com organizações da sociedade, a chegada de internet, ilhas de edição e miniestúdios de gravação a lugares remotos do país.
O maior erro foi tocar com a barriga, ao longo de seis anos, a necessidade de reforma da Lei Rouanet, desacreditando-a por omissão e prejudicando produtores teatrais, musicais e de outras áreas. Para quem nunca conseguiu um orçamento maior do que 0,6% do PIB e foi usado como adorno de luxo pelo governo, até que Gil não fez pouco. Tivesse saído antes, teria se saído melhor.’
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REPERCUSSÃO
‘JOÃO SAYAD, secretário de Estado da Cultura de São Paulo: ‘Vou sentir falta de um ministro com tanta liderança e que fez um trabalho tão bom.’
LUIZ CARLOS BARRETO, produtor de cinema: ‘A saída é uma perda muito grande para a continuidade dos Pontos de Cultura, a coisa mais importante feita em política cultural em todos os tempos no Brasil. É pena que não deixe concluído o Vale-Cultura, que causaria grande impacto, financiando o consumo e não apenas a produção.’
JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA, diretor de teatro: ‘O Gil é um dos poucos que unem arte e a capacidade de transformar a globalização em algo bom. Estabeleceu um programa tão genial quanto a música dele. A obra dele é universal, inteiramente popular, mas não filtrada pela esquerda ou pela aristocracia rural. E sim plugada na era cyber e na cultura internacional.’
RAIMUNDO FAGNER, cantor e compositor: ‘Quando se assume cargo público não se pode dividir com outra carreira. Ele pecou por ausência. Nunca teve muita necessidade de vender discos e não sabe o que é a queda vertiginosa das vendas com pirataria, contra a qual não teve luta efetiva. Só fala na internet, e a música é importante no país. O cinema é superfinanciado, vive de investimento do governo.’
PAULO BETTI, ator: ‘Deu uma tremenda visibilidade para o ministério. Ele apontou caminhos interessantes, como a tentativa de descentralização das verbas e a implantação e o funcionamento interligado dos Pontos de Cultura. Seu mérito foi mostrar que o ministério existe e pode ser importante.’
PAULO HERKENHOFF, curador da 24ª Bienal de São Paulo: ‘Espero que o novo ministro seja capaz de retirar o escombro stalinista que permanece no ministério, a herança do José Dirceu. E atento à liberdade de expressão, porque a censura campeia. Esperava uma posição mais forte do Gil em relação a isso, mas ele sem dúvida foi um diferencial de qualidade extraordinário, fez do ministério um órgão vivo.’
DOMINGOS OLIVEIRA, cineasta e dramaturgo: ‘Não teve oportunidade de fazer muito. A cultura não é uma prioridade do governo Lula. A política teatral e cinematográfica não é inteligente; é uma política de calar a boca, de amenizar ataques, feita sem consultar o ramo. A legislação é sem imaginação. O teatro está desamparado. O Gil fez o possível, mas o possível é pouco. É preciso fazer o impossível.’
PAULO PÉLICO, diretor-secretário da Associação dos Produtores Teatrais do Estado de São Paulo:
‘Gil sempre foi uma figura carregada de simbolismo, mas vazia do ponto de vista gerencial. Enfrentamos um apagão administrativo do ministério. Foi uma gestão atritada, com erros como a tentativa de criação da Ancinav. A gestão provocou dicotomia entre Nordeste e Sudeste, em torno da concentração da produção. Até hoje se fala em reforma da Lei Rouanet e nem se sabe como será.’’
REVISTA MANCHETE
Roberto Muggiati
‘‘ACONTECEU , virou Manchete’ foi, por muitas décadas, o lema da maior revista do Brasil. Quando Bloch Editores pediu a falência em 1º/8/2000, desaparecia não só uma grande empresa jornalística mas a sua nau capitânia, que, em 48 anos de presença semanal nas bancas, marcou época e foi um reflexo do país em seus aspectos mais saudáveis e criativos.
