CASA BRANCA
No dia 26 de janeiro, o jornal americano Washington Post publicou reportagem que começava da seguinte forma: "Funcionários do governo Bush disseram ontem que estão catalogando numerosos atos de aparente vandalismo que funcionários públicos atribuem a assessores do ex-presidente Bill Clinton, incluindo o corte de linhas de telefone, mensagens obscenas e o roubo de taças de champanhe no Air Force One, o jato presidencial".
A história, iniciada com uma fofoca no Post que dizia que a letra "W", inicial do segundo nome de Bush, havia sido retirada dos teclados dos computadores da Casa Branca, virou destaque na mídia americana, disse Jack Thomas [The Boston Globe, 28/5/01].
Enquanto os assessores de Bush resolviam o caso secretamente, Anne E. Kornblut, da sucursal de Washington do Boston Globe, publicava matérias céticas. No dia 25 de janeiro, por exemplo, a secretária de Imprensa do governo, Ari Fleischer, aumentou as suspeitas ao se recusar a confirmar ou negar as notícias. No dia seguinte, Kornblut escreveu que não havia evidências que comprovassem os atos.
Em 18 de maio, a Administração de Serviços Gerais (GSA) revelou ter descoberto que não houve vandalismo pelos "clintonetes" de saída. "Era uma matéria boa e queríamos escrever, mas qual era a base?", disse o editor do Globe John A. Farrell, que preferiu seguir o conselho do editor-chefe David Shribman de ignorar a pressão e seguir as velhas regras do bom jornalismo.
Depois da divulgação do relatório da GSA, o Post publicou artigo da Knight Ridder de sete parágrafos sobre o assunto, na página 13. De acordo com Howard Kurtz [The Washington Post, 28/5/01], o New York Times e o Washington Times escreveram reportagens próprias com chamada de capa. O Chicago Tribune publicou matéria de quatro parágrafos. O USA Today não deu nada. Nenhuma menção foi feita também pelo programa Today da NBC, que transmitiu as acusações.
"Devíamos ter escrito reportagens com nossa própria equipe, dada a repercussão que teve a reportagem original", disse Michael Abramowitz, editor de Geral do Post. "Isso provavelmente foi um erro de nossa parte." Ele lembra que o Post não deu suíte ao caso em janeiro e fevereiro.
Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca, advertiu os repórteres na quinta-feira, 31/5, para que pensem antes de sair em busca de reportagens sobre os problemas que envolvem as filhas adolescentes do presidente Bush, sugerindo ser este um assunto privado. O aviso veio um dia depois de as gêmeas Jenna e Barbara Bush, de 19 anos, serem pegas tentando comprar bebida alcoólica com documentos falsificados. No Texas, só maiores de 21 anos podem beber.
Segundo Mark Simon [San Francisco Chronicle, 1/6/01], o alerta pode servir para uma reflexão por parte da mídia sobre a invasão da vida privada de pessoas públicas e suas famílias. No entanto, especialistas garantem que, de acordo com a cobertura dos casos até o momento ? não é a primeira vez que as filhas do presidente se metem em confusões legais desse tipo ?, o aviso não se justifica. As reportagens são legítimas, e não superdimensionaram a história.