JORNAL DO BRASIL
"Deu no JB", copyright Jornal do Brasil, 11/6/01
Já se disse que liberdade de imprensa não é a possibilidade de alguém publicar o que quer num determinado jornal, mas a pluralidade dos órgãos de imprensa pendurados nas bancas. Este jornal sente-se honrado em ser uma espécie de banca, veiculando opiniões de seus colunistas e articulistas, constantemente divergentes de seus próprios editoriais, como também é o caso das críticas de leitores que se seguem.
Adquiri o hábito de ler diariamente o JB com meu pai, há mais de 25 anos (tenho 42). Durante esse tempo, aprendi a admirar o jornal pelo espírito liberal (no bom sentido) e progressista que sempre o caracterizou, desde sua fundação. Ultimamente, porém, os editoriais do jornal têm estado cada vez mais deploráveis, funcionando como verdadeiros panfletos (mal escritos, por sinal) de apoio a Fernando Henrique e, mais recentemente, a ACM. Reconheço, contudo, que o apoio ao presidente da República não é hoje tão descarado como há alguns anos, quando prevalecia o malfadado pensamento único, ao qual aderiu vergonhosamente o JB, nivelando-se à imprensa servil de tão triste história no país. Nesse sentido, os editoriais já publicam algumas linhas com discretas críticas ao ?imperador?, mas ainda é pouco, muito pouco para um jornal com a história do JB. Talvez leve muitos anos para o jornal recuperar o prestígio de que sempre desfrutou durante sua longa trajetória de participação ativa e influente na vida pública do pa ís. Esse quadro patológico de desvio de conduta do jornal culminou, recentemente, com as seguidas declarações de amor dirigidas ao ex-senador ACM, representante maior do atraso que assola o país desde sempre. O editorial Palavras e Atos, de 31/5, ilustra tudo isso, fazendo uma defesa envergonhada do ?renunciado? baiano. O que está por trás de tamanha subserviência? Como um jornal com a importância do JB se atrela a um político tão retrógrado? Para mim, como leitor e assinante, essas são as perguntas que não querem calar. Ecio Tadeu Moraes Pedro ? Rio de Janeiro.
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O editorial ?Palavras? e Atos demonstra coerência na linha jornalística adotada pelo JB, tanto quanto o Faça-se Justiça, publicado em 23/5. Coerência estúpida, mas ainda coerência. Creio que este jornal foi o único do país a defender a não cassação de ACM e, agora, a fazer o elogio de seu melancólico e destemperado discurso. E a dizer que ACM, ?ao devolver o mandato de senador, depois de exercer por dois períodos consecutivos a presidência daquela Casa, legou à história um dos altos momentos históricos da vida política… Para ele a ética implica na renúncia aos interesses pessoais, na linha da coerência política com a qual seus pensamentos, palavras e atos podem ser confrontados.? Belisquem-me, por favor! Não pode ser o JB. Avalizar a prática política de ACM é compactuar com o que há de mais retrógrado e reprovável na conduta de políticos. O JB acolhe em suas páginas comentaristas políticos dos mais lúcidos e respeitados no país: Dora Kramer, Villas-Bôas, Moacir Werneck, unânimes em reprovar, com inteligênci a e firmeza, as palavras e os atos do coronel baiano, desbancado do seu trono. Quem sabe não se daria o caso de eu não estar alcançando a fina ironia com que, talvez, o JB esteja tratando o fato e seu protagonista-mor? Oxalá seja eu o louco varrido nessa história sem nexo. Francisco S. Gonçalves ? Rio de Janeiro.
