ENTREVISTA / MARCIO MOREIRA ALVES
Luiz Antonio Magalhães
O jornalista Marcio Moreira Alves esteve em São Paulo na última segunda-feira (23) para lançar o seu novo livro "Gostei do Século", uma coletânea de crônicas selecionadas a partir de sua coluna diária no jornal O Globo.
Marcio começou a trabalhar muito jovem, aos 17 anos, como repórter no jornal carioca Correio da Manhã. Um Prêmio Esso e alguns anos depois, Marcito, como é conhecido, foi eleito, em 1966, deputado federal. A experiência política não durou muito: foi obrigado a exilar-se após a decretação do AI-5, em 1968, episódio no qual foi um dos protagonistas.
A partir de 1993, Marcio Moreira Alves passou a escrever para O Globo, no qual mantém uma coluna diária desde 1994, da qual o novo livro não deixa de ser um fruto.
Como surgiu a idéia do livro "Gostei do Século"?
Marcio Moreira Alves ? A idéia de uma seleção de crônicas nasce da sua acumulação. De 1993 até o início de 2001, publiquei cerca de duas mil colunas em O Globo. É uma montanha de trabalho, cujo tamanho nem eu mesmo imaginava. Dessa montanha, já tinha tirado outro livro "Sábados azuis, 75 histórias do Brasil que dá certo" e, no fim do ano, pretendo tirar outro na mesma linha ? "Novos sábados azuis". Fazer uma coletânea mais geral foi uma idéia que apareceu naturalmente, para tornar mais perene o trabalho.
Que critérios foram usados para selecionar as crônicas? Você participou de alguma forma no trabalho de Anderson Campos, o organizador?
MMA ? A primeira seleção, com mais ou menos o dobro das crônicas finalmente selecionadas, foi feita pelo Anderson de maneira subjetiva. Ele simplesmente separou as que lhe pareciam melhores. Depois, revi com ele o trabalho e ajudei no afastamento das que ultrapassavam o tamanho máximo de páginas estabelecido pela editora. Não houve, portanto, nenhum critério objetivo, a não ser o de recusar as colunas que eram demasiadamente conjunturais.
Explique a divisão do livro em seis partes. Você tem especial predileção por alguma das crônicas selecionadas?
MMA ? A divisão em seis partes, que poderiam ter sido cinco ou sete, foi feita por grupos de afinidades. Isto fica muito claro na seção "Perfis". As crônicas iniciais, que estão entre as minhas preferidas, juntaram-se por não terem outro lugar para serem publicadas. Tenho particular carinho pela "O fim de Pero Vaz", um exercício de ficção que ficou tão verossímil que o ombudsman do Globo, Luiz Garcia, me telefonou, exigindo que publicasse um esclarecimento. Disse que eu estava enganando os leitores. Não sei se foram muitos os enganados, mas o Garcia, pelo menos, foi e ficou danado da vida com a própria credulidade. Gosto muito, também, da última coluna, "Triste geração", que é um lamento sobre a oportunidade perdida com o governo Fernando Henrique. Mas, na verdade, acho que tem muita coisa boa e, infelizmente, muita coisa boa ficou de fora. Dá para ver que tenho orgulho do trabalho que faço, inovador na crônica política brasileira.
Desde 1994 você escreve uma coluna diária para O Globo. Que balanço faz desta experiência?
MMA ? Acho que com a idéia de alargar a crônica política para as políticas públicas, em vez de tratar apenas da política dos políticos, comecei a fazer escola. Na TV, sem dúvida. Na imprensa escrita, volta e meia leio colunas neste sentido.
Em função dos grampos que vitimaram personagens tão diferentes como ACM, José Roberto Arruda, o jornalista Ricardo Boechat e o governador Garotinho, nos últimos tempos jornalistas de todo o país têm discutido a questões relacionadas à ética e à deontologia. Com a sua larga experiência de colunista político, que avaliação você faz do uso das gravações clandestinas e mesmo das legais pela imprensa brasileira?
MMA ? Na minha opinião, quando encaminham um grampo a um jornalista, ele deve avaliar se o conteúdo tem um interesse público geral ou se interessa apenas ao grupo que pagou o grampo. No primeiro caso, deve publicar; no segundo, deve encaminhas à polícia.
Na sua opinião, a atitude do governador Garotinho de tentar impedir a divulgação de gravações ilegais que o prejudicam é correta? E você acha que cabe à Justiça ou aos jornalistas avaliar o material que pode ser publicado?
MMA ? Não considero as atitudes do governador Garotinho parâmetro para nada, muito menos para a ética. Quem deve julgar o material a ser publicado são os editores, claro. Eventualmente, a Justiça pode entrar na história, provocada por uma das partes.