Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Flávio Moura

ARMAZÉM LITERÁRIO

Autores, idéias e tudo o que cabe num livro

PRÊMIO JABUTI

"O ser e o nada", copyright Veja, 18/4/01

"Na semana passada, a Câmara Brasileira do Livro anunciou os finalistas do Prêmio Jabuti. Com isso, o processo de votação do principal prêmio literário brasileiro entrou em sua última fase. Agora, resta a escolha dos vencedores em cada uma das dezesseis categorias e, principalmente, dos ?livros do ano? em ficção e não-ficção. Eles serão conhecidos no dia 19 de maio. Ou seja, falta pouco mais de um mês e, como todos os anos, a expectativa até lá deverá ser… nula. Isso mesmo. Comparado aos prêmios literários de outros países, o Jabuti é um total anticlímax, um acontecimento que desperta pouco interesse entre os leitores e até mesmo entre os envolvidos na organização. A menos que se considerem fenômenos de popularidade os mais recentes ganhadores do prêmio de melhor obra de ficção, Carlos Nascimento Silva e Menalton Braff, o Jabuti não cumpre o papel que se espera de uma premiação importante. ?Ele ajuda autores que já vendem a vender um pouco mais. Mas nenhum livro faz sucesso apenas por causa dele?, diz Luiz Schwarcz, dono da Companhia das Letras, a editora que mais troféus levou nos últimos anos.

Tudo bem que não se deva esperar de premiações literárias o mesmo frisson de um Oscar. Mas, em alguns casos, a comparação nem é tão descabida. No ano 2000, o National Book Awards, principal prêmio dos Estados Unidos, foi apresentado pelo comediante Steve Martin, o mesmo mestre-de-cerimônias do último Oscar. Segundo o organizador do National, Neil Baldwin, o prêmio é um guia importante para os americanos. ?Cerca de 50.000 títulos são lançados aqui anualmente?, diz ele. ?O leitor fica desorientado, e nós lhe damos uma mão.? Na França há oito grandes prêmios por ano, sendo o mais tradicional o Goncourt. Ele mobiliza as atenções da mídia e dos leitores por mais de três meses, é motivo para exaltação nos jornais e muita politicagem.

Outro caso emblemático é o do Booker Prize, na Inglaterra. Num país em que a média de leitura é de cinco horas por semana, o prêmio mobiliza tanta atenção quanto um torneio de futebol. Assim que se anunciam os finalistas, os direitos de publicação são negociados com outros países e as bolsas começam a colher apostas. ?Quando Salman Rushdie concorreu, eu apostei nele e ganhei um belo dinheiro?, disse a VEJA o escritor inglês Julian Barnes, ele próprio um eterno candidato ao Booker. Não faltam fofocas sobre a atividade dos cinco jurados. Em 2000, um jornal britânico chegou a dizer que a voz de uma das integrantes do júri era capaz de ?fazer derreter o elástico da cueca dos homens?. Quando sai o vencedor, a repercussão é imediata. Depois de ser premiado, em 1989, Kazuo Ishiguro teve mais de 1 milhão de livros vendidos e sua obra, Vestígios do Dia, ainda foi transformada em filme de sucesso. E não se pode esquecer, claro, do Nobel. Concedido pela Academia Sueca, o rei de todos os prêmios forra o bolso do ganhador com 1 milhão de dólares e o transforma em celebridade mundial.

É obvio que o interesse pelas premiações reflete o papel que a literatura desempenha em cada país. Mas o Jabuti tem um problema adicional: foi concebido mais como meio para editores e livreiros promoverem seus negócios do que como prêmio voltado para as questões literárias. Tanto assim que os dois vencedores da categoria ?livro do ano? não são eleitos por um júri de críticos, mas pelo voto dos membros da Câmara Brasileira do Livro, ou seja, donos de livrarias e de editoras que normalmente se encaixam em um de dois nichos: o daqueles que não sabem em quem estão votando ou o dos que fazem lobby escancarado por seu candidato. Se prestígio cultural, repercussão e glamour são os principais indicadores da importância de um prêmio literário, o Jabuti não vai muito longe. E a culpa não é apenas de seu nome."

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