JORNAL DO BRASIL
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A importância das usinas nucleares no Brasil, não só para restabelecer o equilíbrio da oferta e da demanda de energia mas também para ajudar a resolver o problema do aquecimento do planeta, é o assunto principal da seção de hoje, que também abriga crítica de um leitor sobre a pretensa solidariedade do JB com o estresse dos magistrados fluminenses.
Não consegui achar justificativa plausível para a referência a Angra 3 no editorial Ducha Fria, de 16/6, sobre a posição de Bush em relação ao Protocolo de Kyoto. Todos nós sabemos que sem as usinas nucleares, é impossível o cumprimento das metas do Protocolo. Mesmo a Alemanha, que vem adotando medidas para abandonar a energia nuclear, após, claro, o fim da vida útil das 19 usinas em operação, terá enormes dificuldades de cumprir
as suas metas. Estudo denominado Dilema, elaborado pela conceituada empresa inglesa ERM, demonstra claramente esse fato. As emissões de CO2 evitadas pelas usinas nucleares no mundo atingem o valor de 1,8 bilhão de tonelada.
Uma usina como Angra 2 evita emissão de 4 a 6 milhões de toneladas de CO2 por ano. Estarei apresentando na última semana deste mês, em uma conferência em Buenos Aires, trabalho que realizei sobre a relação da energia nuclear com o aquecimento global. Demonstro que a energia nuclear é perfeitamente compatível com os requisitos do Protocolo de Kyoto, pois, além de permitir a redução efetiva e mensurável, essas reduções são adicionais, como preconiza o Protocolo. Portanto, se Angra 3 deve ser contestada, certamente não o deveria ser nesse contexto, pois usinas nucleares no Brasil só contribuem para manter a nossa matriz energética mais limpa, do ponto de vista do aquecimento global. Certamente o aumento da queima de combustíveis fósseis nas térmicas programadas irá aumentar substancialmente a nossa contribuição para o aquecimento global, mas nem por isso nós do setor nuclear estamos propondo que não se implantem essas unidades geradoras.
A usina Angra 3 é altamente necessária, não só para restabelecer o equilíbrio estrutural de oferta de demanda de energia, que não se realizará a curto prazo, mas também para permitir a gestão eficiente dos reservatórios da região Sudeste, ao oferecer, junto com Angra 1 e 2, uma flexibilidade de 16% na economia das águas desses reservatórios. O JB tem mantido uma posição favorável às usinas nucleares no Brasil, fato esse que em muito ajudou na concretização de Angra 2. Foram de grande relevância os editoriais Escolha Estratégica, de 13/11/95, Estado de Risco, de 12/6/94 e Hora de Decidir, de 11/9/94. Este último já previa a crise energética ao afirmar: ?O Brasil como um todo corre o risco de uma crise energética: a compatibilização da oferta de energia à demanda _ estacionada há cinco anos em 58 mil MW _ se estreitou devido ao crescimento industrial?. Nós, técnicos do setor, esperamos o mesmo apoio a Angra 3. Everton Carvalho, ex-presidente e diretor da Associação Brasileira de Energia Nuclear, Rio de Janeiro.
JB ? O Jornal do Brasil continua favorável à energia nuclear no país, especialmente agora com a crise de energia. Apóia também integralmente o Protocolo de Kyoto, contra a posição do governo americano. O editorial Ducha Fria apenas estranha a construção de usinas nucleares brasileiras ?num pólo turístico?, o que parece ser geograficamente contraditório.
