MILLÔR VOLTA AO JB
"Millôr voltou", copyright Jornal do Brasil, 10/06/01
"Ele nasceu em 16 de agosto de 1923, mas nos verbetes de enciclopédia aparece assim: ?Fernandes, Millôr (Rio de Janeiro, RJ, 27/5/1924 – )?. Descuido do seu pai, Francisco, que demorou a registrá-lo. Descuido maior foi o do escrivão, que, em vez de escrever na certidão ?Milton?, criou um neologismo: ?Millôr?. Aos 18 anos, quando, mais uma vez tardiamente, descobriu seu real nome, ele já publicava desenhos na imprensa e resolveu cumprir a vocação de pseudônimo artístico do erro do escrivão. Millôr, então, passou a ser, tanto em traços quanto em palavras, sinônimo de humor inteligente, inteligência bem-humorada e aversão a hipocrisias, falsidades e afins. Aos 77 anos (de vida e de certidão), é este Millôr que volta a partir de hoje, depois de oito anos, a ser colunista do Jornal do Brasil: aos domingos, na contracapa do Caderno B; de terça a sábado, na página de opinião.
Entre os muitos amigos de Millôr, a reação é de entusiasmo com o retorno, mas um entusiasmo com estilo, cada qual com o seu. Luis Fernando Verissimo, escritor e desenhista talentoso como o amigo de longa data, é sucinto: ?Ele é o nosso melhor exemplo. De tudo.? João Ubaldo Ribeiro é taxativo: ?Não tenho dúvidas de que a coluna vai ter a mesma importância que já teve um dia, porque ele continua o mesmo.? Já Ziraldo, através de um fax, é mais prolixo:
?Juntar Millôr Fernandes com Jornal do Brasil é nitroglicerina pura. Esta soma fará da coluna uma das mais poderosas da imprensa brasileira. De novo! Para se ter idéia da importância que esta coluna teve no JB há algum tempo, basta lembrar que um simples elogio do Millôr à literatura de José Saramago transformou o autor português num best-seller brasileiro. Fato confirmado várias vezes pelo próprio Saramago. Para saudar este reencontro, faço uma paródia ao versinho que Drummond fez para o Pedro Nava:
?Meu amigo Millôr Fernandes
/voltou para o Jornal do Brasil
/Parabéns ao Millôr Fernandes
Parabéns ao Jornal do Brasil.?
Shaw e Steinberg – O início de vida tão desencontrado, com duplo batismo e dupla data de nascimento, já devia estar indicando que Millôr não seria um brasileiro qualquer, nem homem de um instrumento só. Ele toca sete ou mais: jornalista, escritor, desenhista, humorista, frasista, tradutor, dramaturgo, roteirista de cinema… Para associá-lo a dois ídolos seus, uma mistura nacional de Bernard Shaw e Saul Steinberg. Ou um renascentista contemporâneo, o que, em vez de contradição, é casamento feliz: num mundo fincado no caos, Millôr chega com a clareza. E tudo feito com humor, leveza, sinceridade e com as armas dos tempos modernos – a informática é uma deles; a concisão é outra. Nostalgia barata não é com Millôr.
E olha que na história da imprensa brasileira ele estrelou grandes momentos: trabalhou na época áurea de O Cruzeiro; ajudou a fazer de Pif-paf e O Pasquim publicações muito maiores do que o tamanho delas; fez das colunas em Veja, Istoé e JB referências nacionais, e ainda criou nas páginas personagens históricos como Emmanoel Vão Gogo. ?Millôr é o paradigma dos cartunistas brasileiros. E ele deu ao lugar do humorista uma dignidade e uma seriedade que ninguém conferia?, diz o cartunista Claudius.
Traduções – No teatro, Millôr é o autor de peças marcantes como É… e Computa, computador, computa e tradutor constante de Shakespeare, Molière, Tchekov entre outros desse naipe. ?Ele é o tradutor que conseguiu transformar grandes obras do teatro mundial em grandes peças brasileiras?, resume o crítico Sábato Magaldi.
E Millôr é um artista em plena atividade. Acabou, por exemplo, de assinar seu nome num grande painel que pintou para o Fleury – Centro de Medicina Diagnóstica, em São Paulo. Afirmando sempre que não há muita diferença entre lenda e realidade, Millôr continua colorindo o próprio mito sem tirar os pés, olhos e o cérebro do cotidiano. Um cotidiano mais uma vez ligado ao JB."
JABOR DEIXA A FOLHA
"Arnaldo Jabor deixa a ?Folha de S. Paulo?, após quase 10 anos como colunista", copyright Último Segundo, 8/06/01
"Após quase uma década escrevendo colunas para a ?Folha de S. Paulo?, o cineasta Arnaldo Jabor deixa o jornal.
Em entrevista ao Último Segundo na noite desta sexta-feira, ele disse que não vai renovar o contrato. ?Não cheguei a um acordo financeiro, inclusive, com o jornal.?
O artigo intitulado ?Golpistas querem provar que democracia é impossível?, na Ilustrada da última terça-feira, foi o último de Jabor a ser publicado pela Folha. Ele é colunista também do jornal O Globo.
O jornalista consagrou-se como cineasta ao dirigir alguns dos filmes mais marcantes da cinematografia nacional, como ?Opinião Pública? (1967), ?Pindorama? (1971), ?Toda Nudez Será Castigada? (1973), ?O Casamento? (1975), ?Tudo Bem? (1978), ?Eu Te Amo? (1981) e ?Eu Sei que Vou Te Amar? (1985).
Em 1991, Jabor deixou o cinema para seguir a carreira jornalística por motivos financeiros. Ele mesmo explica a razão da desistência: ?Em março de 1990, Collor e seu fiel escudeiro, Ipojuca Pontes, transformaram o cinema brasileiro num pesadelo. Meus projetos foram por água abaixo, me vi sem um tostão e tive que procurar emprego?, contou anteriormente.
Como articulista, Jabor fala – com muita ironia – de política, do governo, da oposição, de reforma agrária, de globalização e de tudo que estiver na pauta de prioridades nacionais.
Apesar de se consagrar inicialmente como cineasta, muitos o identificam pelo trabalho na imprensa. ?Considero Arnaldo Jabor, como ensaísta, um dos mais brilhantes do jornalismo brasileiro contemporâneo?, disse certa vez Antônio Cândido.
A atriz Fernanda Montenegro lembra que Jabor ?jamais perde a nitidez do seu discurso?, que ?contamina a nossa percepção como leitores?.
No papel de diretor de filmes, Jabor é citado como ?o cineasta da palavra?, por Jô Soares. Já André Franco Montoro ressalta como característica fundamental do artista sua sensibilidade para os problemas mais agudos da sociedade brasileira. Os depoimentos sobre Arnaldo Jabor foram coletados pela Editora Objetiva."