Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ivan Angelo

ASPAS

IMAGENS

"De roupas cafonas a camisinhas: imagens da TV", copyright Jornal da Tarde, 12/07/01

"Espantosas – não encontro outra palavra – as cenas de Ana Maria Braga numa matéria que foi um misto de reportagem e estrelismo, feita nas dunas de uma praia de Natal, no Rio Grande do Norte, para o seu programa matinal na Rede Globo, segunda-feira. Aquela praia tem camelos e dromedários, trazidos do deserto marroquino, para divertir os turistas. Pois a Braga apresentou-se a caráter para o trabalho, com o espalhafato que lhe é peculiar. Deve ter queimado neurônios bolando a roupa, mobilizado modista e costureira, buscando o pano ideal. Apareceu na praia com um chocante turbante de lamê prateado, com duas largas pontas que lhe caiam pelos peitões e que às vezes usava para cobrir a boca e o nariz, como um xador. Um espanto. Depois, com os mesmos panos e com aquela gargalhada também espantosa, escorregou duna abaixo no skibunda, modalidade local de ski na areia, em que a pessoa vai sentada. O pior é que ela não usa essas roupas com intenção histriônica, mas a sério. Não quer ser uma Chacrinha, mas uma dama da tevê. Aí é que está o detalhe deseducador. As pessoas sem acesso a melhores informações podem achar que aquilo é que está certo.

Mau exemplo – O Fantástico fez muito auê, mas a entrevista feita com o ator André Golçalves em Nova York, pelo bom repórter Edney Silvestre, não funcionou. Mais por culpa do ator do que do repórter. A entrevista só piorou a imagem de André, somada ao papelão que ele fez no vôo para Nova York há duas semanas. No avião, deu vexame de agressão e inconveniência: na entrevista, negou detalhes por todos sabidos (?não cuspi nas pessoas?, ?não agredi ninguém?, ?não fui amarrado?), disse que só tomou quatro copos de vinho na sala vip e um comprimido porque estava com medo e coisas assim. Fez papel de menino que não assume a travessura. Incoerente, ao mesmo tempo que dizia não se lembrar de nada, falava não fiz isso, não fiz aquilo. Não colou.

Sensacionalismo – O mal de Márcia Goldschmidt é que ela tem a mão pesada na apelação. Se faz uma reportagem sobre erros em cirurgias plásticas, mostra toda a deformação. Se o assunto é vício, leva o espectador ao fundo do buraco. A capacidade de comunicação que ela tem esbarra no mau gosto; a suavidade no trato com os entrevistados é posta em dúvida pelo gosto sádico que ela tem de mostrar o pior deles. A aparência de coisa armada, de teatralização dos conflitos, também aparece muitas vezes. Mas isso pode ser até válido, na hora de discutir um problema em nível popular. Por exemplo: o marido deve ajudar nos trabalhos da casa? Nesse tipo de assunto, o programa polariza e informa. Agora, mostrar aberrações, defeitos, essa não. Basta discutir a matéria, sem forçar a barra.

Camisinhas – Reportagem da Globo sobre Aids diz que são produzidas 350 milhões de camisinhas por ano no Brasil. Parece demais? O número impressiona quem não faz as contas. Somos 160 milhões de brasileiros. Cerca de metade, homens: 80 milhões. Cerca de metade, tirando velhos e crianças, em atividade: 40 milhões. Cerca de metade, com vida sexual regular, parceiro fixo: 20 milhões. Seriam, então, entre 17 e 18 camisinhas para cada homem avulso, por ano. É pouco. As matérias poderiam fazer esse tipo de projeção, nada científicas, mas divertidas, porque os números se tornam menos abstratos.

"Semelhanças entre nossa TV e a pornochanchada", copyright Jornal da Tarde, 10/07/01

"Quem se der ao trabalho de pegar o guia de programação da Net e observar a classificação dos conteúdos dos filmes exibidos no Canal Brasil, especializado em filmes brasileiros, neste mês de julho (ou em qualquer mês) constatará um dado revelador sobre as características do cinema feito em nosso País.

Dos pouco mais de 100 programados no mês, 80 estão assinalados como filmes que têm um, dois, três ou quatro destes conteúdos: sexo, nudez, violência e drogas. A maioria deles para exibição das 20 h em diante.

