SUDAM E SUDENE
Chico Bruno (*)
Quem está na estrada há tanto tempo deve estar sentindo a mesma indignação. Desde os anos 70 que boa parte dos nortistas e nordestinos sabe que a Sudam e a Sudene são grandes antros de corrupção. O que mais causa indignação é que a mídia sempre estocou os dois órgãos ao sabor das suas necessidades e a de alguns políticos.
Na década de 70, a Editora Abril, que edita a revista Veja, foi aquinhoada com incentivos fiscais, o famoso 157, para a construção dos hotéis 4 Rodas. Os governos nordestinos "venderam" vastos terrenos em São Luís, Fortaleza, Natal, Olinda, Maceió e Salvador. Em Salvador, o terreno está localizado nas dunas do Abaeté, e tem 342.000 metros quadrados. A Abril construiu hotéis em São Luís, Olinda e Salvador. Não se tem notícia do destino dos terrenos dos outros estados. Em Salvador, o hotel funciona, hoje, com a bandeira francesa Sofitel, uma parte do terreno foi loteado pelas construtoras Santa Helena e MRM, que construíram dois condomínios de luxo. Em Olinda, o 4 Rodas virou um apart-hotel, para compensar o fracasso do empreendimento.
Agora a Abril está pagando a fatura, com a Veja sendo utilizada para fustigar Jader Barbalho. Enquanto isso, a IstoÉ fustiga ACM. Época, mais discreta, morde e assopra os contendores dessa briga paroquial.
O joio e o trigo
Todos os que dirigem as três revistas sabem que os incentivos fiscais da Sudam e da Sudene sempre foram utilizados por quadrilhas para enriquecer. Ou será que apagaram da memória Fernando Rodrigues e Linaldo Uchoa de Medeiros, respectivamente donos dos grupos Terra e Lume? Ou será que apagaram as milhares de fotografias de galpões abandonados nos distritos industriais de Campina Grande, João Pessoa, Recife, Fortaleza e Aratu, na Bahia? Ou será que não sabem que na estrada do Coco, em Camaçari, tem uma grande indústria de biscoitos abandonada por um golpista argentino?
A hipocrisia da elite e da mídia está chegando no limite. É constrangedor para alguns jornalistas com mais de 50 anos de idade que percorreram os caminhos da corrupção na década de 70 e tiveram matérias censuradas, não pelos militares, mas pelos patrões, engolir esse mar de denuncismo inconseqüente. Existe uma CPI da Sudene funcionando na Câmara, mas a imprensa não divulga uma linha dos trabalhos dessa comissão parlamentar de inquérito. Qual a motivação para tal omissão?
Quem percorreu os meandros de DNER, DNOCS, Sudam, Sudene, Basa e BNB sabe muito bem que muita gente enriqueceu às custas do dinheiro dos contribuintes, aí incluídos alguns servidores dessas instituições e os corruptores travestidos de empresários. Hoje está ficando cada vez mais difícil separar o joio do trigo e, infelizmente, a mídia vem contribuindo para que isso aconteça, ao se deixar levar pelas vontades dos litigantes dessa briga paroquial.
(*) Jornalista há 38 anos
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