Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Débora Rubin

ASPAS

NBR E "ARTE E CULTURA"

"Canal do Minc cresce, mas não resolve problema com NBR", copyright Valor Econômico, 5/06/01

"A TV Cultura e Arte, canal do Minc (Ministério da Cultura), completou um mês de existência na quinta-feira, aumenta seu público este mês, mas continua sem resolver a pendenga com a Net, que tem 12 praças, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, e não exibe o canal. Em seu lugar está o NBR, canal do governo federal.

Previsto pela Lei n? 8.977, de 1995, a TV Cultura e Arte ocupa, na TV paga, a faixa destinada a um canal produzido por órgãos educativos ou culturais (federais, estaduais ou municipais). Mas a Net alega que essa faixa já está sendo utilizada, nessas 12 localidades, pelo NBR.

A lei diz que as operadoras de TV paga têm de destinar seis espaços para canais públicos, que são, atualmente, ocupados pelas TVs Senado, Câmara, Assembléia e pelos Canais Comunitário e Universitário. O sexto, educativo-cultural, até a criação do TV Cultra e Arte era pouco explorado. Em algumas cidades já era utilizado, como no Rio de Janeiro, cuja secretaria de Educação mantém o MultiRio.

Mas o governo federal utiliza irregularmente esse espaço na Net, pois sua programação não tem o cunho educativo ou cultural. Para quem nunca viu, trata-se de um canal de propaganda do governo federal, que mostra exaustivamente as atividades do presidente Fernando Henrique.

Como o Ministério da Cultura é governo federal, o secretário do Audiovisual e responsável pelo canal, José Álvaro Moisés, diz apenas que vai ?resolver o problema da melhor maneira possível?. ?Somos canais irmãos?, justifica o secretário. Resolver da melhor maneira possível significa, na melhor da hipóteses, dividir a grade de programação com o NBR nas 12 praças da Net. Tal resolução manteria a operadora e o canal federal, que pertence à Radiobrás (agência de notícias do governo), em situação ilegal.

Não podendo criticar diretamente o NBR, o secretário de Comunicação do governo, Andrea Matarazzo (responsável pelo canal federal), e, por fim, o próprio governo, Moisés passa a bola para a Net: ?É uma questão de mercado; logo eles vão perceber que poderiam ter um produto de melhor qualidade em mãos.?

Enquanto não é resolvido ?da melhor maneira possível?, longe do âmbito das leis, o canal continua sendo exibido pela TVA pelas operadoras agregadas à Neo-TV e por outras praças da Net (ao todo são 67) que querem o TV Cultura e Arte no espaço que lhe é de direito. Um sinal de que, segundo Moisés, sua programação de qualidade está chamando a atenção.

A partir do dia 18, o canal se expandirá não só para as afiliadas da Net interessadas, mas também via satélite, pela banda C, para a TV Escola. O acordo fechado com o Ministério da Educação permite que a TV Cultura e Arte, criticada inicialmente por ser restrita aos poucos assinantes da TV paga, atinja um público potencial de 30 milhões de telespectadores das classes C, D e E.

A partir de sábado, o canal passará a ter oito horas diárias – por enquanto são só duas. Além do investimento de R$ 2,2 milhões previstos para os dois primeiros anos, o canal prevê mais R$ 2 milhões em compras de filmes e documentários e em expansão."

LUDOPÉDIO

"É gooool (da França). Que felicidade", copyright Jornal do Brasil, 10/06/01

"Foi com júbilo que recebi a notícia da derrota do Brasil para a França na quinta-feira passada. Que maravilha! ?Le jour de gloire est arrivé!? O escrete canarinho perde por merecimento, por convicção, por princípio. É a (anti)epopéia da derrocada pátria, que dá na gente um prazer quase maligno, mas legítimo.