Darcy Ribeiro, em ‘Aos Trancos e Barrancos’, resumiu admiravelmente o surgimento da revista em 1952: ‘Adolpho Bloch lança ‘Manchete’, que deslumbra o público. Na verdade, queria é desbancar o ‘Cruzeiro’ com um jornalismo fotográfico colorido, moderno, dinâmico e ousado. Desbanca’. Na verdade, ‘Manchete’ foi o fruto do casamento perfeito do empresário com o jornalista, da melhor tecnologia de impressão a serviço da inteligência dos mais talentosos redatores e fotógrafos do país.
A tragédia de Bloch Editores começou às 20h de 5/6/1983, um domingo, quando foi ao ar a Rede Manchete de Televisão. A partir daquele momento, travestido de ilusória redenção, as revistas foram relegadas a segundo plano pelo falso brilho da mídia eletrônica. Treze domingos depois, um câncer fulminante matava Justino Martins, o grande editor da ‘Manchete’ -uma morte simbólica como poucas.
A empresa familiar, tão arraigada ao ramo gráfico -Adolpho dizia que lhe corria tinta nas veias-, não se deu bem com o ramo televisivo. A grande ironia foi que a derrocada financeira da editora se deu por ter sido avalista da TV numa pequena dívida com o Banco Econômico (depois encampado pelo Banco Central). Essa dívida irrisória, que não chegava a US$ 10 mil, acabaria virando uma bola de neve de muitos e muitos milhões.
Em setembro de 1998, pela primeira vez, o salário dos funcionários da Bloch atrasou. E nunca mais foi pago.
À espera de soluções salvadoras -a TV foi vendida durante um mês para a Igreja Renascer, num negócio que não vingou-, muitos funcionários ficaram na empresa, pagos com ‘vales’ semanais que, nos melhores casos, não chegavam a um terço dos salários.
Jogados literalmente na rua quando o imponente prédio da rua do Russell foi lacrado pela Justiça, aguardam há oito anos os salários não pagos e outros direitos que lhes são devidos.
A reação inicial foi de impotência. O patrimônio da Bloch era suficiente para pagar as dívidas trabalhistas, mas havia o terror das massas falidas longevas deste país. Lembro-me bem do comentário cruel de um representante da Justiça no corredor do fórum a um grupo de ex-funcionários da Bloch: ‘A massa falida de vocês é uma criança. Massa falida boa, no Brasil, só quando chega a balzaquiana…’
Recobrando o ânimo, as vítimas do naufrágio da Bloch formaram uma comissão de ex-funcionários e passaram a atuar junto ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro. O trabalho incansável da comissão alcançou algumas vitórias: 1) pressionou a massa falida de Bloch Editores, levando-a a agir com mais força na defesa dos interesses dos ex-funcionários; 2) conseguiu o apoio da juíza responsável pelo processo, Maria da Penha Nobre Mauro Victorino, e do promotor Luiz Roldão de Freitas Gomes Filho; 3) com isso, ocorreu algo inédito na Justiça trabalhista do Rio: os ex-funcionários habilitados na massa falida receberam duas parcelas de R$ 5.000 dos seus débitos trabalhistas. Pela primeira vez, esses deserdados começavam a acreditar que o processo chegaria sem muita demora a um bom termo.
Uma terceira parcela, de R$ 3.000, começou a ser paga, mas só poucos receberam. O pagamento foi suspenso pela 3ª Câmara Cível, que acatou embargo da União reivindicando a prioridade da Receita nos débitos da ex-Bloch. (O triste nessa história é que o Imposto de Renda foi recolhido dos empregados, mas não foi repassado pela empresa à Receita.) Uma das justificativas do embargo é que, pela nova Lei de Falência, de 2005, os direitos trabalhistas não seriam mais soberanos. Mas a falência da Bloch é de 2000, o que assegura a prioridade total aos créditos trabalhistas.
A decisão da 3ª Câmara Cível gerou nova onda de intranqüilidade. Como escreveu Pedro Porfírio em sua coluna na ‘Tribuna da Imprensa’ de 28/7, ‘(…) pilares elementares de suas normas foram pelos ares, ante a leitura de um desembargador que desfez decisão de primeira instância e desconheceu a primazia do credor trabalhista, em benefício da dívida tributária, embora lidasse com coisa julgada’.
