Nas últimas semanas voltou a figurar na mídia um físico inglês que ficou famoso por seus livros de divulgação científica (Uma breve história do tempo e O universo numa casca de noz), pelas suas teorias dos buracos negros e por sofrer de uma doença degenerativa, a esclerose lateral amiotrófica, que o confinou a uma cadeira de rodas e o obriga a falar através de aparelhos. Mesmo antes do pronunciamento do físico já se alardeava que sua participação teria por motivo uma correção de cálculos em sua teoria dos buracos negros. No dia 21 de julho o físico apareceu numa reunião internacional de astrofísicos em Dublin, correspondendo às expectativas gerais e confessando seu erro.
Aparentemente, a revisão apresentada pelo físico acaba com o chamado paradoxo dos buracos negros, algo que atormentava os físicos desde a proposição da teoria. Para onde iria a matéria e a energia absorvidas pelo buraco negro? O próprio Hawking propôs que elas viajariam a um universo paralelo e não poderiam mais retornar. Com sua correção passa-se a entender que matéria e energia não se perdem, ficam retidas ali e, eventualmente, são novamente liberadas com a morte do buraco negro.
É isso que assusta
Em que isso muda nossa vida? Muito pouco. Porém apresenta uma característica fundamental da ciência, sua auto-correção e renovação. O grande destaque que a mídia tem dado a esse ocorrido é o de mostrar que um cientista, pasmem, errou!!! Muitos dos veículos que veicularam a matéria enfocaram o erro do cientista, inclusive com ares de repreensão. Contudo, a ciência só caminha com erros e suas correções, certezas absolutas pertencem ao ramo das crendices, não da ciência!
Bravo! Mr Hawking, é dessa paz de espírito em reconhecer um erro que precisamos. Ele não deve ser visto como alguém que errou, mas alguém que contribuiu para o avanço científico assumindo o erro e encarando as novas evidências que isso traz. Poços de conhecimento e detentores da verdade devem ser vistos com desconfiança. Não existem tais pessoas, existem charlatões. É isso que assusta nos ares de ‘assumidade no assunto’ que alguns professores detêm.
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Mestre, Instituto de Biociências, USP, São Paulo