Eu, por exemplo, desisti da condição de torcedor. Não suporto mais esse tal de futebol brasileiro. Não agüento ouvir os nomes dos cartolas que enriqueceram vendendo as cores da bandeira nacional. Não tolero vê-los na TV, nas colunas sociais. Não consigo conviver com a empáfia precoce dos craques made in Brazil, com suas entrevistas na linha do ?se Deus quiser, graças a Deus?, seus 200 pares de tênis, seus jipes de luxo, seu profissionalismo tipo exportação. Abomino a obediência adestrada que eles devotam aos patrões. A disciplina atlética no Brasil da CBF pressupõe uma estupidez muscular, cultivada à base de anabolizantes. O mesmo vale para a torcida. Não engulo a torcida. Por mais que me esforce, não vejo nas multidões saltitantes uma alegria espontânea, um exercício de liberdade coletiva. Vejo carneiros em fila, quando são pacíficos. Nos momentos de pancadaria, vejo grupos paramilitares em pelotões desgovernados. A torcida e suas duas faces: a boazinha faz micagens para aparecer na tela da Globo, levando cartolinas com dizeres oblongos para o conhecido Galvão Bueno; a delinqüente dá tiros a esmo, pratica artes marciais contra a fuselagem de ônibus circulares, grita ô-ô-ô de braços dados como se latisse atrás do portão gradeado.

Mais que os crimes de sangue praticados por torcedores em bandos, o que mete medo é esse rumor da servidão militarizada. Assassinatos e cadáveres pisoteados também têm lugar nas arquibancadas de outros países, mas a servidão cega, esse prenúncio do fim do mundo, isso é a manifestação genuína das piores trevas nacionais. Entre nós, as torcidas são erupções de força bruta. Em todos os níveis. Elas batem, berram e votam com idêntica irracionalidade. Enfileiradas nos estádios, intimidam a polícia. Compactadas nas urnas, elegem cartolas para as poltronas do Congresso Nacional. Trevas no parlamento.

Sinto muito, sei que há torcedores inteligentes, críticos, assim como sei que há atletas cujas posturas exerceram uma admirável profilaxia no mundo obtuso da CBF (lembro os esforços do Dr.Sócrates e seus companheiros, que tentaram implantar o projeto da ?Democracia Corinthiana?). Não quero desrespeitá-los. Mas, olhando de longe o planeta futebol, não tenho dúvidas: as regras que regem a turba futefanática, dentro e fora dos estádios, são regras de beligerância, primitivas, opacas, opressoras e violentas. É um desastre. Não tem salvação.

Vejo o futebol nacional como um organismo sombrio e gosmento, um todo cujas partes coesas o prendem ao atraso. O futebol é uma sanguessuga no passado. Uma sanguessuga coerente, perfeita. A cartolagem, que vive dos louros de outrora (e dos ouros do presente), pede a corrupção. A corrupção pede o servilismo emudecido. As relações trabalhistas que prendem os atletas aos clubes lembram o escravismo. Os jogadores, para melhor servir aos cartolas, são desarticulados, obedientes e sorridentes. Perfeitos para emular as massas homicidas que chacoalham na geral. É o mundo bestial do autoritarismo e da impunidade, de cima a baixo.

Ao menos me resta o prazer de usufruir o fracasso. Adoro ver os canarinhos quando perdem. Adoro vê-los correndo de volta para o túnel que os conduzirá ao vestiário, com aquele ar de quem não entende o que se passa à sua volta. Bem feito. O que é um jogador, afinal? É um homem-placa, mais ou menos como aqueles senhores aposentados no centro das grandes cidades que se vestem com um colete feito de dois cartazes, um no peito, outro nas costas: ?Compro ouro?. O jogador é um homem-placa que tem um público mais diversificado, que propagandeia produtos esportivos e, detalhe, joga bola. O negócio do jogador de futebol não é o futebol – o futebol é apenas um pré-requisito -, o negócio dele é o logotipo com o qual se fantasia. É também este o negócio do técnico, dos cartolas e, por fim, das massas amestradas, que dão calor e legitimidade ao circo. Sem elas, nada feito. O que aconteceria se as massas fizessem um boicote, recusando-se a comparecer aos jogos? Não daria certo: a TV distribuiria prêmios milionários, pagaria cachês, ofertaria sanduíches de mortadela, como acontece nos programas de auditório, e quebraria o boicote.

