MONITOR DA IMPRENSA
COMPRA DA UPI
A agência de notícias americana United Press International (UPI) tem um novo dono: o reverendo Sun Myung Moon, proprietário da News World. O que poderia ser a grande chance financeira da UPI, de acordo com Eve Gerber (Brill?s Content, 29/3/01), pode ser também seu maior obstáculo para a volta aos tempos áureos de agência internacional hegemônica.
Fundada em 1907, a tradicional agência começou a declinar logo após o surgimento da televisão. Em 1961 já operava no vermelho e chegou a ser vendida por 1 dólar, em 1982. Durante as tantas trocas de proprietário que se seguiram, a UPI perdeu seus maiores clientes ? The New York Times e Chicago Tribune ? e quase foi à falência. Em 1999, um grupo da Arábia Saudita, então proprietário, contratou o jornalista Arnaud De Borchgrave para salvar a empresa.
De Borchgrave havia sido editor-chefe do Washington Times, do reverendo Moon, de 1985 a 1991, e o responsável pelo tom conservador do jornal. Quando recebeu a proposta da News World, concluiu que a venda seria a única saída para a UPI, mas garantiu que essa era sua última tacada na agência.
Depois de provocar significativas mudanças dentro da companhia, De Borchgrave renunciou em dezembro do ano passado e no seu lugar ficou Douglas Joo, CEO da News World. A entrada do novo chefe, não-jornalista e membro da seita que dirige uma companhia fundada para ajudar na propagação da visão religiosa do reverendo Moon, preocupou ainda mais aqueles que temiam o futuro da independência editorial da UPI ? e que haviam protestado contra sua venda para a News World. O grupo religioso liderado por Moon ? cujo nome oficial é Family Church ? é considerado nos Estados Unidos uma espécie de culto que promove a lavagem cerebral de jovens.
Um especialista nesse tipo de organização religiosa, Steven Hassan, disse à revista Brill?s Content que Moon começou seu império mediático para ganhar poder, e membros de sua igreja reconhecem que parte dessa missão é espalhar sua ideologia.
Os investimentos da News World já estão trazendo retorno à UPI. Só não se sabe quanto isso custará no futuro à reputação e independência da agência.
ÍNDIA
A Índia viveu seu primeiro escândalo na TV. Cidadãos horrorizados assistiram a fitas gravadas por câmeras escondidas e incriminadoras. Milhões de pessoas sintonizaram nas quatro horas e meia de videoteipe transmitidas em horário nobre até domingo da semana retrasada. O país acompanhou diálogos banais e engreçados de corruptores, oficiais do exército e políticos, ansiosos pelo dinheiro oferecido por jornalistas disfarçados de empreiteiros suspeitos.
Celia W. Dugger [The New York Times, 24/3/01] afirma que, até 23 de março, o escândalo levou à demissão do ministro de Segurança e de Bangaru Laxman, presidente do partido do governo, além de ter deteriorado a reputação do primeiro-ministro Atal Behari Vajpayee e enfraquecido a coalizão do governo.
A confusão foi resultado de uma operação conduzida por jornalistas da revista eletrônica Tehelka.com para desvelar negociações insólitas do exército e de líderes políticos. A revista vendeu direitos de transmissão das fitas aos 15 canais da Zee, emissora de TV privada sintonizada por 30 milhões de lares. As imagens imobilizaram o Parlamento indiano. A oposição exigiu justiça com as mãos levantadas, chamando o primeiro-ministro e seus homens de ladrões e gritando por sua renúncia.
Laxman pediu demissão em 13 de março, quando surgiu a primeira reportagem revelando os subornos. Confortavelmente encostado em seu sofá, admitiu com estranha alegria que as cenas que mostravam sua atitude corrupta estavam corretas. Segundo ele, todo partido político faz dinheiro a partir de "homens de negócio", e ele estava apenas seguindo a tradição. Analistas políticos concordam. O sistema político da Índia está inundado de dinheiro, grande parte composta pelo chamado dinheiro sujo.
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