Que outros conteúdos poderia ter para atrair o público um cinema que sempre primou pela falta de dinheiro, de tecnologia, de técnicos, de pessoal especializado em produção específica, de roteiristas, de artistas visuais, de mercado, de idéias, de cineastas, de talento – que conteúdos esse cinema poderia vender senão esses que predominam na classificação do guia da Net? Curiosamente, se juntarmos a estes ingredientes o humor chulo, teremos a receita das atrações da televisão brasileira atual. Com o agravante de que já não faltam tecnologia e dinheiro. Se observarmos bem, há uma reveladora identidade entre a pornochanchada e a televisão brasileira. O mesmo mau-gosto, o mesmo amadorismo aproveitador, a mesma semi-prostituição, a mesma grossura – e, muitas vezes, os mesmos atores e diretores. Alguns, principalmente algumas, envelheceram e deram lugar a outras, mais popozudas e siliconadas. Vemos, então, que esta é uma linguagem e que ela predominou.

Fiz uma contagem dos conteúdos citados nos filmes do mês, sem julgar os critérios dos editores da revista nessa classificação, que talvez até já venha pronta dos órgãos que lidam com isso no Ministério da Justiça. É interessante dar uma olhada na lista.

Há apenas dois filmes assinalados com o conteúdo ?sexo?. Supõe-se que seja apenas uma indicação para os pais ou telespectadores, prevenindo-os para cenas que poderão encontrar no filme. No caso, apenas sexo. Seis filmes constam como contendo cenas de ?sexo e violência?. Entre eles, a chanchada histórica Carlota Joaquina, em exibição no dia 25. Na categoria ?nudez e sexo? entrou a maior parte dos filmes, 21. Dezessete filmes entram em outro grupo, os de ?sexo, nudez e violência?, no qual estão listados até amenidades como Bete Balanço. Receberam o carimbo de ?nudez? 17 filmes, alguns deles combinados com violência ou drogas. A ?violência? desacompanhada aparece em sete produções. E finalmente vem a barra mais pesada, a de ?nudez, sexo, drogas e violência?, com 10 filmes.

São cerca de 80% e o que mais impressiona é o tratamento, o mau gosto, a feitura suja. É um alto índice de temas pesados se compararmos com a notação sobre os conteúdos de outros canais de filmes, como os do Telecine. Nem mesmo no Action a contagem chega perto. Ou fazem vista grossa para os filmes estrangeiros ou os brasileiros exageram.

Séries – Chegou ao fim a excelente série O Oeste, sobre a conquista do Oeste dos Estados Unidos pelos colonizadores. Uma informação não muito comum: aparecem muitas casas de adobe, como as do nosso interior. Fomos acostumados a ver apenas casas de madeira nos faroestes. O enfoque da série feita pela tevê pública americana foi sempre franco e liberal. Sobre a destruição que veio com a conquista, diz um dos historiadores depoentes: ao cruzarmos o Mississipi, rompemos com todo o passado e tradições que tínhamos até ali, com uma violência que influiu para sempre na civilização americana(foi uma violência paralela à que marcou no nosso período escravista). Depois da matança e das guerras, no fim do século adotaram medidas mais ?humanitárias?, fizeram uma lavagem cultural nas crianças índias: tiravam-nas de seus pais e as levavam para escolas internas no Meio-Oeste, onde eram reeducadas na cultura branca e os pais não mais as viam.

Amanhã o GNT inicia uma nova série, inédita, sobre gênios da humanidade. Começa com Leonardo da Vinci, às 23h20, com uma hora de duração. Na semana que vem, no mesmo dia e hora, teremos Charles Darwin e, na seguinte, Pitágoras. Vale a pena acompanhar, para ver que tevê não é só baixaria."

 

"Tira essa lôca daí", copyright No. (www.no.com.br), 12/07/01

"Agora que vai começar nova maratona de jogos de futebol na televisão, preste atenção no bordão que Silvio Luis acaba de criar na Band. Depois do ?pelas barbas do profeta? ou ?pelo amor dos meus filhinhos?, e dezenas de outros, quase todos muito divertidos, Silvio Luis agora não pode ver uma bola quicando dentro da área que começa a gritar: ?Tira essa lôca daí, tira essa lôca daí?. Enquanto morre-se de rir com Silvio, seu parceiro Luciano do Vale continua o mesmo. Torceu descaradamente pelo São Paulo contra o Flamengo, na final da Copa dos Campeões. Além de brindar Leandro Ávila, o apoiador do time carioca, com a seguinte pérola: ?Lá vai Leandro, é carequinha mas é um homem correto?. Seria muito maquiavelismo de Luciano, mas o locutor é tão paulista que alguns viram na inesperada saudação aos carecas o lançamento do slogan da candidatura Zé Serra à presidência.