Em 1970, a gente cantava ?90 milhões em ação?, numa referência ao número de habitantes do país. Hoje, o mesmo hino teria um sentido mais cambial: ?90 milhões de dólares em ação?. Em 70, a ditadura usurpou a alegria do povo. Agora, o comércio é quem usurpa. Chega, cansei. Torço contra. Só a derrota, fragorosa, varrerá de cena os usurpadores encartolados, que transformaram o futebol no último refúgio da ética do ?rouba mas faz?. Só a derrota, espetacular, reeducará a torcida que, sim, ama o drible e o gol de placa, mas, acima disso, ama ser tiranizada."

"Em 98, mídia levou olé", copyright Jornal do Brasil, 7/06/01

"Meninos, eu estava lá – e como todos os outros 500 coleguinhas encarregados da cobertura da Seleção para os jornais brasileiros posso repetir: meninos, não vi nada. Foi um dos maiores fracassos jornalísticos da história. Como se Rubem Braga, enviado para a cobertura da Guerra na Europa, não tivesse sabido do sucesso da invasão de Dunquerque. Como se Joel Silveira, de terno alugado, não conseguisse entrar no casamento dos Matarazzo em São Paulo.

O monumental pelotão de repórteres brasileiros encarregado na Copa da França em 98 quase caiu para trás no momento em que chegou na tribuna do estádio de Saint-Dennis e leu a escalação do time: Edmundo no lugar de Ronaldinho. Galvão Bueno, é só rebobinar o teipe da Globo, gritava: ?deve haver algum engano.? Não havia. Ronaldinho até acabou entrando. Mas, como todos sabem, não jogou.

Protesto-68 – Na partida do Brasil contra a Holanda, em Marselha, Chico Buarque de Holanda, que escrevia crônicas para um jornal carioca, não se levantou durante a execução do Hino Nacional. Tinha sido o momento mais interessante, embora com um sabor de protesto-68, da tribuna de imprensa naquela maratona de jogos. Nesses lugares, repletos de homens e laptops aflitos, fuma-se e roem-se as unhas. Cinco minutos antes da partida terminada, o fuso horário jogando contra, as matérias já estavam no Brasil.

Foi um erro monumental de estratégia e certamente os jornais não vão repetí-lo em 2002 – se é que o Brasil vai se classificar para o Japão/Coréia, se é que os custos monumentais da operação deixarão os jornais enviar equipes. Não havia repórteres na porta da concentração quando o ônibus da Seleção saiu para o estádio no subúrbio de Paris. Primeiro porque todo mundo queria, sim, cumprir bem sua missão profissional, mas acima de tudo ver o Brasil ganhar o penta, recolher uma história para contar aos netos – e não um ônibus arrancando. Depois porque esqueceu-se de uma regra elementar daquele chefe de reportagem da equipe do Herbert Moses: ?meu foca, cola no astro?.

Ronaldinho, o maior de toda a constelação, teve uma convulsão, foi dado como quase morto, ressuscitou com os solavancos de Roberto Carlos, foi numa ambulância até um hospital, tirou radiografias e quando entrou no vestiário de Saint-Dennis seus colegas não acreditaram: ?I see dead people?, deve ter pensado algum deles, com mais sexto sentido e ligado nas coisas cinematográficas. Os jornalistas nem isso. Só foram saber quase seis horas e três gols depois. Até hoje ninguém sabe, de fato, se sabe o certo.

Barriga – Em linguagem de redação o apagão de Ronaldinho foi uma barriga, o contrário daquela, vitoriosa, do Renato Gaúcho. Foi o lance que decidiu a Copa. E ninguém viu – e justo repórteres orgulhosos de ganharem a vida com o que é anotado por seus olhos de lince. Milhões foram gastos, milhares de patrocínios descolados, para mandar aquela tropa de homens com faro de perdigueiro – e, talvez com as sensitivas tomadas pelo camembert onipresente, ninguém farejou nada.

Foi como se Gay Talese partisse para o perfil célebre com Frank Sinatra e não percebesse o detalhe fundamental – o cantor resfriado é como Picasso sem tintas. Ronaldinho tromba na grande área com Barthez, fica no chão, paralisado, em posição fetal – e na tribuna de imprensa ninguém anota o detalhe que deveria ir par o lead: os outros jogadores brasileiros correm em direção ao corpo estendido no chão com o mesmo desespero de quem se aproxima de um ente querido que acabou de bater as botas, no caso, as chuteiras.

