Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Muitas escolas, poucos empregos

O Ministério do Trabalho anuncia que vai tentar, mais uma vez, regulamentar a profissão de jornalista.


Nada contra. Em tese, claro.


É verdade que da última vez que tentou o governo quebrou a cara. Propôs a criação de um conselho federal de jornalismo, que disciplinaria a mídia de fora para dentro. Morreu na prancheta.


Em princípio, nada impede algum tipo de regulamentação. Auto-regulamentação, claro. Tanto acredito nisso que tenho uma proposta: permitir o exercício da profissão a pessoas sem diploma de jornalista. Seria o Projeto Oldemário Touguinhó.


Para os meninos que não sabem e os velhos que esqueceram, Touguinhó era jornalista de esportes. Trabalhou a vida toda no antigo Jornal do Brasil, como repórter e editor. Não tinha qualquer diploma superior e escrever não era o seu forte. Mas era dono de um faro de repórter excepcional; produzia um ‘furo’ atrás do outro e o nosso jornalismo esportivo sente a sua falta até hoje.


A exigência do diploma de jornalista barra o acesso de outros Oldemários às redações. Elas são mais pobres por isso.


Sem emprego


Tem mais: na hipótese de que um curso superior fosse necessário para o exercício da profissão, por que o diploma precisaria ser de jornalista? Na minha receita pessoal de um bom jornal, gostaria de uma redação com maioria de profissionais formados em jornalismo. Mas com um contingente razoável de jornalistas formados em economia, ciência política, direito, medicina, história, ecologia, literatura.


Seria uma equipe certamente mais bem preparada para entender e explicar esse mundo complicado à nossa volta.


É assim em todos ou quase todos os países com mídia de alto nível. E não por exigência legal: trata-se simplesmente de uma receita que dá certo.


Por interesse estritamente pessoal, defendo até um pequeno contingente de velhos: especialistas no passado podem fazer uma falta danada. Mas admito também as vantagens de um grupo, obrigatoriamente renovável de tempos em tempos, de especialistas em juventude.


Uma conseqüência inevitável do fim do diploma de jornalista obrigatório seria uma enxugada vigorosa na quantidade de faculdades privadas de jornalismo.


A exigência do diploma específico fez surgir no Brasil uma quantidade de cursos fáceis para quem pode pagar, que jogam anualmente no mercado uma quantidade de profissionais com mínimas possibilidades de emprego. Claro, há instituições de alto nível, como a nossa [Pontifícia] Universidade Católica. Mas não faltam arapucas, que só prosperam graças à exigência do diploma em comunicação.

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Jornalista