CONFLITO NA BAHIA
Chico Bruno (*)
A não-divulgação e geração da matéria, pela afiliada baiana da Rede Globo, sobre a repressão policial a manifestação pela cassação de ACM, em Salvador [quinta, 10/5], comprovou a parcialidade da grande maioria da mídia baiana e a imparcialidade da mídia nacional que divulgou o episódio com destaque, inclusive a Globo, com imagens cedidas pela assessoria de imprensa do Sindicato dos Bancários da Bahia.
O telejornal BA TV vai ao ar às 19h e o Jornal Nacional, uma hora depois. Foi nesse intervalo de tempo que foi negociada a operação entre a Globo e o sindicato, e a revelação da parcialidade da afiliada baiana da Globo aos seus telespectadores. Não fosse a Globo, os telespectadores da Rede Bahia ficariam privados da informação sobre o conflito entre estudantes e policiais militares, em Salvador.
Temos certeza de que os jornalistas da emissora baiana estiveram presentes ao episódio e gravaram imagens e sonoras. Temos certeza de que editaram a matéria, que caiu por ordens superiores ? que determinaram, ainda, que a referida matéria não fosse gerada para a Globo, por precaução.
Essa é a uma prática constante na Bahia, em quase todos os veículos de comunicação do estado. Às vezes as ordens partem da direção dos veículos, outras vezes dos detentores do poder. Isso é comum e já colocou muitos profissionais na rua da amargura, com demissões motivadas pela desobediência a esse tipo de ordem. No dia 2 de julho de 1992, o diretor de Jornalismo de uma emissora de televisão foi demitido por não concordar em omitir a presença da oposição em manifestação plural da sociedade baiana, que é a festa da independência da Bahia.
Na semana em que o assunto foi abordado neste Observatório, eis que ele é colocado em prática, tornando-se realidade aos olhos de todos os telespectadores da Rede Bahia e do resto do país, pela divulgação do episódio.
Esse fato demonstra como é difícil o exercício da profissão de jornalista fora do eixo Rio-São Paulo. Na Bahia, temos vários exemplos de desobediência à ordem estabelecida pelos detentores do poder, que resultaram na morte de dezenas de jornalistas, no interior do estado, sem que até agora os responsáveis fossem descobertos e punidos.
O momento é oportuno para que as oposições brasileiras, tão ciosas da ética nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, façam o mesmo em relação às instituições civis, entre as quais se inclui a imprensa que, principalmente no Norte e no Nordeste, está a serviço dos donos do poder de plantão, sejam de direita ou esquerda.
Felizmente, a Rede Globo prestou um grande serviço aos baianos, ao expor a parcialidade de sua afiliada. A emissora matou a cobra e mostrou o pau.
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