Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Alexandre Werneck

E-EDITORAS

"Editoras virtuais abrem espaço para uma nova leva de autores estreantes", copyright Jornal do Brasil, 20/7/01

"No espaço etéreo da internet ou na velha página de papel, escritores de todas as idades e adeptos de todos os gêneros procuram uma maneira de encontrar o seu público e contornar a indiferença demonstrada pelo mercado tradicional

Colocar o primeiro livro embaixo do braço e correr as editoras batendo de porta em porta, muitas vezes sem ouvir resposta, é a rotina de milhares de autores no país. Há quem meta a mão no bolso para bancar suas próprias primeiras edições. Só que, além de ser caro, esse caminho raramente leva à projeção de um escritor. Recentemente a junção de duas tecnologias permitiu uma pequena mudança no quadro: a internet e as novas máquinas que baratearam a impressão criaram as editoras virtuais e estas descobriram um importante filão nos autores que não conseguem chegar às grandes editoras.

Pouco mais de dez editoras virtuais funcionam no Brasil hoje. Elas colocam na rede textos clássicos que caíram em domínio público, versões para internet de livros já publicados e obras de novos autores. Alguns sites disponibilizam textos livremente para leitura ou download, como o AlgoSobre e o Biblioteca Virtual, que permitem que qualquer autor coloque um conto, uma poesia ou até um livro na Internet.

Outros editam e vendem livros, como iEditora, que ataca ma área de manuais de informática, a Hootbook, que oferece a alternativa de o autor vender um livro que ele já tenha editado por outro empresa, ou a Klick Escritores, um misto de editora virtual e revista literária ligada ao portal Klick Educação. O que permite esses sites editarem e venderem livros de papel é o sistema de impressão por demanda: o autor submete seus originais e paga para colocar o texto no ar e ser vendido em duas versões, em papel, impresso à medida que é comprado no site da editora, e em versão eletrônica, para download. Um detalhe importante é que os autores mantêm os direitos autorais e podem publicar em outra editora quando quiserem. Isso faz serve como um chamariz para os escritores que esperam ser vistos pelas editoras reais ao publicarem numa editora virtual.

Marketing – As duas maiores desse filão no país, a Papel Virtual, do Rio, e a Writers, de São Paulo, apresentam realidades distintas. Nascida do projeto de pós-graduação em marketing de Tomaz Adour, 29 anos, na PUC-Rio, a Papel Virtual funciona na incubadora de empresas da universidade desde junho de 1998 e hoje é a segunda do mundo no segmento, perdendo apenas para a americana Xlibris, braço da gigante Random House.

?Publicamos obras de mil autores, vendemos três mil livros por mês e damos lucro desde o ano passado?, conta Adour. Esse lucro vem principalmente da aposta não só nos livros de ficção, mas principalmente nas obras científicas, muitas de professores da PUC, que têm saída garantida entre os alunos da instituição. Já a Writers nasceu em 2000, só publica ficção e, segundo um de seus sócios, o jornalista Roberto Paes, 36 anos, apesar de não dar prejuízo, ainda não dá lucro.

A exemplo de outro site, o Editora Eletrônica, a Writers trabalha como cooperativa. Quando um livro é vendido, descontam-se os gastos de produção. O que sobra é dividido entre a editora, o autor e um fundo, que é rateado entre todos os autores.

Real X Virtual – Para o presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), o livreiro Paulo Rocco, a diferença entre as editoras virtuais e as tradicionais não é tão grande assim. ?São maneiras de fazer um livro circular?, diz. Já para Roberto Paes, a diferença está na logística de seu modelo de editar. ?Não tenho custo para correr riscos?, diz. ?Quando uma editora grande lança um autor, ela gasta muito dinheiro numa edição que não sabe se vai vender. Eu, como imprimo apenas o que vendo, não gasto nada para editar um autor novo.?

Mas há os virtuais que preferem apostar mesmo no mercado editorial tradicional, como a Escreva, que nasceu em 1999 e publica um ou outro autor sob encomenda. ?O autor desconhecido não é um grande negócio?, diz Paulo Fernando Prada Levy, 33 anos, criador da editora. No final de 2000 ela se juntou às grandes do mercado tradicional, Objetiva, de ficção, e Campus, de negócios, para formar a Foglio, que, de olho no mercadão, coloca na rede edições eletrônicas de livros como Comédias para se ler na escola, de Luis Fernando Veríssimo.

Mas os números não dão margem a muito otimismo. A mais recente pesquisa do Snel sobre o mercado editorial brasileiro revela que só 0,03% dos livros brasileiros em 2000 foram vendidos pela Internet, o que mostra um mercado ainda pequeno. ?As pessoas preferem ir à livraria, ver o livro impresso?, diz Rocco. E essa não é a prerrogativa dos novos autores. O livro Miséria e grandeza do amor de Benedita, de João Ubaldo Ribeiro, por exemplo, não vendeu muito quando foi colocado na Internet. Ele foi editado só no formato eletrônico e vendido a R$ 4 o download. Agora, está sendo relançado em papel pela Nova Fronteira.

