ASPAS
POL?MICA
"Velhacarias: o chocalho de Sansão", copyright Jornal do Brasil, 7/4/01
"Quando comparei ACM com Sansão – aquele que se imagina imbatível e acaba soterrado pela insanidade – estava claro que o pseudo Tarzã, depois de bater no peito oco, acabaria esborrachado no chão quando Jane lhe mandasse o primeiro cipó (artigos de 3/3 e 10/3).
Engajados na faina de recuperar e revitalizar o idioma, por obra e graças ao deputado-jornalista Aldo Rebelo (PC do B-SP), cai-nos do céu a valiosa contribuição do lingüista ou linguagista Antônio Carlos Magalhães (carta nesta edição).
Ao aceitar, honrado, uma das acepções do adjetivo velhaco, o senador ACM revela o estado deplorável tanto da sua retórica como da sua famigerada maestria política. O senador vestiu por inteiro uma carapuça apenas sugerida na frase final do último artigo (31/03) onde trato dele e do antigo parceiro, agora desafeto, Jader Barbalho: ”O país não pode continuar polarizado entre duas velhacarias”.
Imaginando-se brilhante tribuno, nosso decadente Sansão cometeu o supremo deslize de aceitar parcialmente uma qualificação pouco lisonjeira (último parágrafo da carta, em tom de gran finale). Recurso arriscado, só deve ser empregado por aquele que tenha amplo conhecimento da causa. Ou currículo imaculado. Algum assessor semi-alfabetizado soprou nos ouvidos do senador uma das acepções que o Aurélio dá ao adjetivo velhaco. Além do significado usual de traiçoeiro, fraudulento, patife, ordinário e devasso, o filólogo consigna que, no Nordeste, velhaco é também ”animal que não se deixa prender ou conduzir com facilidade”.
Assessor e assessorado não tiveram o refinamento ou a paciência para ler o verbete inteiro e, assim, perceber que nesse sentido aparentemente heróico, velhaco é, ao contrário, sinônimo de reboleiro. E reboleiro vem de rebolar, bambolear, saracotear. Reboleiro é badalo, chocalho. Que além de indicar onde se esconde a besta foragida, conota-se como chocalheiro, intrigante.
Como sempre acontece, ACM enrascou-se nas próprias manhas. Ou banhas, como queiram. De Rafael Bluteau a Morais Silva e Fidelino Figueiredo, dicionaristas são unânimes: velhaco não é flor que se cheire, ”aquele que engana com dolo”.
Como Jader Barbalho fingiu que não era com ele e ACM assumiu que era com ele, temos a dupla devidamente equalizada. CQD, Como Queríamos Demonstrar.
Deixando de lado adjetivos, vamos aos substantivos. ACM afirma que ”a maior parte da imprensa, isenta e sabendo deixar de lado diferenças ideológicas, também me (a ele) fez justiça”. Encurralado com os desdobramentos do último surto de onipotência, ACM agora acusa a maior parte da imprensa de estar dominada por ideologias. Acusação grave porque coloca sob suspeita a credibilidade de uma instituição que, por sua função fiscalizadora, jamais poderia estar dominada por opções partidárias. Assumindo-se como crítico da mídia, ACM, no entanto, ignora outra afirmação do meu texto: a tentativa de boicotar o livro Memórias das Trevas, uma devassa na vida de ACM, de João Carlos Teixeira Gomes, um dos mais vendidos na lista de diversos veículos (entre os quais Veja e Folha). Articulado com o alto empresariado da mídia ou seus comissários, ACM conseguiu que, não obstante o sucesso junto ao público, o livro fosse escamoteado ou minimizado durante dois meses. Ao longo de suas 765 páginas, está devidamente documentado o ”comprometimento (de ACM) em tantos episódios duvidosos da nossa vida pública, econômica, empresarial, diplomática e jornalística”. Jamais contestado pelo protagonista da obra.
O senador ACM cobra detalhes do que considera insinuações. Ele os terá, aqui, neste espaço. Entrementes, para aplacar a ansiedade típica dos sansões em fase de decadência, sugiro que mande um dos diligentes assessores consultar o site do Observatório da Imprensa, onde desde a edição de 31/01 tenho oferecido farto material sobretudo no tocante à ultima parte.
O próprio noticiário desta semana oferece valiosos subsídios quanto às demais. A inesgotável combatividade baiana acaba de produzir segundo livro numa bibliografia que se prenuncia interminável: As veias abertas do carlismo, de autoria do jornalista Maneca Muniz. Como seria impossível repetir a façanha de silenciar mais esse livro-denúncia, um sobrinho de ACM, o deputado Paulo Magalhães, adotou outra tática: agrediu o autor e derrubou com pontapés a banca onde se vendiam exemplares da obra nas dependências da Câmara Federal. Nos mesmos local e hora um grupo de 21 deputados estaduais da Bahia (a maioria de esquerda) manifestava-se contra o arquivamento das CPIs para investigar os negócios de ACM e seus parceiros na Bahia. Os deputados foram em seguida levar a documentação à nova corregedora-geral da União, Anadyr Rodrigues.
Os negócios escusos de ACM começam a sair dos porões e ganham as primeiras páginas dos jornais. Finalmente. Depois de três décadas de impunidade e cumplicidades. A pagina dupla na Folha de S. Paulo de ontem (6/4, A-6 e A-7) revelando detalhes sobre as jogadas escusas da nova vestal da moralidade é sinal de que as colunas do templo começam a despencar na cabeça do provecto Sansão.
