MONITOR DA IMPRENSA
Na segunda semana de maio chega às bancas dos EUA nova concorrente à Rolling Stone. Ironicamente, diz Alex Kuczynski [New York Times, 30/4/01], Jann Werner, dono da Stone, é o culpado. Felix Dennis, 52 anos, fundador da Dennis Publishing e responsável pelo novo lançamento, recebeu seu primeiro grande cheque de Werner, há 28 anos. Foi o começo de tudo.
"Não querendo ser sujo com o cara que me financiou", disse Dennis ao Times, "a Rolling Stone é muito chata e comum". Blender, a novidade a ser lançada neste mês, pretende trazer grande variedade de assuntos relacionados à música, com resenhas de CDs, humor e fotos instigantes de artistas seminus.
Nos últimos cinco anos, o campo das revistas de música deixou de ser dominado pela Stone e a Spin, com a chegada de títulos como The Source. Para todas, os tempos são de crise pela falta de anunciantes, e no ano passado quase todas as páginas de propaganda de cigarros sumiram das revistas, depois de uma ordem federal. Enquanto a imprensa se mobiliza para cortar custos nesse cenário, Dennis não teme se arriscar.
Baterista de uma banda de rock colegial nos anos 70, Dennis foi co-fundador de uma revista de sátira chamada Oz, e depois preso por atentado ao pudor. Com dificuldades financeiras, resolveu escrever uma biografia sobre o lutador e ator Bruce Lee. Logo depois Lee morreu e Denner, a quem Dennis conhecera por intermédio de Mick Jagger, se ofereceu para publicar o livro. Daí nasceu a revista Maxim, e hoje, em meio à crise, a Dennis Publishing lança três novas revistas: Maxim Fashion saiu há um mês, The Week, uma semana depois e agora é a vez de Blender.
RÚSSIA
Dos males, o menor
Depois de todas as derrotas sofridas pelo império mediático de Vladimir Gusinski, Media-Most, fica a questão: é possível haver mídia independente na Rússia? Para Michael Wines [The New York Times, 27/4/01], a liberdade de expressão no país pode não ter o estilo conhecido no Ocidente, mas ainda assim possibilita diferentes escolhas aos cidadãos, e é melhor que a dos tempos soviéticos.
"Durante a Guerra da Chechênia, por exemplo, a cobertura mais crítica foi a da estatal RTR, e não da NTV" (que era de Gusinski), disse Andrei Ritcher, diretor do Centro de Mídia e Direito da Universidade Estadual de Moscou. Outro exemplo de jornalismo independente ? mesmo em veículos vinculados ao Estado ? seria o caso de Anna Politkovskaya, correspondente do diário moscovita Novaya, que enfrentou a prisão para publicar reportagem condenando o rapto de chechenos inocentes por soldados russos.
Há outro fator importante. Quem estaria interessado na existência da mídia independente? Uma pesquisa revelou que 43% da população aprovou ou ficou indiferente à ocupação da NTV por funcionários do governo, e 40% contra. Poucos estão interessados em informações políticas ou econômicas, e em muitas regiões não se tem dinheiro suficiente nem para comprar jornais, disse o diretor do Centro de Jornalismo em Situações Extremas, Oleg Panfilov. O país é tão grande e pobre que a imprensa está em declínio, e os veículos de comunicação tendem a cair em mãos de ricos empresários ou companhias.
Foi o caso da NTV, que precisou de subsídios governamentais. Embora seja uma empresa privada, a Midia-Most sempre manteve relações com o governo, e depois da crise de 1998 a dívida com a estatal de gás russa Gazprom atingiu US$ 1,5 milhão, disse Celestine Bohlen [The New York Times, 29/4/01]. A NTV foi portanto vítima da mistura de política e finanças que a criou.
Não se sabe se uma mídia independente tem chances de se consolidar na Rússia. Mas com as dívidas da Midia-Most, o caso dos empreendimentos de Gusinski não serve como teste verdadeiro da liberdade de expressão no país.
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