Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Narcotraficantes impõem lei do silêncio

Em Nuevo Laredo, cidade mexicana que faz fronteira com os EUA, o melhor é não saber de nada, pois informações podem ser mortais. Repórteres da seção policial dos jornais locais preferem não tomar conhecimento dos nomes de certos criminosos. Quando há tiroteios no centro da cidade, até o mais ambicioso repórter radiofônico não corre para reportar a cena.

No mês passado, quatro funcionários da polícia federal, à paisana, foram mortos, na hora do rush, na rua mais movimentada de Nuevo Laredo. Os escritórios de diversos jornais e rádios estavam a apenas algumas quadras, mas a notícia foi divulgada primeiramente na Cidade do México, a quilômetros de distância.

‘Não cito grupos, nem nomes. Não quero saber de nada’, diz o editor de um jornal e membro da Associação de Jornalistas de Nuevo Laredo. ‘Não é medo, é prudência. Três jornalistas foram mortos aqui no ano passado. Não queremos tentar ser o herói do filme’, explica.

A guerra entre os cartéis de drogas do Golfo e de Sinaloa foi responsável pela morte de mais de 230 pessoas na cidade nos últimos 16 meses, segundo policiais federais mexicanos. Os jornalistas que eventualmente divulgariam esta onda de violência foram silenciados por narcotraficantes, que seqüestram repórteres e fazem ameaças por telefone.

Rumores

A violência e a intimidação criaram uma cultura do silêncio na cidade de 500 mil habitantes. Autoridades municipais raramente comentam publicamente os assassinatos. ‘Quando um crime é cometido deveria haver uma investigação, um acusado, uma punição’, afirma Carlos Galvan, dono de dois jornais. ‘Como isto não acontece, a especulação acaba com a reputação da vítima’.

De fato, os rumores preenchem o vácuo de informações em Nuevo Laredo. Jornalistas afirmam que gostariam de contar a história completa dos assassinatos. Os nomes de narcotraficantes circulam entre os profissionais de imprensa, mas nunca são divulgados ou impressos. Os fatos podem acabar com o mito e a onipotência dos cartéis, mas também podem ocasionar a morte de repórteres. Informações de Hector Tobar [Los Angeles Times, 23/4/06].