Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma babel de monólogos

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OPINIONISMO

Cláudio Weber Abramo (*)

O economista Rudiger Dornbusch, professor de economia do MIT, colaborador do Financial Times e de jornais brasileiros, notabilizou-se como defensor do currency board e da âncora cambial. A mais notória aplicação desses conceitos foi à moeda argentina. A partir da adoção da equiparação dólar-peso, durante a passagem de Domingos Cavallo pelo czarinato econômico do governo Menen, Dornbusch escreveu inúmeros artigos em sua defesa, recomendando-a a outros países, notadamente o México e o Brasil.

Assim que a economia argentina deu com os burros n?água, contudo, Dornbusch cessou inteiramente de mencionar âncora cambial, paridade, currency board etc. etc. No Brasil, alguém se deu conta disso? Alguém escreveu alguma linha chamando às falas o sr. Dornbusch (ou outros apologistas semelhantes, como o norte-americano Steve Hanke)?

Não. Uma busca pelos principais jornais brasileiros não produziu instâncias de colunistas que tivessem vindo a público para, claramente, indagar o que Dornrbusch teria agora a dizer.

O fenômeno não se restringe ao caso em questão. No Brasil, qualquer pessoa pode ocupar espaços nos jornais para afirmar seja o que for, com a certeza de que não será contestado, criticado, sequer delicadamente perguntado sobre coisa alguma.

Isso acontece porque colunistas e articulistas consideram que têm direito de dizer o que quiserem, mas terceiros não têm direito real de responder. Prova está que, nas raríssimas ocasiões em que contestações acontecem, são sempre tomadas como pessoais e ofensivas, e portanto desqualificáveis.

Cria-se com isso um ambiente cheio de vozes, mas carente de diálogo. Uma babel de monólogos, improdutivos e descartáveis.

(*) Secretário-geral da ONG Transparência Brasil <http://www.transparencia.org.br>; e-mail <cwabramo@uol.com.br>

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