O desassossego voltou a castigar as 2.000 famílias dos ex-funcionários da Bloch -ao todo, 6.000 pessoas que integram há anos a massa dos excluídos deste país, convivendo (até quando?) com a doença, a indigência e, em muitos casos, sem exagero, a fome.
É o caso de indagar, uma vez mais, quase num brado de desespero: podemos ainda contar com a Justiça neste país?
ROBERTO MUGGIATI é jornalista profissional há 54 anos, 33 dos quais passados em Bloch Editores. Foi editor-chefe da revista ‘Manchete’ durante 22 anos.’
MÍDIA & POLÍTICA
Debate na Band reúne hoje oito candidatos
‘Os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo buscaram na administração do adversário munição para o debate de hoje, na Band. A ex-prefeita Marta Suplicy (PT), o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) se enfrentam, em debate, às 22h, pela primeira vez nesta campanha.
Como todos têm experiência administrativa, os candidatos se armaram para um confronto de números. A expectativa está na participação de Kassab -novato em matéria de debate e atrás nas pesquisas- e do intempestivo Maluf.
Kassab, que terá três tucanos entre seus convidados, consultou ontem assessores sobre as regras do programa. Para a noite, a disposição é comparar sua administração com a dos antecessores, questionando por que não apresentam um mesmo portfólio de obras.
Em uma campanha que começou mal, a recomendação é que não seja agressivo. Seu desafio está em se credenciar como anti-Marta sem permitir que Alckmin fique incólume.
Os petistas também temem que o tucano seja o beneficiário de uma polarização com o democrata. Marta passou o dia em reunião com seu marqueteiro, João Santana, e assessores, comparando números de sua gestão com os dos adversários. Ela deve destacar que, quando assumiu a prefeitura, em 2001, os cofres municipais sofriam por causa da estagnação econômica do país, na era FHC. E, a partir daí, estabelecer relação com o governo Lula.
Segundo integrantes da coordenação de campanha petista, será um debate de estudo dos adversários, no qual ‘cautela’ é a palavra de ordem. A apreensão dos auxiliares de Marta está na participação de Kassab e de Maluf. Eles acham que a dupla deve concentrar os ataques à administração petista. Nesse caso, haverá um esforço para que Marta não polemize com Kassab, o que deixaria Alckmin, seu principal oponente, em situação confortável.
Alckmin, por sua vez, iniciou ontem sua preparação para o debate. A proposta é fugir de confrontos, especialmente com Kassab, considerado um potencial aliado num segundo turno.
O tucano tentará utilizar seu tempo para mostrar realizações de sua gestão no Estado (2001-2006). Quando confrontado com o prefeito, afirmará que ‘olhará para frente’ mas sem deixar de apontar o que considera deficitário na prefeitura. Na mira, trânsito e saúde.
Do lado de Kassab estará um ex-colaborador de Alckmin, o jornalista Luiz Gonzalez. ‘Se ele conhece bem o Geraldo, o Geraldo também conhece bem ele’, diz um dos coordenadores da campanha tucana sobre o reencontro.
Oito candidatos participarão do debate, que começa às 22h e termina à 0h30. Nos blocos destinados à troca de perguntas, será exibida a imagem dos dois adversários. Eles terão direito a réplica e tréplica.’
TODA MÍDIA
China e a culpa
‘O ‘China Daily’ de papel culpou primeiro os ‘países ricos’, citando seu ministro Chen Deming. Mas o site do ‘China Daily’ culpou depois ‘a inabilidade de dois países’, também citando Chen -que não identificou os países, mas o jornal apontou logo EUA e Índia.
O jogo de cena não convenceu o ‘New York Times’, que adiantou ontem no alto da home page, com foto, a longa reportagem ‘Negociações comerciais se romperam com mudança chinesa quanto aos alimentos’. Foi uma reviravolta ‘brusca’, que teria levado a China abandonar a sua defesa histórica do livre comércio.
