O grande desafio da imprensa para cobrir as Olimpíadas de Pequim não será a diferença de 11 horas, quase meio dia. Problema maior será acompanhar um monumental evento esportivo sem perder de vista os seus desdobramentos políticos.
Desde 1936, nas Olimpíadas de Berlim, montadas para glorificar o regime nazista, não se via um empenho tão grande em exibir as conquistas de um sistema político. Na realidade, serão duas olimpíadas acopladas – uma desportiva e outra política. Como sempre o número de medalhas de ouro vai comandar o espetáculo, porém a medalha mais difícil de conquistar será no campo das liberdades, no direito à informação.
Os chineses não pouparam dinheiro nem esforços para montar um esplendoroso circo na qual certamente brilharão em matéria esportiva, mas sabem de antemão que terão dificuldades em vender a imagem de um país livre, sem constrangimentos em matéria de comunicação e movimentação.
Esporte e política
O formidável sucesso econômico da China é indiscutível e, tal como as medalhas, é mensurável. Complicada será aferição do grau de liberdade de um sistema político regido por parâmetros tão diferentes dos nossos. Mesmo que o leitor vá buscar as informações nos cadernos esportivos, é imperioso que ao lado das façanhas olímpicas sejam oferecidas ao mesmo leitor avaliações isentas e qualificadas sobre os avanços e retrocessos políticos da China.
Em 1936, as vitórias do negro norte-americano Jesse Owens sobre o ariano Lutz Long obrigaram Hitler a retirar-se do estádio antes da premiação. Foi um feito esportivo e político. O leitor de hoje, ainda mais informado, quer os dois lados desta cobertura.