A cidade alemã de Colônia, uma das sedes da Copa do Mundo deste ano, proibiu jornalistas estrangeiros de filmar ou fotografar o distrito de prostituição Geestemuende, como informa Katy Duke [The Guardian, 3/5/06]. O governo alemão construiu boxes em zonas de prostituição em diferentes cidades, nos quais os clientes estacionam seus carros para fazer sexo com as prostitutas – os conhecidos ‘bordéis drive-in’. Tais distritos receberam recentemente atenção da mídia por estar sendo ampliados e reformados por conta da Copa; o interesse repentino afastou clientes e não agradou às prostitutas.
Robert Kilp, chefe do departamento de relações públicas de Colônia, afirmou que, se um jornalista for pego filmando na área, será retirado e receberá uma advertência. Se for flagrado uma segunda vez, as conseqüências serão mais sérias. ‘O local é de propriedade da cidade de Colônia e não é considerado uma via pública. Qualquer um filmando ou tirando fotos poderá ser processado’, informou Kilp. ‘As prostitutas estão transando em carros no local, não é algo para ser filmado’.
Projeto social
Kilp, no entanto, enfatizou que a nova medida não é uma censura à cobertura da profissão mais antiga do mundo. ‘Se um jornalista tiver a permissão da prostituta para filmar, tudo bem. Mas o objetivo do distrito é proteger as meninas e mantê-las longe das drogas, não queremos espantá-las de lá’, disse. ‘Os jornalistas que estão vindo para cá recentemente estão apenas interessados nos distritos por causa da Copa do Mundo’. Anne Rossbach, porta-voz do SKF, projeto social por trás dos bordéis drive-in, afirmou que a área de Geestemuende tem a intenção de ser um projeto social, e não um local turístico.
Oito zonas de prostituição foram tema de matéria publicada no tablóide britânico The Sun na semana passada – principalmente as de Colônia e Dortmund, que estão sendo reformadas por ficarem localizadas em cidades que sediarão jogos da Copa. Depois do artigo, diversos jornalistas europeus dirigiram-se aos distritos para entrevistar as prostitutas sobre o aumento do movimento durante o campeonato e sobre a competição com garotas de programa da Europa Oriental, que cobram mais barato pelo serviço. ‘Há jornalistas de toda a Europa. Eu acabei de ser entrevistada por uma equipe sueca. Eles nos filmam como se fôssemos animais em um zoológico. Todos os nossos clientes estão se afastando agora’, reclamou Andrea, prostituta de uma das zonas.
Inglaterra: Comissão analisa cobertura da BBC
Relatório encomendado pela BBC a uma comissão independente sobre o uso do termo ‘terrorismo’ na cobertura do conflito Palestino-Israelense concluiu que a rede não deve se preocupar com a questão. O estudo, pedido em outubro do ano passado, afirmou que não foram encontradas evidências de parcialidade ‘sistemática’ na companhia britânica de comunicação.
O relatório criticou, entretanto, outros pontos da cobertura do conflito, completando que a BBC se esquiva e é omissa em seu planejamento editorial e na explicação completa do tema. A rede, concluiu a comissão, não fornece, de maneira consistente, um relato completo e preciso da situação entre israelenses e palestinos.
Foram feitas quatro recomendações no relatório para que a BBC melhore seu desempenho. ‘Nós dizemos que a BBC deve usar a linguagem correta. Pensamos que ela deveria chamar atos terroristas de ‘terrorismo’ porque o termo é claro e bem entendido’, escreveu Sir Quentin Thomas, presidente do Conselho Britânico de Classificação Cinematográfica, na declaração introdutória do estudo. ‘Nossa avaliação é que, fora lapsos individuais, há pouco a sugerir parcialidade deliberada ou sistemática. Pelo contrário, há evidência de um comprometimento com a precisão e a imparcialidade’.
Imagem incompleta
A comissão criticou falhas na cobertura, análise, contextualização e perspectiva e na manutenção consistente dos padrões editoriais da rede. ‘De certo modo, a imagem acaba por ser incompleta e, neste sentido, ilusória’.
O relatório recomendou que a BBC forneça a seus jornalistas algum tipo de guia para direcioná-los corretamente na cobertura do conflito Palestino-Israelense. Neste ponto, sugere que seja nomeado uma ‘figura sênior’, capaz de dar maior segurança à equipe e garantir o respeito ao planejamento editorial da rede.
O estudo concluiu também que o setor televisivo da BBC deve ‘procurar as histórias importantes, e não se deslumbrar com imagens fortes e fáceis’. ‘Nós queremos que a BBC seja mais pró-ativa em explicar as complexidades do conflito. Muito pode ser aproveitado ao se ligar diretamente os programas transmitidos a material disponível online’.
O relatório notou que há mais comentaristas disponíveis para falar sobre o lado israelense do que o palestino. Além disso, as vítimas do terrorismo palestino recebem mais cobertura porque as imagens dos ataques costumam ser mais chocantes.
Discordância
Ao que parece, a divisão de notícias da BBC não levou tão bem os resultados encontrados pela comissão independente. Foi divulgada uma declaração elogiando a conclusão de que não há evidências de parcialidade sistemática na cobertura, mas fontes internas se disseram surpresas com as acusações de tendências pró-Israel, não concordaram com as críticas de falta de contexto ao conflito e rejeitaram a sugestão de um guia para manter os padrões editoriais.
A comissão incluía também o arcebispo Lord Eames, o professor Stewart Purvis, o editor e colunista do Financial Times Philip Stephens e Elizabeth Valance, ex-diretora do departamento de política do Queen Mary College, na Universidade de Londres. Eles consultaram fontes dentro e fora da BBC e visitaram o Oriente Médio, principalmente para conversar com os correspondentes da rede. Informações de Ben Dowell [The Guardian, 2/5/06].