AOS ACORDOS BILATERAIS
Na Folha Online, ‘Lula culpa política interna de EUA e Índia’ pelo colapso. Nas agências financeiras, ecoou sua previsão de que um acordo pode sair após as eleições americanas e indianas. Mas na manchete da Reuters Brasil, ‘Sem Doha, Lula diz que saída são acordos bilaterais’.
Em editorial, o ‘Financial Times’ concorda e até aconselha a Organização Mundial do Comércio a priorizar agora o respeito às regras multilaterais nos acordos bilaterais. Como Lula também, defende manter o que for possível dos avanços deste verão. Mas sugere enterrar o resto.
BOM?
Raymond Colitt, na Reuters, avalia que o colapso ‘torna mais lenta a ascensão do Brasil no palco global’. Mas vídeo da mesma Reuters diz que ‘pode ser bom para o Brasil’, que passaria a ‘liderar uma nova política para o comércio’ global
ESPERANÇA
Saiu na primeira página de ontem do ‘International Herald Tribune’, que o ‘NYT’ edita na Europa e agora também na Ásia, com fotos da ‘emergente classe média’ brasileira no Rio e em Fortaleza e sob o enunciado ‘Em meio à melancolia global, o Brasil transborda de esperança’.
E ontem a home do ‘NYT’ adiantou a mesma longa reportagem do correspondente Alexei Barrionuevo, que deve ser publicada hoje sob o título ‘Brasil cresce enquanto economias maiores se debatem’. Enviado ao Nordeste, conta histórias de empreendedores como Maria Benedita Souza, que cinco anos atrás obteve um microcrédito para comprar duas máquinas de costura e hoje emprega 25 pessoas. Destaca o jornal que ‘muitas famílias ultrapassaram a distância até a classe média usando Bolsa Família’.
‘OOPS, HE DID IT AGAIN’
Huffington Post, Drudge, Politico, Talking Points Memo -os sites eleitorais não seguraram o humor diante do novo comercial de John McCain, que chama Barack Obama de celebridade e mistura petróleo com Britney Spears e Paris Hilton (acima). O HuffPost ouviu a ‘campanha’ da cantora, que não quis ‘envolver Britney em política presidencial’. O Politico deu a piada da campanha democrata, que criticou o novo comercial negativo dizendo, como no ‘hit’ da cantora, ‘Oops, he did it again’, ele fez de novo.
Fim do dia e a ‘Atlantic’ ouviu de John Weaver, principal assessor e amigo de McCain até meses atrás, que o comercial evidencia uma estratégia ‘infantil’, que ‘diminui John’. Por fim, ‘essa tolice [tomfoolery] tem que parar’.
‘NYT’ VS. MCCAIN
Em editorial, o ‘NYT’ critica McCain por adotar a equipe e o ‘manual de incivilidade de Karl Rove’ em sua campanha. Chamou o comercial que apontou o suposto desprezo de Obama por soldados feridos de ‘falso’. Com a campanha, diz, o republicano confirma ser ‘uma extensão’ do ‘desastroso’ George W. Bush.
‘WP’ VS. MCCAIN
Em longa reportagem iniciada na primeira página, sob o título ‘Acusação de McCain contra Obama não tem prova’, o ‘Washington Post’ não fica atrás e, até com mais destaque, questiona o republicano ‘e seus aliados’ por espalharem no comercial e em entrevistas de TV que Obama ‘desprezou soldados feridos’.’
TELECOMUNICAÇÕES
‘Supertele é o grupo Telmex’, afirma a Oi
‘As críticas da Embratel à compra da Brasil Telecom pela Oi provocaram violenta reação por parte da direção da Oi. Em entrevista à Folha, o presidente do grupo, Luiz Eduardo Falco, 48, incitou o concorrente a comprovar que a compra vá concentrar o mercado de telecomunicações. ‘Não vamos comprar a BrT para ter monopólio da telefonia fixa. A telefonia fixa está acabando. Ela é importante como plataforma para prestação de outros serviços, estes, sim, em crescimento’, declarou. Segundo Falco, com a aquisição, a Oi será a quarta operadora de telefonia celular de cobertura nacional e terá o segundo backbone [sistema integrado que permite troca de informações entre diferentes tipos e fluxos de dados, como voz, imagem e texto] nacional para transmissão de dados. ‘Isso é que bate no dedinho da Embratel. Até agora, ela reinou absoluta neste mercado.’
