Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O julgamento de Kissinger

HARPER’S
O julgamento de Kissinger
Leitores da revista americana Harper’s puderam degustar uma série de duas reportagens, num total de 40 mil palavras, de autoria do jornalista Christopher Hitchens, quase uma acusação a Henry Kissinger, o Metternich dos novos tempos, que direcionou a política americana desde o final da Era Vietnã até o governo Ford.
Hitchens leva o caso contra Kissinger a fundo, afirmando nas edições de fevereiro e março da Harper’s que o ex-secretário de Estado e ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional deveria ser visto como criminoso de guerra, por decisões de política internacional ilegais. A série de reportagens, na opinião de Reed Johnson [The Los Angeles Times, 27/2/01], é uma anomalia no jornalismo americano contemporâneo.
Entre as acusações estão a expansão da Guerra da Indochina; o seqüestro e o homicídio de um militar chileno durante eventos que culminariam no assassinato de Salvador Allende e na ascensão do general Pinochet; invasão organizada pela Indonésia no Timor Leste em 1975, entre outras.
Em cada caso, diz Hitchens, Kissinger sabia, deveria saber e/ou participou ativamente dos eventos.
Lewis Lapham, editor da Harper’s, diz que a seriedade das acusações garantiu à reportagem de Hitchens tratamento de livro, apesar de discorrer sobre eventos ocorridos há 25 anos ou mais. As séries serão publicadas em formato de livro, O Julgamento de Henry Kissinger, pela editora Verso, neste outono.
"O estudo da história é feito para defender o futuro contra o passado", afirma Lapham. "O que estamos denunciando é um sistema e uma forma de pensar arrogante, antidemocrática e arbitrária."
Conhecido por suas tendências políticas de esquerda e seu estilo prosaico, elegante e birrento ao mesmo tempo, o britânico Hitchens tem um talento especial para levantar poeiras sagradas e bem assentadas. Prolífico repórter, ensaísta e crítico, escreveu livros sobre os curdos iraquianos, por exemplo, e contribui regularmente para jornais como o LA Times – o qual também publica colunas de Kissinger.
Enquanto as séries não despertam a urgência de uma investigação profunda no Senado, Harper’s está desaparecendo rapidamente das bancas.
E apesar do silêncio de Kissinger sobre as acusações, outros tomaram suas dores.
John O’Sullivan, que escreve na conservadora National Review, descreve as denúncias de Hitchens como "nada além de um resgate da nostalgia esquerdista dos tempos antivietnamitas". Por sua vez, Peter Carlson, jornalista do Washington Post, interveio com um pedido irônico. "Deixem o pobre Henry em paz. Ele é extremamente encantador em jantares. Ressuscitar essas histórias antigas é algo desalinhado demais."

OMBUDSMAN
O superego do Post

MONITOR DA IMPRENSA

HARPER?S

Leitores da revista americana Harper?s puderam degustar uma série de duas reportagens, num total de 40 mil palavras, de autoria do jornalista Christopher Hitchens, quase uma acusação a Henry Kissinger, o Metternich dos novos tempos, que direcionou a política americana desde o final da Era Vietnã até o governo Ford.

Hitchens leva o caso contra Kissinger a fundo, afirmando nas edições de fevereiro e março da Harper?s que o ex-secretário de Estado e ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional deveria ser visto como criminoso de guerra, por decisões de política internacional ilegais. A série de reportagens, na opinião de Reed Johnson [The Los Angeles Times, 27/2/01], é uma anomalia no jornalismo americano contemporâneo.

Entre as acusações estão a expansão da Guerra da Indochina; o seqüestro e o homicídio de um militar chileno durante eventos que culminariam no assassinato de Salvador Allende e na ascensão do general Pinochet; invasão organizada pela Indonésia no Timor Leste em 1975, entre outras.

Em cada caso, diz Hitchens, Kissinger sabia, deveria saber e/ou participou ativamente dos eventos.

Lewis Lapham, editor da Harper?s, diz que a seriedade das acusações garantiu à reportagem de Hitchens tratamento de livro, apesar de discorrer sobre eventos ocorridos há 25 anos ou mais. As séries serão publicadas em formato de livro, O Julgamento de Henry Kissinger, pela editora Verso, neste outono.

"O estudo da história é feito para defender o futuro contra o passado", afirma Lapham. "O que estamos denunciando é um sistema e uma forma de pensar arrogante, antidemocrática e arbitrária."

Conhecido por suas tendências políticas de esquerda e seu estilo prosaico, elegante e birrento ao mesmo tempo, o britânico Hitchens tem um talento especial para levantar poeiras sagradas e bem assentadas. Prolífico repórter, ensaísta e crítico, escreveu livros sobre os curdos iraquianos, por exemplo, e contribui regularmente para jornais como o LA Times ? o qual também publica colunas de Kissinger.

Enquanto as séries não despertam a urgência de uma investigação profunda no Senado, Harper?s está desaparecendo rapidamente das bancas.

E apesar do silêncio de Kissinger sobre as acusações, outros tomaram suas dores.

John O?Sullivan, que escreve na conservadora National Review, descreve as denúncias de Hitchens como "nada além de um resgate da nostalgia esquerdista dos tempos antivietnamitas". Por sua vez, Peter Carlson, jornalista do Washington Post, interveio com um pedido irônico. "Deixem o pobre Henry em paz. Ele é extremamente encantador em jantares. Ressuscitar essas histórias antigas é algo desalinhado demais."

OMBUDSMAN

As avaliações de Michael Getler sobre a cobertura do Washington Post entram o tempo todo ao programa de correio eletrônico do jornal, tirando a atenção dos jornalistas do trabalho. Suas críticas sobre o Post são arremessadas como granadas na coluna Outlook, publicada aos domingos, afirma Felicity Barringer [The New York Times, 26/2/01].

Getler é ombudsman do Post, um dos 40 defensores de leitores trabalhando em jornais americanos. Há três meses no cargo, algumas vezes enfureceu a equipe do jornal como poucos dos seus 12 predecessores o fizeram.

Em mais de uma dúzia de colunas, Getler questionou a missão editorial do Post e destacou a abordagem falha na redação. Desta forma, desafiou uma nova geração de editores que empurram o jornal para colunas e fazem longo jornalismo interpretativo e têm postura de trabalho.

Getler enviava e-mails com críticas a toda a redação às sextas-feiras, e causavam tanto rebuliço e distração que ameaçaram interferir nos prazos das editorias do fim de semana. Agora, são enviados nas tardes de quinta-feira ou nas manhãs de sexta.

Leonard Downie Jr., editor-executivo do Post, disse que "porque as pessoas conhecem Mike tão bem e o respeitam tanto qualquer crítica vinda dele soa diferente da crítica de qualquer outra pessoa." É difícil ignorar as opiniões desse ex-vice-diretor de redação e atual editor do International Herald Tribune. Sua perspectiva formou-se por 26 anos no Post e 40 no jornalismo.

Getler dedica grande parte de seus e-mails a elogiar repórteres quando dão furos, escrevem artigos muito lidos ou exercem um belo trabalho interpretativo. Getler tem 65 anos, nasceu no Bronx, mas em suas divagações jornalísticas tornou-se um cidadão do Post, em cuja equipe ingressou em 1970. Getler, afirmou Downie, "é um jornalista excelente de padrões extremamente altos". "Ao mesmo tempo", disse, "o jornalismo impresso, como tudo, está mudando rapidamente. Não me surpreenderia se essas mudanças trouxessem a Getler desconforto e surpresas". Mas acrescentou: "Precisamos ouvi-lo".