A reportagem ?Estresse afeta 50% dos juízes fluminenses?, de 18/6, de Paula Máiran, parece pretender que o leitor se solidarize com os juízes devido aos problemas de saúde que enfrentam, devido a suas cargas de trabalho excessivas. O que se sabe, entretanto, é que os juízes e demais membros do Poder Judiciário desfrutam de dois grandes períodos de férias forenses, que suas semanas de trabalho começam na terça-feira e terminam na quinta-feira,
e que o dia deles se inicia às 11 da manhã. Levar processos para analisar em casa, não é mais do que obrigação de quem tem um horário de trabalho tão flexível assim. Além disso, enquanto a maioria da população está há anos sem reajuste de salários _ e o Judiciário é cúmplice do governo na política de arrocho salarial _ esses mesmos juízes se autoconcedem reajustes e reposições salariais, acima da inflação, que ficam restritos às suas próprias categorias. Fica mais fácil de concluir que o estresse e as outras doenças estejam associadas a um estilo de vida inadequado, descrito na própria reportagem, como por exemplo: ?quatro maços diários, bebericagem ao final do expediente, só não cortei o uísque…?, não faz
exercícios, sanduíche com maionese etc. É sabido que executivos com carga de trabalho e nível de estresse muito superiores aos dos juízes têm encontrado tempo para praticar exercícios, dedicarem-se às famílias e adotar bons hábitos alimentares, sem deixar de dar conta de seus compromissos profissionais. Isso é o que os juízes deveriam fazer, além de
explicar ao resto da população a razão dos privilégios de que desfrutam, por que a lei não é igual para todos, por que permitem que ladrões de dinheiro público fujam para o exterior, por que a Justiça só funciona para quem tem dinheiro, entre outras mazelas. Não seria o caso, então, de pedir desculpas ao povo em vez de solidariedade? Eduardo Ponce da Motta ? Rio de Janeiro.
No artigo Crepúsculo de Wagners (Caderno B, ed. 8/6), o Sr. Marcos Ribas de Faria revela estar à procura de um ?Wagner perdido, aparentemente para sempre, imolado, tal qual Brunnhilde, no Walhala?, numa clara alusão à famosa Cena da Imolação (final do 3? ato de O crepúsculo dos deuses, última ópera da tetralogia de Richard Wagner), na qual Brunnhilde atira-se ao fogo que ela própria ateou ao Walhala. No entanto, muito antes de abrirem-se as cortinas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ele trata de lançar às labaredas do descrédito e do preconceito um punhado de artistas que no momento empenham todo o seu talento para apresentar ao público carioca o Tannhäuser, também de Wagner. Pode-se falar aqui de ?crepúsculo da ética?, quando são imolados o maestro, a orquestra e os cantores, sem que tenham ainda feito vibrar diante da platéia uma única nota sequer.
Atualmente, são raras as oportunidades de o leitor do JB encontrar em suas páginas comentários sobre os espetáculos de música clássica que proliferam pela cidade. Qual será, então, o propósito de se abrir espaço para a ?pré-crítica? (confessa o repórter: ?meio metido como sempre, já torço meu nariz?) e se instituir a política do ?não-vi-e-não-gostei?? Resta-nos apenas um consolo: quem fala mal de Herzog, Levine, Jessye Norman etc, e mistura alhos com bugalhos, ao estabelecer uma comparação (prévia!) entre apresentações ao vivo e a alta tecnologia de CDs e DVDs, não merece ouvidos. E por falar em ouvido, o Sr. Marcos Ribas de Faria confessa que o seu não é ?tão bem educado musicalmente?. Será apenas o ouvido? Eneida Vieira Santos ? Rio de Janeiro.
Da mesma forma que não gosto de Herzog, Levine e Norman (os dois últimos, em geral, mas, no artigo, só me refiro ao Parsifal dos dois; a generalização ficou por conta dos dons adivinhatórios da leitora), a Sra. (ou Srta.) Eneida tem todo o direito de gostar. O mau gosto pode ser meu ou dela. Simples questão de ponto de vista. Quanto à mistura de alhos com bugalhos, acho que essa pesada e velha mistura ficou por conta de uma sua leitura atenta e preocupada em defender algo que não se passou ainda, portanto ela não viu, da mesma forma que joguei minhas sérias dúvidas sobre o mesmo algo que não se passou ainda, portanto que, obviamente, não vi (e isso está explícito no texto). E eu posso realmente ser mal-educado musicalmente, ao contrário, certamente, da leitora. A diferença entre CDs e DVDs e espetáculos ao vivo, tão óbvia, no entanto, não entra nem em questão no texto que ousei escrever. Aliás, a citada montagem do Tannhäuser, agora, no Municipal, foi apenas o pretexto (e não a razão da matéria, e isso está bem claro, eu acho), para escrever minha opinião, rigorosamente na primeira pessoa, sobre o que o grande Wagner sofre hoje em dia. Parece que, infelizmente, não fui suficientemente óbvio para que isso fosse compreendido. Sendo assim, mil desculpas não somente à indignada leitora, mas a todos os leitores, mesmo aqueles que, eventualmente, tenham, lamentavelmente, concordado com o que escrevi de modo ousado e pretensioso (e quem disse, por acaso, que não sou?). Mas não retiro uma vírgula ou um acento do que foi publicado."