FOLHA – Em documento entregue ao Ministério da Fazenda, a Embratel diz que a compra da Oi pela BrT eliminará um competidor (BrT) e pede medidas do governo para estimular a competição no mercado.
LUIZ EDUARDO FALCO – Suponho que as mesmas que a Telmex [controladora da Embratel] adotou no México, onde detém 92% de todas as linhas fixas e 73% dos celulares. As telecomunicações são um jogo global, e haverá lugar para alguns países que quiserem disputar o jogo. O Brasil deve decidir se quer participar ou não.
FOLHA – Estudo recente divulgado pela Telcomp (entidade que representa a Embratel e outras operadoras) diz que os preços dos serviços de telecomunicações aumentaram 12,2% no Brasil, nesta década, enquanto houve queda de 31% nos Estados Unidos e de 33,8% na União Européia. Por que os preços não caem aqui?
FALCO – A infra-estrutura de banda larga ainda está sendo construída no Brasil. Estamos em fase de investimento e, por isso, os preços não caíram. Enquanto a infra-estrutura não estiver pronta, não adianta vir com o papo de repartir o fruto dos investimentos. Os pequenos que investem também não querem repartir.
FOLHA – Nos EUA, existe competição efetiva entre as TVs a cabo e as companhias telefônicas. Aqui, as teles estão engolindo as TVs a cabo.
FALCO – Não concordo. Nas praças em que está implantada, a Net tem mais assinantes de banda larga [60% do mercado] do que as teles fixas, segundo a Anatel. A competição é bravíssima. A Embratel não é uma empresa de telefonia. É parte de um grupo mexicano que atua com várias plataformas tecnológicas no Brasil: TV a cabo, celular, telefonia fixa sem fio, rede de dados etc. A rede da Net é concentrada nas regiões metropolitanas de alto poder aquisitivo, enquanto a Oi é obrigada a atender Piripiri [Piauí]. A Embratel reclama que a Oi tem 100% do mercado em Piripiri. Por que ela não vai concorrer lá com a gente?
FOLHA – Como responde à crítica de que a Oi terá monopólio da telefonia fixa na maior parte do país?
FALCO – Não vamos comprar a BrT para ter monopólio da telefonia fixa. A telefonia fixa está acabando. Ela é importante como plataforma para prestação de outros serviços, estes, sim, em crescimento. A compra da BrT dará à Oi um ‘backbone’ nacional para transmissão de dados e isso é que bate no dedinho da Embratel. Até agora, ela reinou nesse mercado. Será o segundo ‘backbone’ nacional.
FOLHA – A negociação também é criticada por envolver recursos públicos (empréstimos do Banco do Brasil e do BNDES) e porque a legislação será alterada para viabilizar um negócio privado. Tais críticas podem inviabilizar a operação?
FALCO – Não vejo essa ameaça. A BrT será comprada pela Oi sem um centavo de dinheiro público. O Banco do Brasil é um banco comercial. Dizer que é dinheiro público por ser um banco de controle estatal é forçar a barra. Os bancos Itaú, Santander, Bradesco e Real também participarão do financiamento, porque são bancos grandes e o negócio envolve bilhões. Por que não usaríamos o Banco do Brasil? Ele não tem lepra. Não teremos moleza no BNDES. Ele atuará como banco e como empresa de participações. Venderá parte de suas ações na Oi nas mesmas condições dos demais controladores que estão saindo do negócio. O tiroteio não tem sentido.
FOLHA – A prisão de Daniel Dantas (acionista da BrT e da Oi) e as investigações da Polícia Federal na operação Satiagraha podem complicar o negócio?
FALCO – Os contratos já foram assinados. Acho que a investigação da PF não ameaça em nada o negócio.