Meninos, eu estava lá e também não vi nada disso. Bastava alguém na porta da concentração para conferir o ônibus e contar os carecas: faltava um. Uma das cenas mais intrigantes daquela tarde em Saint-Dennis é o momento em que, perfilados para ouvir o hino, todos de mãos dadas, Leonardo dá uma balançada enérgica na mão de Ronaldinho, como se dissesse ?acorda, cara?. Está no vídeo também. Mas agora é fácil investigar o passado através da leitura gestual. Difícil era abafar a traição e abaixar o arrepio durante a execução da Marselhesa.

Abbey Road – Hoje, três anos após o fracasso de jornalistas e jogadores, ficou fácil decifrar até aquela foto do Ronaldinho descalço, com a chuteira dourada amarrada no pescoço após o jogo. Parece alucinação, como a dos gatinhos da Internet, mas é sempre bom lembrar – como é que os senadores da CPI da Nike não especularam com isso? – que Paul McCartney também estava descalço na célebre capa de Abbey Road. Ele estaria morto (os cadáveres são enterrados assim na Inglaterra), e os Beatles blefavam com um clone na capa.

Desde aquele jogo no Saint-Dennis, Ronaldinho entrou em campo 35 vezes. E, quem há de negar?, em todas elas parecia apenas um clone mais fantasmagórico e gordinho do Fenômeno – o Assombro. Seria uma boa piada e uma saída para o fracasso da imprensa. Jornalistas têm olho de lince mas ainda não vêem dead people."

REDE GLOBO

"Rede Globo muda linha editorial do ?Jornal Hoje?", copyright Folha de S. Paulo, 8/06/01

"No ar há 30 anos, o ?Jornal Hoje?, telejornal vespertino da Globo, vai mudar sua linha editorial a partir de julho. Passará a ter dois âncoras, Carlos Nascimento e Carla Vilhena, e ficará ?informal e desconversado?, em novo cenário, segundo Amaury Soares, diretor da Central Globo de Jornalismo em São Paulo.

O ?Jornal Hoje? ficará mais parecido com o ?SP TV?, com âncoras interagindo com repórteres e comentaristas. Sua duração, sem contar os intervalos, passará de 19 para 28 minutos.

O telejornal vai manter o noticiário nacional e internacional, mas investirá em mais reportagens voltadas para crianças, adolescentes e donas-de-casa. Há 30 anos, inicialmente apenas no Rio, o ?Jornal Hoje? era uma ?revista? com ênfase em cultura.

As mudanças são uma ofensiva da Globo para tentar melhorar a audiência do telejornal, que vem empatando em 13 pontos no Ibope com ?Os Simpsons?, do SBT.

Já na próxima semana, o jornalista Carlos Nascimento deixa o cargo de editor-chefe do ?Hoje?. Marco Antônio Rodrigues assume a vaga. Patrícia Poeta será efetivada como co-apresentadora do ?SP TV?, e Mariana Godoy, do ?Bom Dia São Paulo?."

"Ficou mais barato anunciar na novela das 8", copyright CidadeBiz (www.cidadebiz.com.br), 10/06/01

"A Globo está promovendo uma ?democratização? em sua programação: agora as inserções de publicidade de 10 segundos são aceitas em todos os horários e chegam custar metade do preço dos tradicionais comerciais de 30 segundos.

O formato, que era restrito aos horários noturnos e a alguns diurnos, vale para o mercado nacional, para uma inserção por dia em cada programa. A restrição fica para o horário do Esporte Espetacular.

Na média, uma inserção de 30 segundos na novela das 8 da Globo custa pouco mais de 148.000 reais. O desconto indicado para as agência é de 50%, portanto a inserção de 10 segundos sai por pouco mais de 74.000 reais. E a de 15 segundos é indicada na tabela da Globo com fator de desconto de 25% a até 50% (entre 111.000 reais e 74.000 reais).

Segundo Toninho Rosa, da Dainet, esta pode ser uma boa opção porque as verbas para publicidade vêm sofrendo cortes. Ele diz que ?se for uma idéia concisa, 10 segundos bastam, e atendem ao cliente com eficiência?. Mas é preciso pesar bem se vale a pena, porque dependendo do caso o formato de 10 segundos pode ficar no mesmo preço do de 15."

    
    
              

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