Cachorrada – O Top Training Dog se anuncia como um método revolucionário de adestramento de cães, e deve ser tão eficiente quanto o Slim U Lure, aquele peixinho de cores vivas usado como isca. É uma coleção de vídeos que está sendo vendida pelo 0800 nas manhãs e noites da Rede TV!, Record, etc. Consumir é viver, conviver é sumir, dizia Paulinho da Viola. Nada contra a eficiência de vídeos na arte de deixar os dogs pianinho. O problema é que no teatro para se mostrar a ação dos cachorros contra bandidos e ladrões, os bandidos e ladrões são sempre negros. Os adestradores são brancos, as pessoas em situação de perigo são brancas – os meliantes atacados pelos cachorros são pretos. Não seria o caso de soltar os cachorros da discriminação em cima da cachorrada?

Mais do que normal – É verdade que Fernanda Torres e Luis Fernando Guimarães, de tão normais, estão fazendo os mesmos papéis de sempre em Os Normais. Normal. Pedro Cardoso também faz a linha, e como são todos ótimos a implicância pára por aqui. O que não é normal é o tipo de humor, assinado pela dupla Fernanda Young e Alexandre Machado. Circula entre o escracho e a sofisticação, um terreno perigoso, com grande equilíbrio. Já houve a cena de LFG tentando tirar com um chupão a casca de feijão do dente de uma colega. A escatologia continuou na última sexta-feira quando um casal se separou porque ele comia o restinho de comida que ficava no fio dental. Achava normal, ela não. Acabaram. Há quem tenha ânsias de vômito, há quem morra de rir. Normal. Sexta-feira passada, para se exibir aos ouvidos de uma amiga que dormia na sala, LFG começou a simular, com palavras enlouquecidas, que fazia uma performance sexual espetacular com FT no quarto. FT não gostou de ser usada e partiu para o revide. Simulou em seguida que reagia bem à performance de LFG. E gritava: ?Isso, amor, faz, o tamanho não importante, o importante é a ação.? Começava mais uma, engraçadíssima, crise do casal.

Mc feliz – A propaganda do momento é a do garotinho que se prepara para a vida, seus grandes dramas e felicidades numa loja do McDonald?s. Pode parecer o velho truque sentimentalóide de explorar um rostinho de bebê, de uns sete meses, para vender sanduíche gorduroso. Mas a coisa funciona. As caras e bocas do guri serviram de guia para o texto, que tem quase uma mensagem institucional, sem a gratuidade de esfregar o produto na cara do espectador. O ritmo é diferente das propagandas que estão no ar, quase todas muito nervosas, histéricas e cafajestes.

Salve Sérgio Sampaio – A série Brava Gente tem sido correta. Anda não saiu dela a produção que ganhe carreira solo dentro da Globo. Mas é um bom espetáculo de televisão. O episódio de terça-feira, o policial Dia de Visita, de Jorge Furtado e Giba Assis Brasil, manteve a média. História previsível, sem grandes sacadas. Mas tudo muito bem feito e curtido. Um dos méritos foi o desfecho musical, onde o sonoplasta pescou de um álbum perdido de Sérgio Sampaio, compositor capixaba jamais reproduzido em CD, uma faixa com a dramaticidade perfeita pedida para a cena e com a citação de um nome, Maria de Lourdes, o mesmo da personagem de Malu Mader. A impressão é que nome e história funcionaram quase que como pretexto para que a música explodisse, com uma tensão emocional espetacular, no final do programa. Valeu a pena. Alguém na Globo lembrou de Sérgio Sampaio, e não foi só de seu sucesso ?Eu Quero Botar o Bloco na Rua?. Sampaio, morto pelo álcool 15 anos atrás, deixou uma pequena obra de 50 grandes canções injustamente esquecidas. Todas com a cara dessa brava gente.

Pelas pontas – Bola rolando no Rockgol da MTV e o comentarista Marco Bianchi dá sua palhinha analisando a atuação de Marcelo D2, autor de um caminhão de letras de exaltação à maconha: ?Aproveitando que não há exame anti-doping, Marcelo D2 está jogando pelas pontas.?"

NOITE AFORA

"Tadinha dela", copyright Veja, 16/07/01

"No ar há quase três semanas, o programa Noite Afora vem causando barulho na madrugada. Não é para menos: o tema explorado é o sexo e sua apresentadora, a exuberante Monique Evans. De segunda a domingo, pela Rede TV!, a ex-modelo recebe, numa grande cama ou numa banheira de ofurô, estrelas de filmes pornográficos, sexólogos de segunda e celebridades de terceira (ou aspirantes a) que comentam suas preferências amorosas em troca de um pouco de marketing. A conversa safadinha é entremeada com exibições de vídeos de strip-tease e propagandas de apetrechos eróticos e de um site de bandalheira. Três anos atrás, Monique fazia um programa semelhante num canal da TV paga. Agora em rede nacional, sua atuação está chamando mais a atenção. Monique tem um estilo impagável. Fala sobre sadomasoquismo, masturbação e temas afins com a naturalidade de quem passa uma receita de bolo. ?Ter língua presa atrapalha no sexo??, perguntou, por exemplo, a um stripper de língua presa. Na quarta-feira passada, o colunista Artur Xexéo, do jornal O Globo, o principal do Rio de Janeiro, reproduziu um diálogo hilariante entre Monique e a atriz Leila Lopes. ?Você já aplicou Botox??, indagou a apresentadora. ?Não. Tenho medo que atrapalhe minha interpretação?, respondeu a atriz. Por essas e outras, o Noite Afora já alcançou o segundo lugar no Ibope em seu horário, com média de 4 pontos.

