Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Salvem a ética profissional

FOTOJORNALISMO

Antonio Carlos Mafalda (*)

Por que a fotografia exerce tanta atração principalmente sobre pessoas que têm hoje profissão definida, mas só se realizam no dia em que publicam uma foto num jornal? Florianópolis é a capital dos fotógrafos frustrados. São aqueles que, sem competência para ser um profissional da imagem, muitas vezes usam seus estabelecimentos comerciais ou influências políticas para tirar fotos e as fornecerem aos colunistas. Nem todos publicam tais "colaborações", pois têm ética profissional. Mas outros, sem pruridos, compactuam com um fato tão grave como ignorar que existe a profissão de repórter fotográfico e fotógrafo, profissionais que pagam impostos e sustentam suas famílias com seu trabalho.

Da mesma forma, o Diário Catarinense [ver abaixo imagem e nota do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina] acaba de cometer um grande equívoco ao acreditar que, poupando alguns dólares e deixando de enviar um fotojornalista com o repórter Caco da Motta para a cobertura dos próximos jogos de Guga na Europa e nos Estados Unidos, estaria protagonizando um dos grandes momentos da história do jornalismo catarinense. Puro engano. A iniciativa demonstra apenas o quanto os estrategistas e administradores do jornal estão fora da realidade global, muito embora vivam preocupados em liderar o mercado competitivo.

Cobertura jornalística de qualidade se faz com profissionais competentes em suas áreas de atuação. O desrespeito a essa máxima pode resultar em erros que só atentam contra a seriedade do trabalho jornalístico e à informação precisa. O fato é repugnante, pois a mesma imprensa que vem condenando corruptos de um modo ou de outro atua da mesma maneira, ao sonegar ao trabalhador um direito adquirido. Reduzir custos com o sacrifício da qualidade é um passo para o fracasso. Está na hora de os sindicatos da categoria, os leitores, os políticos e o Ministério do Trabalho buscarem a moralização da imprensa. Meu apelo é dirigido a todos os que atuam na área de comunicação, incluindo profissionais e proprietários de jornais e emissoras de TV: ajudem a evitar a morte da ética no dia a dia de nossas redações.

Em nome desta luta, estou fora das redações há anos. Nem por isso, porém, vou me omitir deixando de pedir aos colegas para defenderem os direitos já conquistados a duras penas pelos fotojornalistas que não se omitiram nem mesmo durante a ditadura militar. Todos devemos lembrar que ao fazer uma cobertura jornalística o profissional da imagem produz mais que meras cenas descartáveis. Ela gera um documento capaz de falar sozinho sobre a gravidade de uma denúncia ou de traduzir a alegria de uma vitória como as muitas que Guga ainda nos dará.

(*) Fotojornalista, Florianópolis. Artigo publicado no site do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina <www.sjsc.org.br>

Chamou a atenção deste Sindicato
um anúncio publicado no jornal Diário Catarinense,
apresentando o jornalista Caco da Motta como enviado especial
aos torneios de Stuttgart e Los Angeles, acompanhando a saga
do tenista Guga. Caco aparece com uma câmara de vídeo
e um laptop na mão. Nas edições de hoje
e domingo, pode-se ler textos e ver fotos assinadas por ele.

Motta representa uma versão mais completa do repórter-abelha
das TVs paulistas, que vão às ruas sozinhos,
e de lá captam e transmitem matérias completas.No
anúncio publicado no DC, além do próprio
jornal constam os logotipos da Rádio CBN, RBS TV, TV
COM, Jornal de Santa Catarina e ClicRBS. Ao produzir
material para todos estes veículos, o jornalista estará
tirando o emprego de outros colegas, pois o correto seria
enviar uma equipe para cobrir os eventos. O custo de enviar
uma equipe? Não muito maior que o do espaço
publicitário usado para divulgar a viagem de Caco,
que com certeza trará bom retorno financeiro à
Rede Brasil Sul de Comunicações.

(*) Nota do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul
<www.sjsc.org.br>

 

    
    
              

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