Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Senador critica a imprensa

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CRISE DO PAINEL
Senador critica a imprensa

Discurso do senador Roberto Saturnino Braga (PSB-RJ), relator da Conselho de Ética do Senado, proferido na sexta-feira, 4/5

Ontem [quinta-feira, 3/5/01], terminada a sessão do Conselho de Ética que procedeu a acareação entre os dois senadores, Antonio Carlos e Arruda, e a dr? Regina, fui cercado por representantes da nossa mídia, da nossa imprensa, e disse que não daria declarações, que dali para frente eu iria me recolher para preparar o relatório que pretendia apresentar na quinta-feira [seguinte]. E assim fiz e evitei todas as tentativas de que fosse extraída de mim qualquer declaração, de qualquer natureza, sobre a minha impressão a respeito dos questionamentos e das respostas feitas lá no Conselho de Ética. E, sr. presidente, eu fui surpreendido hoje [sexta, 4/5/01]com a manchete principal do Jornal do Brasil, que diz: "Relator quer a cassação dos senadores ? após a acareação de ACM, Arruda e Regina Borges, Saturnino diz que pedirá a pena máxima". Diz o jornal que eu teria revelado a dois interlocutores próximos que já estava tomada a minha decisão a respeito do relatório e, na matéria, descrição sobre algumas partes do relatório que já estariam prontas. Enfim, uma declaração até que parece fundada numa conversa do repórter do Jornal do Brasil com duas pessoas próximas a mim.

Eu quero dizer, sr. presidente, que realmente eu conversei, muito brevemente, com dois assessores jurídicos que estão me ajudando na elaboração do relatório e disse a eles que diante da impressão que me causara as diferentes versões ? de um lado a versão consistente, coerente, sem contradições da dr? Regina e, do outro lado, as versões dois senadores, a meu juízo, pontilhadas de incoerências e contradições que eu, por todas as maneiras, tentei desvendar. Cheguei mesmo a declarar como provocação ao senador Arruda que tinha dificuldade de acreditar na versão dele, mas, efetivamente não tive sucesso na obtenção, digamos, de uma explicação que me satisfizesse. E diante deste quadro, eu senti aqui que os senadores, como eu mesmo, estavam se sentindo ludibriados ou pelo menos submetidos a uma tentativa de ludibrio, na medida em que as versões dos dois senadores, a meu juízo e de vários senadores com quem eu conversei, eram inconvincentes, muito inconvincentes.

Diante disso, eu efetivamente me inclinava pela proposição da cassação, não só pelo fato em si, pelo ilícitos cometidos, mas até mesmo por essa atitude dos senadores de apresentar versões que vêm se sucedendo com ligeiras modificações, mas sempre pontilhadas de contradições que eles não conseguiam explicar.

Mas, senhor presidente, senhoras e senhores senadores, eu quero dizer que esse procedimento do Jornal do Brasil, que com certeza teve acesso e conversou com esses dois senadores, mas esse procedimento me faz , senhor presidente, exigir de mim mesmo um certo recolhimento. Isso para mim foi tão chocante que me levou a perceber com clareza de que neste afã de dar notícias em primeira mão, de apresentar os fatos mais escandalosos, capazes de reter, mobilizar e indignar a opinião pública, a nossa imprensa, a nossa mídia, está realmente criando um clima de caça às bruxas. Eu aí, senhor presidente, ao perceber isso me senti obrigado a me recolher e a pedir mais prazo até para meditar antes de apresentar o meu relatório. Eu efetivamente estava com a tendência a propor a cassação, comentei isto com os dois senadores, mas este fato, esta manchete do Jornal do Brasil e esta competição dos órgãos de imprensa, cada um querendo mais que o outro apresentar fatos novos e versões e criar um clima mobilizador da opinião pública contra as instituições políticas de um modo geral, tudo isto me leva, senhor presidente, a pedir mais prazo para meditar e apresentar o meu relatório. Vou pedir ao presidente Ramez Tebet que me dê mais prazo. Não vou mais apresentar o relatório na quinta-feira [10 de maio, como inicialmente previsto]. Eu preciso de um tempo até para observar este clima porque obviamente se de um lado nós temos que apreciar os fatos e julgar as acusações com máximo de acuidade, de seriedade e de rigor também, porque está em jogo a imagem da instituição, a dignidade da instituição, de outro lado, nós não podemos efetuar um julgamento sereno debaixo de uma pressão criada por um clima, que eu disse, de caça às bruxas.

(…) Mas e esta manchete do Jornal do Brasil? Eu tenho me recusado terminantemente a dar qualquer declaração. Quando eu vi esta manchete na primeira página pensei comigo mesmo: será que nós não estamos sendo levados por um clima que vai, de certa, forma distorcer o nosso julgamento? Então, vou pedir ao presidente Ramez Tebet mais tempo. É isso que eu, basicamente, queria dizer dessa tribuna hoje. Preciso de mais tempo para meditar para produzir um relatório que eu julgue que não esteja influenciado por um clima criado pela disputa, pela competição entre os órgãos de imprensa, de cada um querer revelar mais "achados" do que os outros.

