Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniela Pinheiro

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PERFIL / CLAUDIO HUMBERTO

"Claudio Humberto é figura temida na capital por suas notícias e exageros", copyright Jornal do Brasil, 27/05/01

"Quem está longe da Esplanada dos Ministérios não tem a idéia do poder de fogo da coluna de notícias do jornalista Claudio Humberto Rosa e Silva, o porta-voz de Fernando Collor na Presidência que criou o estilo ?bateu, levou?. Há três anos, desde que começou a publicá-la, Claudio Humberto se tornou uma figura temida em Brasília. Políticos, empresários, lobistas estão sob sua mira. Agora ele bate, mas leva processos. Ele denuncia negociatas, adultérios, reuniões secretas dando nome e sobrenome dos personagens.

Claudio Humberto incomoda. E muito. Foi ele quem descobriu o caso do coração insepulto do deputado Luis Eduardo Magalhães. E escreveu sobre o suposto romance entre a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e seu assessor Luis Favre. Também é dele a informação em primeira mão de que a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello procurava um namorado pela internet. O jornalista foi, igualmente, o pioneiro na denúncia da máfia dos bingos, que culminou na demissão do ex-ministro Rafael Greca (Esportes e Turismo). ?A primeira pessoa que revelou a existência do filho do Fernando Henrique Cardoso com uma jornalista fui eu?, diz Claudio Humberto. A existência desse hipotético filho, no entanto, jamais foi admitida pela suposta mãe, pelo suposto pai -ou por qualquer outra pessoa.

A coluna se tornou leitura essencial dos políticos e serve de inspiração para reportagens de grandes jornais e revistas. ?Eu não tenho patrão. Meu compromisso é com a notícia. Por isso, sou livre para dizer o que for?, afirma. Há quem discorde: ?Ele escreve o que quer mesmo. Mas sua estratégia é escrever qualquer coisa e desmentir no dia seguinte. Em sua coluna, há notícias verdadeiras, falsas e exageradas. Como isso tudo se mistura e ninguém sabe o que é o que, acaba querendo ler tudo?, afirma o presidente de Furnas e ex-líder do governo, Luiz Carlos Santos.

A coluna ?Poder, Política e Bastidores? (www.claudiohumberto.com.br) é reproduzida em 29 jornais de pequeno porte e recebe a visita de 214 mil internautas a cada mês. É a única fonte de renda de Claudio Humberto, que ganha 35 000 reais mensais. Para escrever a coluna, ele dá cerca de 50 telefonemas e recebe 240 e-mails. Suas fontes são variadíssimas. Desde o ministro Andrea Matarazzo ao deputado Agnelo Queiroz, do PC do B. ?Tenho vários amigos, fontes de confiança, que só conheço por e-mail. Fui até chamado para ser padrinho do filho de um deles, mesmo nunca tendo visto alguém da família pessoalmente?, conta. Ele diz que suas fontes são basicamente do segundo e terceiro escalão. ?Sempre que ligo, eles atendem o telefone. Até porque acham que estou ligando para fazer alguma acusação contra eles?, diz.

Além dos contatos pessoais, ele produz notícia lendo o Diário Oficial da União todos os dias. Mesmo com o trabalho reconhecido, seu contrato com o portal Terra vence em dois meses e não foi renovado. Claudio Humberto procura um outro site para se instalar. Apesar de que, sua maior vontade, é publicar sua coluna em um jornal da grande imprensa.

Na avaliação de Claudio Humberto, sua coluna é polêmica porque ousa. ?Acho que hoje a maioria dos colunistas são mais amigos das fontes do que dos leitores. Eu sou tarado pela notícia?, diz. Para ele, há uma muralha intransponível que ele tenta derrubar todos os dias. ?Meu tema favorito é falar de quem é unanimidade do bem. Ninguém é. Eu faço um serviço para a sociedade mostrando a outra face dessas pessoas?, diz. De tempos em tempos, Claudio Humberto elege alguns alvos. Atualmente, publica notas recorrentes sobre empreiteiras, sobre Marta Suplicy e o presidente da Agência Nacional de Petróleo, Davi Zylberstejn. ?O que eu acho engraçado é esse negócio de dois pesos, duas medidas para algumas pessoas?, diz. ?Com o Pitta pode, mas com a Marta não. Não o estou defendendo. Mas é um fato: por que sobre algumas pessoas pode se falar e se apurar tudo e sobre outras não??, indaga. O jornalista, no caso da prefeita, diz: ?Ela está prorrogando sem licitação os contratos de empresas de limpeza, que deram dinheiro para sua campanha. Isso é escândalo e poucos jornalistas tratam do assunto.?

Sobre a quantidade de notinhas mostrando intimidade de políticos, ele explica: ?Nesses anos aprendi que ao optar pela vida pública, abre-se mão da vida privada?. No caso do suposto namoro de Marta Suplicy, ele é efusivo. ?Foi muito azar dela. Eu soube da história porque tenho amigos petistas em Paris que a tinham convidado para um jantar. Ela desmarcou dizendo que tinha compromissos de trabalho. Uma hora depois, eles a encontraram jantando com o Favre?, diz.

Alguns arroubos jornalísticos já lhe renderam quase 30 processos na Justiça (alguns deles ainda na época do governo Collor). Ele não liga. ?Dinheiro para pagar advogados já faz parte do meu orçamento, como pagar aluguel e luz?, afirma. Ele foi processado pelo ex-presidente da Infraero por ter denunciado um contrato ?estranho? na área de informática. Por um marketeiro espanhol, que chamou de ?El brujo?. Volta e meia, chega a seus ouvidos a notícia de mais um processo. ?Soube que o Serra também queria me processar. Mas ainda não me deu essa honra?, diz. ?Soube que o David Zylberstejn também quer. Mas ele, pelo conjunto da obra. Estou esperando?, diz.

Claudio Humberto afirma detestar as mentiras do dia-a-dia. ?O Fernando Henrique se gaba em público de não precisar tomar remédio. Eu fui lá e publiquei a farmácia que ele toma por dia?, diz. Outra característica é o mar de apelidos que ele inventa. Paulo Henrique Cardoso, filho de FHC, é chamado de ?Baby Nando?. Pedro Parente, ministro da Casa Civil, é o ?Czar das Trevas?.

A passagem pelo governo Collor fez mal à biografia de muita gente. Com Claudio Humberto não foi diferente. Ele prefere se manter afastado do ex-presidente. ?O Collor é um problema na minha vida?, diz. ?Mas deixa eu explicar melhor: eu não posso bater nele gratuitamente porque senão dizem que estou cuspindo no prato que comi. Se dou nota isenta, dizem que ainda sou seu porta-voz. É uma situação muito incômoda?, afirma. Desde que voltou para Brasília, há seis anos, depois de uma temporada como adido cultural em Portugal, Claudio Humberto diz ter tido pouco contato com Collor. ?Sei que vou falar com ele no Natal e no meu aniversário. Só?, conta.

Incomoda Claudio Humberto o fato de até hoje algumas pessoas o ligarem à figura de Collor. ?Até hoje me pedem o telefone dele. Eu nem sequer tenho o número?, diz. Quem o conhece sabe que a identificação entre ambos hoje é zero. ?Dei uma única nota sobre ele. E ele nem gostou porque sua família ficou sabendo da história pelo jornal. Foi quando ele tinha reconhecido o filho, James Fernando, que teve fora do casamento?, diz. ?O Collor é o único grilinho que tenho?, afirma."

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