Totalmente inexata e confusa a matéria publicada sob o título ‘A Idade da Loba’, nas edições impressa e online da revista IstoÉ (nº 2020, de 23/7/2008). Segundo a revista, a estátua da Lupa Capitolina, ‘representando a loba que teria amamentado os gêmeos Rômulo e Remo, lendários fundadores de Roma’, seria mais recente do que se supunha até agora. ‘Os historiadores sempre acreditaram que (o monumento) fora erigido por volta de 500 anos antes da era cristã’, porém na ‘semana passada ocorreu uma reviravolta envolvendo tal marco: arqueólogos revelaram que a estátua é datada do ano 1300 a. C (sic), ou seja, Roma é mais jovem do que se supunha – pelo menos se continuar a manter a loba como emblema de sua fundação’, afirma a matéria.
A informação errada é repetida duas vezes no texto, que atribui a uma historiadora e restauradora italiana a declaração de que a técnica utilizada para fundir a estátua era ‘utilizada por volta do ano 1.300 antes do início da era cristã’.
Não bastassem equívocos de 26 séculos, a matéria tira a conclusão que a nova datação sugere que a ‘cidade de Roma é mais jovem que se supunha’. Será que a jornalista está sugerindo que Roma foi fundada depois de 1300 AD???
Costume ‘politicamente correto’
O mesmo assunto (sem equívocos de datação!) apareceu na mesma semana no USA Today, porém fala-se em século oitavo ou nono depois de Cristo como nova data presumível para a estátua.
Além do absurdo equívoco da IstoÉ quanto à datação, não há nada de muito novo nessa história. O jornal italiano La Repubblica publicou uma reportagem sobre o assunto em fevereiro do ano passado, afirmando que a estátua definitivamente não era etrusca, e sim, medieval.
É provável que a confusão da jornalista da IstoÉ tenha sido gerada pelo costume ‘politicamente correto’ de alguns autores e jornalistas, principalmente norte-americanos, que estão substituindo a.C, antes de Cristo (ou b.C. em inglês) e AD (Anno Domini), por BCE (Before the Common Era, ou Before the Current Era) e CE (Current Era), supostamente para não ferir suscetibilidades de leitores ‘não cristãos’…
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Professor titular da Facom-UFBA