Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Benicio, o mestre dos cartazes

[do release da editora]

Boa parte dos mais importantes filmes brasileiros realizados entre 1968 e 1985 – cerca de 300 – teve o cartaz criado num estúdio no Rio de Janeiro por um artista gaúcho, o discreto José Luís Benicio da Fonseca, ou apenas Benicio. Chegou a fazer mais de trinta por ano. A lista vai de A Madona de Cedro, Independência ou Morte e O Casamento ao mega-sucesso Dona Flor e Seus Dois Maridos, até o recente Pelé Eterno.

Benicio produziu também os pôsteres de todos os filmes de Os Trapalhões feitos de 1974 a 1991. Precisamente, fez 31. Mas foi no gênero pornochanchada que mais atuou e acabou por se tornar o ícone de uma época e de uma geração. Não é possível relembrar as décadas de 1970 e 1980 sem vir à mente atrizes voluptuosas, de olhos grandes, lábios carnudos, curvas de violão e decotes generosos dessas comédias que ele soube representar com seu talento único. Mais de duas centenas de cartazes dessas produções saíram de sua prancheta.

O cinema, no entanto, não foi a única faceta desse versátil mestre das artes gráficas que alguns consideram o maior ilustrador brasileiro de todos os tempos e aquele que desenha mulheres sensuais e elegantes como nenhum outro. Seu nome faz parte da história da publicidade brasileira com um destaque ainda não mensurado. Ele passou pelas mais importantes agências do país – McCann Erickson, Denison e Artplan, entre outras – e ilustrou marcas fortes como Coca-Cola, Esso, Banco do Brasil e Rock in Rio.

Coube a Benicio dar cara também a um outro formato de comunicação popular, os livros de bolso, descartáveis, vendidos em bancas de jornal. Para a mítica editora Monterrey, onde estreou em 1963, fez mais de duas mil capas – boa parte da heroína Brigitte Montfort, a espiã americana que teve cerca de 1,5 mil volumes publicados em quatro décadas e se tornou um fenômeno único no mercado editorial brasileiro.

Neste perfil biográfico, Benicio é revelado com pessoa e artista. Quem poderia imaginar, por exemplo, que ele foi um genial pianista cuja promissora carreira acabou abortada na década de 1950 para que pudesse se dedicar ao desenho? O livro conta ainda como, após a infância difícil em Porto Alegre, ele começou na editora carioca RGE (Rio Gráfica e Editora), de Roberto Marinho, onde se destacou como capista de revistas femininas (Cinderela e Contos de Amor), de cinema (Filmelândia) e rádio (Radiolândia). Até entrar no mundo da publicidade, da literatura e do cinema.

Aos 70 anos, completados em 2006, Benicio continua inquieto, perfeccionista, perfeito. Ele prossegue em seus experimentos de traço e, o melhor de tudo, com muita sensualidade, sem abrir mão das curvas das mulheres que cria como se fosse Deus.

O autor

Gonçalo Junior é jornalista e vive em São Paulo desde 1997. Escreveu os livros País da TV (Conrad, 2001), Alceu Penna e as garotas do Brasil (CLUQ – Clube dos Quadrinhos, 2004), A guerra dos gibis (Companhia das Letras, 2004), Tentação à italiana (Opera Graphica, 2005) e O Homem-Abril (Opera Graphica, 2005). Como roteirista, criou Claustrofobia (Devir, 2004), ilustrado por Júlio Shimamoto.