Totalmente equivocado o editorial Fora do Limite, de 3/6, quando endossa as críticas feitas pelos representantes do governo federal ao Dr. Rubens Approbato, presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, em razão do correto, perfeito e patriótico discurso realizado quando da posse do ministro Marco Aurélio como presidente do Supremo Tribunal Federal. O Dr. Rubens Approbato expressou a voz do povo, que não agüenta mais os desmandos praticados pelo déspota Fernando Henrique na condução da vida administrativa do país. A questão das Medidas Provisórias é o principal impasse existente dentro da Constituição da República promulgada em 1988. Com a eleição do Sr. FH considerei que esse assunto iria ser resolvido no primeiro mandato. Não devemos esquecer que o Sr. presidente foi constituinte e tinha perfeito conhecimento do impasse existente. É importante notar também que o que aconteceu no governo Collor era o suficiente para que fosse modificado o dispositivo constitucional, impondo a sua alteração para limitar os assuntos, bem como as suas reedições. Tanto isso é verdade que o Sr. Nelson Jobim, então deputado, atual ministro do STF indicado pelo Sr. FH, formulou o projeto que até hoje tramita pelo Congresso Nacional sem qualquer solução. Contudo, passados todos esses anos, podemos afirmar que o Sr. FH nunca teve interesse verdadeiro na solução desse problema. Realmente, se tivesse alguma vontade política, teria concretizado no seu primeiro governo. Agora, então, depois de levar o país a pique com a crise de energia, é que não vai fazer nada mesmo. Se fizer alguma coisa será ao apagar de alguma vela de sete dias, logicamente para prejudicar o seu sucessor que, possivelmente, será da oposição. Daí ser totalmente correto o discurso do brasileiro e patriota Rubens Approbato, que teve a coragem cívica de dizer na cara do Sr. presidente, sem meias palavras, o que o povo fala nas ruas. Quanto às palavras do ?advogado? geral da União, o Jornal do Brasil deveria ter cuidado ao reproduzir e endossá-las nos se us editoriais, pois não passam de sandices. Rogerio D?Angelo ? Rio de Janeiro.
A repórter Cristiane Costa, ao incluir o respeitado sociólogo italiano Domenico De Masi entre os piores da Bienal do Livro (Idéias de 26/5) não cometeu apenas uma injustiça. Parece um caso típico de ?não li e não gostei?. É lamentável que uma jovem jornalista se mostre tão pouco idealista ao comentar as idéias de um pensador não tão jovem (61 anos), mas que transmite uma visão não só revolucionária (radical, para os conservadores empedernidos), como historicamente bem fundamentada. Em Economia do ócio, ele reitera suas lúcidas análises anteriores e recupera textos de Bertrand Russel (O elogio ao ócio, 1935) e Paul Lafargue (O direito ao ócio, 1880) para mostrar que precisamos redistribuir nosso tempo entre trabalho, estudo e lazer de forma mais equilibrada e igualitária, usando os recursos tecnológicos não só para produzir e consumir cada vez mais, mas para enriquecer nossas vidas com conhecimento e criação. De Masi não defende a preguiça, mas o ócio criativo, que mistura o trabalho com o estudo e o diverti mento. Defende o teletrabalho, os horários flexíveis, a redução das jornadas para redistribuir as oportunidades. Se o aumento de produtividade proporcionado por uma nova tecnologia permite produzir o mesmo em menos horas, deve-se demitir ou reduzir a jornada dos trabalhadores? De Masi usa a palavra ócio de forma provocativa, mas no fundo seu modelo de sociedade é muito mais produtivo e justo do que o atual. Segundo ele, os países em desenvolvimento não podem se conformar com o papel que lhes é imposto pelo Primeiro Mundo: o de se dedicar à produção de bens materiais. Diferentemente do que diz a repórter, De Masi não ?repete, em A economia do ócio, a lengalenga utópica de que o capitalismo vai por livre e espontânea vontade permitir que seus trabalhadores diminuam as horas de labuta para que todos tenham mais empregos?. Pelo contrário, ele reforça, com argumentos irrefutáveis, a idéia de que a sociedade e o próprio capitalismo, para sobreviver, dependem de uma revisão nos conceitos de trabalho e tempo livre. Não será uma iniciativa espontânea dos acomodados detentores do poder, mas uma reação da parcela mais esclarecida da sociedade, que ainda existe, apesar da descrença de muitos. E os formadores de opinião, que têm no caderno Idéias um espaço importante, deveriam ser os primeiros a enxergar isso. Antonio Taliberti ? Rio de Janeiro."