Portas fechadas – Anualmente, 40 mil autores deixam de ser publicados no Brasil. O mesmo número na França e na Espanha. Nos EUA, chega a 500 mil. Paulo Rocco defende as editoras tradicionais da acusação de fechar as portas a novos talentos. ?Recebemos milhares de livros para avaliarem e não podemos publicar tudo?, diz. Além disso, ele sustenta que, apesar de protelada, a explosão de um escritor não pode ser evitada. ?Não conheço nenhum grande autor que não tenha sido publicado?, afirma. Para ele, mais cedo ou mais tarde, se o autor é bom, ele chega às grandes edições.

Não é a opinião dos autores das virtuais. ?Já recebi de volta originais intactos, que sequer foram abertos?, afirma Lourival Sodré, que publica pela Writers. Ele se diz decepcionado com as respostas dadas pelos chamados pareceristas, profissionais que avaliam os livros para as editoras. Esses profissionais, por motivos óbvios, não têm a identidade revelada. Podem ser escritores, professores ou jornalista. E eles também não comentam os critérios usados para avaliar os livros. Os autores, que geralmente esbarram na tal ?linha editorial? mencionada nas cartas de resposta, questionam sua atuação. ?Não sabemos nem se eles têm opinião abalizada?, protesta Iosif Landau, que publica pela Papel Virtual.

Ele aponta o mercado editorial paralelo formado pelas virtuais como solução para o problema. ?Falta investimento em livros baratos e de leitura rápida para fomentar o mercado editorial.? Tudo isso leva Roberto Paes a ver nas editoras virtuais um investimento de longo prazo. ?Por enquanto, há mais autores que leitores. Todo mundo quer ser García Márquez, mas ninguém quer ler. Em cerca de cinco anos, quando estiver consolidada a tecnologia para impressão com qualidade, as editoras vão se tornar um grande negócio?, diz."

"O nebuloso futuro digital", copyright Jornal do Brasil, 20/7/01

"Muitos veteranos do mercado editorial e do mundo literário não vêem com bons olhos a onda digital que se aproxima. Este, no entanto, não é o caso do americano Jason Epstein, no ramo editorial há mais de 50 anos, grande parte deles na Random House, uma das maiores empresas do setor nos Estados Unidos. No livro recém-publicado Book business: Publishing past, present and future, ele faz uma defesa entusiástica das possibilidades abertas para o mercado editorial pelas inovações tecnológicas. O editor aposta que elas, longe de massificar o negócio do livro, acabarão por democratizar e descentralizar essa indústria.

Contrariando a visão habitual segundo a qual os e-books seriam lidos principalmente em telas de computador ou palmtops, Epstein enxerga um futuro no qual há espaço para o perfeito casamento entre a tecnologia digital e o tradicional suporte do livro: páginas de papel coladas entre duas capas.

Consumidores, especula Epstein, escolheriam seus e-books em terminais disponíveis em qualquer livraria, faculdade, bar ou café. Uma vez selecionado o título, a informação seria transmitida para uma máquina nas proximidades, capaz de imprimir e colar as páginas do livro escolhido. Na última Feira do Livro de Frankfurt uma impressora dessas já estava em atividade e não era maior do que um Fusca. Esses exemplares seriam mais baratos do que os livros que conhecemos, mas praticamente idênticos a eles.

Impacto global – Para Epstein, a convergência da internet com os recursos para a transmissão instantânea de textos digitais terá um impacto comparável aquele que a invenção dos tipos móveis teve sobre a civilização européia. Mas desta vez as conseqüências serão globais. ?Leitores em Ulan Bator ou Samoa, terão o mesmo acesso a livros que os leitores em Berkeley ou Cambridge?, prevê o editor em seu livro.

Essas novas tecnologias já estão abalando as idéias convencionais a respeito de direitos autorais. De olho no futuro, a empresa americana Rosetta Books adquiriu recentemente centenas de títulos, inclusive de escritores conhecidos, como William Styron e Kurt Vonnegut Jr, para edições digitais. Ao fazer isso comprou uma briga nos tribunais com os advogados da editora Random House, à qual estes autores são ligados.

A disputa chegou ao fim na semana passada num tribunal federal de Manhattan, onde um juiz rejeitou a ação movida pela editora e deu ganho de causa a Rosetta Books ao entender que o termo ?livro? que consta nos contratos não inclui automaticamente os livros eletrônicos ou e-books. Segundo a sentença do juiz, o novo uso da obra, com ?sinais digitais eletrônicos enviados pela internet configuram uma mídia diferente do uso original: palavras impressas sobre papel?. A decisão promete dar novo fôlego a empresas e autores determinadas a investir na internet.

Segundo uma projeção da empresa americana de consultoria Price Waterhouse divulgada ano passado pela revista Publishers Weekly, os ?livros eletrônicos ou virtuais? – categoria que incluiria tanto os chamados e-books, como livros baixados da internet ou os volumes impressos a partir da internet – corresponderão no ano de 2004 a 26% de todas as unidades vendidas no mercado americano. Se no ano 2000 os consumidores gastaram US$ 367 milhões com os e-books, em 2004 esta cifra, segundo a previsão, saltaria para US$ 5,4 bilhões."

    
    
              

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