O curioso é que a desinibidíssima Monique do vídeo é evangélica convicta, declara ter problemas com o sexo e se diz interessada apenas em arranjar um grande amor. ?Eu quero é namoro sério?, deixa escapar, entre uma piada e outra. Falar sobre sexo na TV foi uma maneira de a ex-modelo, que abalava o país com suas curvas nos anos 80 e 90, dar uma sacudida na vida. Aos 45 anos, Monique fala sem medo da fase difícil que atravessou. Tempos atrás, teve câncer de pele e tentou o suicídio várias vezes. ?Cortei minha perna com uma faca, tentei pular da janela do prédio, saltei duas vezes do carro em movimento e tomei uma caixa de antidepressivos para morrer?, enumera. As coisas começaram a melhorar quando ela se converteu à igreja evangélica Sara Nossa Terra, em 1997. ?Um dia fui tocada por um anjo que disse: Monique, você passou quarenta anos no deserto, mas logo chegará à Terra Prometida.?

Mãe de um rapaz de 23 anos e de uma menina de 10, Monique afirma que sexo sempre foi uma coisa secundária em sua vida e garante que só chegou ao orgasmo depois dos 30 anos. Quem a iniciou no prazer foi o cantor Léo Jaime (aquele que só tinha um amigo, o Zé, lembra?). Três meses atrás, Monique julgou ter achado o seu príncipe encantado, um ex-jogador de vôlei desempregado (sim, existe essa categoria profissional). O namoro, que a fez interromper um jejum de sexo de mais de um ano, terminou em desilusão. ?Ele paquerou outras loiras e ainda entrou num site erótico em meu computador?, conta. Logo ela, achar que site erótico é traição? Pois é, Monique é mesmo uma romântica. ?Continuo em busca do homem da minha vida?, diz. ?O varão que, segundo a Bíblia, toda mulher haverá de encontrar.? Mandem e-mails, gatos."

 

OS NORMAIS

"Rui and Vani", copyright Veja, 16/07/01

"Com o sucesso do humorístico Os Normais, exibido nas noites de sexta-feira, a Rede Globo parece ter encontrado a resposta para uma antiga questão: como fazer uma sitcom (comédia de situação ao estilo americano) com jeitinho brasileiro? Dos Estados Unidos, a emissora importou a fórmula do programa curto, de apenas 25 minutos, mas com alta concentração de piadas. Importou também a idéia de um núcleo mínimo de personagens fixos: apenas o escriturário Rui e a vendedora Vani. Noivos, eles passam por situações corriqueiras, com as quais o espectador se identifica facilmente. Várias sitcoms americanas sobre casais, como Louco por Você ou Dharma & Greg, usam essa receita. O tipo de humor de Os Normais, contudo, é de extração nacional. Escrachado e paródico, na linha de algumas novelas das 7 e do Comédia da Vida Privada, ele é feito sob medida para Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres, os atores da série. No ar desde o começo de junho, Os Normais mantém a média de 24 pontos no ibope. Essa audiência é o dobro da de seus antecessores no horário, Garotas do Programa e Muvuca. Já o custo é a metade: 140.000 reais por episódio.

Os Normais foi encomendado, no final do ano 2000, pelo diretor Guel Arraes a um casal de autores, a escritora Fernanda Young e o ex-publicitário Alexandre Machado. Sua missão era fazer um humorístico para Luiz Fernando Guimarães, que vinha de uma experiência desgastante no programa Vida ao Vivo, no qual se desentendera com o parceiro Pedro Cardoso. Uma segunda determinação era fugir da linguagem ?ichperrrta? da Zona Sul carioca, que afundou Garotas do Programa. ?Nosso desafio era seduzir gente do país todo e de todas as classes sociais?, diz Alexandre Machado. Como tudo indica que acertaram a mão, os autores já receberam a encomenda de mais episódios. A primeira fornada de dez se encerra em três semanas. A segunda estréia em setembro. Casados há sete anos, Alexandre e Fernanda encontraram um benefício inesperado em Os Normais. ?Todas as nossas brigas agora viram piada com Rui e Vani. Transformamos o programa em terapia de casal?, diz ele.

    
    
                     

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