FOLHA – A Embratel diz que a Oi ficaria presente em 97% do território.
FALCO – Esse é um número fake [falso], um mito. A nova Oi terá 30% dos acessos do Brasil, somando-se telefonia fixa, móvel, banda larga. Supertele é o grupo Telmex.’
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Embratel diz que apenas fez análise técnica
‘Em nota divulgada no final da tarde de ontem, a Embratel disse que não foi contra a compra da BrT pela Oi no documento enviado à Secretaria de Acompanhamento Econômico), do Ministério da Fazenda. Disse que apresentou apenas uma ‘análise técnica’ e que seu intuito foi o de contribuir para que os efeitos da operação sejam benéficos aos consumidores e à sociedade em geral. Na nota, disse ter contribuído, ‘positiva e democraticamente’, nas análises da operação e que o fez amparada pela legislação. Disse ainda que as informações foram dadas a pedido da secretaria, que lhe solicitou opinião e informações sobre os efeitos concorrenciais da BrT-Oi.’
TELEVISÃO
Record e Televisa serão sócias em ‘Betty’
‘A parceria que a Record negocia com a rede mexicana Televisa prevê uma sociedade entre as duas emissoras nas novelas que vierem a ser produzidas. Se fecharem o acordo, que já estaria apalavrado, Record e Televisa dividirão ao meio os custos de produção das novelas, a serem gravadas no Brasil. Os primeiros recursos que a Record faturar irão para a Televisa cobrir seu investimento. Depois, serão descontados os custos comerciais, financeiros e impostos. O que sobrar será dividido entre as duas TVs.
A parceria deverá durar no mínimo um ano e até três, com renovação. Deverá prever também o direito de a Record romper o acordo caso as novelas não atinjam no mínimo 12 pontos na Grande São Paulo.
A Record pretende produzir um único texto do acervo da Televisa por vez. O primeiro da lista é ‘Betty, a Feia’, original colombiano já exibido no Brasil pela Rede TV!. Diferentemente do falido acordo da Televisa com o SBT, a Record quer total autonomia para escolher e adaptar os textos, escalar elenco e definir linhas artísticas e padrões de qualidade. Assim, ‘Betty, a Feia’ deverá ser ambientada no Rio de Janeiro.
A estréia de ‘Betty’, caso a parceria se concretize nos próximos dias, deverá ocorrer em março de 2009. A idéia dos executivos da Record é exibir as adaptações da sócia mexicana sempre às 19h, em seu terceiro horário de telenovelas.
BATE-PAPO VIP 1
O cineasta e escritor norte-americano David Lynch, do filme ‘Veludo Azul’ (1986) e da série de TV ‘Twin Peaks’ (1990), participará de um bate-papo com cerca de 300 profissionais da Globo, em um estúdio do Projac, no próximo dia 4. O encontro será mediado pelo jornalista Renato Machado.
BATE-PAPO VIP 2
Toda a elite da criação e da produção da Globo (autores, roteiristas e diretores de novelas e programas) foi convidada. Lynch vem ao Brasil para lançar um livro sobre meditação.
CHAMA APAGADA
Depois de um começo empolgante, com média de 17 pontos, a novela ‘Chamas da Vida’, da Record, está apagando no Ibope. Na última segunda-feira, deu só 12 pontos.
ESCORREGADA 1
A novela ‘A Favorita’ tem abusado da tolerância do telespectador. Segunda, Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia) disse a Donatella (Claudia Raia) que seria ‘quase impossível alguém provar alguma coisa [contra ela] quase 20 anos depois [do assassinato de Marcelo]’.
ESCORREGADA 2
Na cena seguinte, Glória Menezes comentou que ‘depois de amanhã’ faria ‘18 anos que Marcelo morreu’. Em novela policial, isso faz diferença.
CENÁRIO
A Globo voltou ontem a gravar ‘A Favorita’ em SP. Isso deve reduzir as externas gravadas no Rio em planos fechadíssimos. Mas Mariana Ximenes continuará freqüentado a UFRJ. A Globo diz que a arquitetura é parecida com a da USP.’
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