Sinal, também, de que o reboleiro começou a soar. Infalível o chocalho do velho bode. Sempre revela onde se escondeu. Valhacoutos e velhacarias – em qualquer sentido ou acepção – são autodenunciáveis. Flagram-se e se exibem. O senador ACM perdeu ótima ocasião para ficar calado. Em compensação, tem agora uma boa oportunidade para enriquecer o vocabulário. Agora, Excelência, agüenta o tranco. (Continua)"
"Posição", carta do senador Antonio Carlos Magalhães à seção "A opinião dos leitores", copyright Jornal do Brasil, 7/4/01
"Ao senhor Alberto Dines: o senhor, sem disfarçar seu inconformismo com a minha postura de enfrentamento à corrupção na administração pública, tenta menosprezá-la, negando reconhecer minha posição absolutamente favorável à completa elucidação das inúmeras denúncias de irregularidades em órgãos do governo federal, que surgem todos os dias em relatórios de inspeção das mais diversas entidades fiscalizadoras, como o Ministério Público Federal, Secretaria de Fiscalização e Controle do Ministério da Fazenda, Advocacia-Geral da União, além dos casos apontados pela imprensa. O senhor, talvez inadvertidamente, censura o apoio que venho recebendo de grande parte da maioria dos brasileiros, 84%, segundo pesquisa recente, que concorda que se deve dar um basta a essa corrupção. O senhor afirma que aqueles que apóiam minha luta esquecem ”seu (meu) comprometimento em tantos episódios duvidosos da nossa vida política, econômica, empresarial, diplomática e jornalística”. Não sei a que episódios o senhor se refere, já que prefere apenas deixar insinuado que haveriam tais episódios. De qualquer forma, para cada calúnia que me foi lançada, e que o senador Jader Barbalho acolheu no afã de enlamear meu nome, preparei pormenorizada e documentada defesa, que incluiu minhas declarações de imposto de renda, além de autorização formal para que o acesso a todas as minhas contas bancárias fosse franqueado ao Conselho de Ética do Senado Federal e ao Ministério Público Federal. Essa documentação foi encaminhada a esses dois órgãos e distribuída aos principais veículos de imprensa do país, inclusive ao Jornal do Brasil. De todo modo, esse material encontra-se, desde já, à disposição do senhor para que, conhecendo a verdade dos fatos, deixe de se render à tentação da mentira das versões. O senhor insinua, raivosamente, que não sou um impoluto. A vida nos ensina que há muito que caminhar e aprender na busca de se tornar um homem puro, imaculado. Mas sei de minhas virtudes, entre elas a de assumir posições e delas não recuar. Pouco me importa se contrario interesses políticos, econômicos, empresariais, ideológicos ou jornalísticos. Já comparar-me ao senador Jader Barbalho, em qualquer terreno, é uma ofensa que repudio. A reação da sociedade à condução de Sua Excelência à presidência do Senado Federal fala por si. A maior parte da imprensa, isenta e sabendo deixar de lado diferenças ideológicas, também me faz justiça. Enquanto isso, uma minoria ressentida, mal informada ou vendida nega-se, de todas as formas, a reconhecer que tenho razão. Eu e a maioria absoluta do povo brasileiro. Quanto à última agressão gratuita que o senhor me perpetra, entendo que velhacos são os que me acusam sem provas; ofendem sem pretexto ou por razões subalternas. Entretanto, se o senhor, por reconhecimento ou ato falho, me vê como ”aquele que não se deixa prender ou conduzir com facilidade” (Dicionário Aurélio), agradeço. Antonio Carlos Magalhães ? Brasília."
CARTA CAPITAL SEMANAL
"Em busca da renovação da fórmula", copyright Carta Capital, 11/04/01
"Há 78 anos, dois estudantes universitários americanos, dados a discutir os rumos do jornalismo nos seus passeios pelos relvados do campus, inventaram aquela que definiram como newsmagazine, a revista semanal de informação. Chamavam-se Henry Luce e Britton Hadden. Este morreu aos 30, sete anos depois. Luce construiu um império, a Time-Life. Batizaram Time a sua invenção, destinada a ser imitada a partir da segunda metade da década seguinte, até que a fórmula se espalhou pelo mundo depois da Segunda Guerra Mundial. Receita simples e certeira. Tratava-se de selecionar os eventos mais importantes da semana, de departamentalizá-los em seções específicas, de condensá-los em relatos sucintos e essenciais e de extrair-lhes o significado na perspectiva do futuro. O abaixo assinado, chamado a programar e dirigir a primeira revista semanal de informação brasileira, à sombra de misterioso Projeto Falcão do qual nasceria Veja, nos seus estágios nas redações nova-iorquinas da Time e da Newsweek a palavra que mais ouviu foi ?antecipação?, caindo da boca dos colegas americanos. Antes que furar a concorrência, como se diz na linguagem das redações, antecipar queria dizer analisar, valia como sinônimo de prever, vaticinar, profetizar. Profetas, a gente sabe, são raros. Da mesma forma, a memória da maioria é curta. Sobrava a certeza da qualidade da informação, mais precisa do que em outros gêneros de publicação, mais direta, mais ágil. Os prados dos campi ainda são penteados com diligência, mas cabe perguntar-se se Luce e Hadden cogitariam hoje de fórmula igual à da primeira Time. Em 78 anos, o mundo mudou muito, na progressão geométrica do tempo cada vez mais veloz. O homem contemporâneo é submetido a um bombardeio diuturno de informações, desferido de todos os cantos do planeta e do País por meio de instrumentos que há 78 anos eram inimagináveis e que, em parte, continuavam sendo há 33, quando Veja veio à luz. É razoável supor que uma nova receita se recomenda para uma revista de informação digna da contemporaneidade. Em torno de considerações deste calibre, CartaCapital se prepara à mudança de periodicidade, de quinzenal em semanal, anunciada na edição passada."
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