Por que o boicote é irresponsável

PROVÃO III

Lamento a incompreensão dos articulistas que me precedem sobre o meu artigo da semana passada [veja remissão abaixo]. Primeiro, porque eles parecem incomodar-se muito com opiniões que fogem daquelas que eles partilham e comungam e, talvez por isso, leiam com desatenção o texto de alguém de quem muitas vezes discordam a priori.

Não se preocupem, o Observatório da Imprensa vai continuar a divulgar seus textos, mesmo alguns acusando a mim e a outros de má-fe. Deixa para lá. Prefiro usar argumentos.

O fato de eu ser membro da Comissão do Provão e ser, no fundamental, favorável ao Provão não elimina o fato de que tenho todo o direito de me expressar sobre a forma de protesto que os estudantes adotam.

Os dirigentes da Enecos estão propondo a primeira e única forma de protesto coletivo onde os manifestantes não correm nenhum risco. Escondem-se atrás do sigilo da sua própria nota para ? repito, de forma covarde ? impor uma nota negativa ao curso que lhes deu formação profissional.

Ora, a perversidade do Provão está no fato de que se a nota do aluno é sigilosa, o conceito da sua escola não é. O aluno que "boicota" entregando a prova em branco está punindo a sua própria escola e preservando o MEC.

Qualquer protesto decente, responsável e corajoso deveria atingir o MEC e preservar a instituição que o aluno representa.

"Boicotar" entregando a prova em branco é mole.

Se a Enecos tem a força que tem, se os estudantes de fato são contrários ao provão, que tenham a coragem de não comparecer. Deixam de punir a escola e criam um fato político de peso.

Eu quero ver o MEC deixar de entregar o diploma a 15% ou mais dos alunos de Jornalismo, porque estes, num protesto político, deixaram de comparecer ao provão. Hoje, quem entrega a prova em branco recebe o seu diploma normalmente. E sua escola, recebe um conceito "E".

O ministro, a quem os estudantes pretendiam atingir, continua absolutamente preservado. A forma de "boicote" proposta pelos alunos, repito e aguardo argumentos contrários, é covarde e irresponsável.

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