ASPAS
Dora Kramer

"Divórcio inevitável", copyright Jornal do Brasil, 5/05/01

"Com essa história da fraude no painel eletrônico no Senado, a sucessão presidencial acabou ficando de lado. Se para alívio de uns ou desespero de outros, pouco importa. O que nos interessa abordar aqui é a inversão total de uma dúvida que assolava dez entre dez almas da política, fossem elas de situação ou de oposição: a aliança entre PMDB, PFL e PSDB será mantida na eleição de 2002?

Pois agora a questão em debate deve ser exatamente a oposta: como manter uma aliança cujos protagonistas são personagens de escândalos de naturezas variadas, onde cada um dos partidos aparece numa situação pior que a do outro?

E o PSDB não pense que escapa da história com a teatral defenestração de José Roberto Arruda, porque, além da impossibilidade de apagar o passado, ainda poderá ver-se compelido a prestar contas pelo apoio decisivo à eleição de Jader Barbalho para a presidência do Senado. Isso deixando de lado a CPI da Corrupção, a fim de n&atatilde;o suscitar queixas relativas a injustiças de julgamento sobre fatos ainda inexistentes.

O cenário já posto é suficiente para um exercício de probabilidades. E a mais provável, no momento, é a da dissolução de uma parceria cujas evidências são as de que, com o perdão da falta de sutileza, está caindo de podre.

Todas as cenas exibidas hoje ao vivo para o respeitável público, obviamente serão peças de campanha. Não se pode dizer ainda se serão determinantes para vitórias ou derrotas, mas, com toda certeza, pratos transbordantes de alimentos à oposição. Como os três partidos da aliança são alvo de constrangimentos, se permanecerem unidos aumentarão em muito o potencial de destruição mútua.

Se a opção for pelo candidato único, ele terá de responder não apenas pelos males de seu partido. Será cobrado pelo acontecido nos outros. Não haverá como estabelecer diferenças entre PSDB, PMDB e PFL, até porque, caso queiram permanecer juntos, autorizarão o eleitor a concluir pela existência de uma unidade de ação e pensamento.

Ou seja, a dispersão que vinha sendo interpretada como fator de risco de não-obtenção de uma vaga no segundo turno, cada vez mais torna-se um imperativo. A fim de evitar um colossal e coletivo abraço de afogado.

Sendo assim, e dificilmente haverá jeito de não ser, chegamos à conclusão óbvia: cada um ficará com seu cada qual, pelo menos no primeiro turno e ainda precisarão arrumar gente de imagem descolada de toda a confusão. Missão de dificuldade nada desprezível, se considerarmos a inexistência de alguém autorizado a encarnar, seis anos de convivência depois, essa dissociação.

Quanto à opção pelas carreiras-solo em 2002, sempre se poderá dizer que até aí não há novidades, pois os partidos já vinham mesmo manifestando disposição de concorrer à vaga de presidente com candidatos próprios.

Seria verdade, não fosse o fato de que era mentira. Todos os movimentos pró-candidatos isolados tinham o objetivo de buscar um cacife maior na aliança para negociar melhores posições. Nenhum dos partidos, à exceção do PSDB, dispõe de candidatos à vera. O PMDB tem Itamar Franco, mas a direção partidária não quer vê-lo nem pintado de ouro e a recíproca é verdadeira. Portanto, sem trauma ali não se dará a escolha. E o PFL, este não tem mesmo ninguém.

Todos esperavam que, no fim, tudo se ajeitaria em torno de Fernando Henrique e do tucano mais bem posicionado nas pesquisas, hoje o ministro da Saúde, José Serra.

Pois a complicação instalada na base governista acabou com essa possibilidade. E não foi por falta de aviso dos mais ajuizados. Desde a eclosão da guerrilha intra-aliança, já nos primeiros acordes do segundo mandato de FH, as vozes mais sensatas alertavam para o perigo de as lutas por espaço político resultarem numa guerra sem sobreviventes.

Tanto fizeram e acabaram fazendo o serviço da oposição.

Oposição esta, apontam algumas análises, que precisará de uma dose descomunal de incompetência para perder a eleição. Convém, no entanto, considerando o conjunto da obra, não duvidar da capacidade alheia. No campo oposicionista também vigora – não por necessidade, mas por opção – a divisão e deve ser com isso que conta a situação.

O mais triste de todo esse cenário é que talvez ele leve o Brasil a votar não no melhor, mas no menos pior. Este é o perigo que corremos se o eleitorado resolver analisar o plantel de candidatos por analogias e não pelo critério das biografias.

Espíritos

Levantam-se suspeitas, aqui e ali, de que o Senado poderá privilegiar o corporativismo em detrimento das evidências, na decisão sobre os destinos dos senadores envolvidos na violação do painel de votação.

Nesse caso, os parlamentares não renderão homenagens ao espírito de corpo, mas a uma nova entidade nascida do episódio: o spirite du porc."

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