Depois de 15 anos como correspondente da grande mídia brasileira em Washington, vim parar no coração latino dos Estados Unidos, onde hoje leciono jornalismo online e reportagem na Universidade de Miami. A mídia mundial está numa fase de transformação e minha decisão veio da necessidade que vi de fazer parte integral dessa liderança acadêmica para contribuir para a formação da nova geração de jornalistas numa fase confusa, mas fascinante.
Estamos presenciando hoje uma era bipolar, em que um dia a mídia está depressiva, outro dia, maníaca.
Por um lado, a situação do jornal impresso está péssima. Os cortes de pessoal são assustadores. O Miami Herald anunciou faz pouco tempo a demissão de 250 funcionários, 17% da força de trabalho do diário norte-americano. Um novo estudo do Pew Research Center – Projeto de Excelência em Jornalismo (ver aqui) – publicado recentemente indica que 85% dos diários norte-americanos com mais de 100 mil exemplares diminuíram radicalmente o número de profissionais nas redações. Porém, o mesmo estudo mostra que, apesar das incertezas com o futuro do jornalismo, reina o otimismo. A maioria, 53% dos participantes, afirma que a qualidade do texto dos repórteres melhorou nos últimos três anos e 58% dizem que a reportagem em si está hoje também mais séria e sólida. Ainda segundo a pesquisa, 56% acreditam que a qualidade geral do jornal melhorou.
Otimismo nostálgico
O que isso quer dizer? O estudo, um dos mais respeitados nos Estados Unidos, comprova a tese de que a mídia está passando por uma fase bipolar. O futuro incerto e avanços tecnológicos, que por um lado ameaçam o jornalismo mundial, representam também uma esperança – o retorno – às raízes jornalísticas.
Curiosamente, o leitor, que no passado recente era desligado e até alienado, com a disponibilidade e livre acesso à notícia e informação hoje em dia está cada vez mais exigente. A chamada ‘nova mídia’ está, de fato, proporcionando à tradicional e grande imprensa a chance de se redimir, se refazer, se transformar através de novas idéias, ao mesmo tempo em que retoma os valores básicos da missão jornalística, de servir aos leitores – e não ao ego – de informar e de investigar. O jornalismo ‘colaborativo’ não é mais motivo de chacota do jornalista ‘formado’, mas sim uma ameaça e desafio. No mundo capitalista, a competição traz qualidade.
O caos da notícia excessiva trazido pela tecnologia na era do YouTube, Orkut e Facebook, no final será a salvação do velho jornalismo digno de respeito. No bipolarismo jornalístico que vivemos hoje, portanto, a confiança no futuro representa um otimismo nostálgico da volta ao passado.
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Jornalista, professora da Universidade de Miami