O POVO
"Razões da fidelidade do leitor", copyright O Povo, 22/7/01
"Quantos requisitos são necessários para um veículo de comunicação conquistar o interesse e o respeito de um leitor? Por outro lado, o que provoca no consumidor um desejo de mudança? Talvez não exista uma fórmula 100% aplicável para todo e qualquer caso, mas certamente entre um dos motivos maiores que determinam a fidelidade de um leitor a um veículo de comunicação é a precisão da notícia e a credibilidade da empresa e dos profissionais que nela trabalham.
Na semana passada, O Povo teve problemas em relação à precisão da notícia em momentos importantes. Na última sexta-feira, a coluna Vertical, publicada na página 2, chamou a atenção de leitores habituais. Um discreto sinal de que algo estava diferente foi a ausência da nota ?Hit do Apagão?, que vinha sendo publicada diariamente desde o anúncio do governo federal sobre as medidas de racionamento de energia.
O problema é que a coluna publicada na última sexta-feira, na verdade tinha sido publicada pelo jornal semanas antes e foi republicada por erro. No arquivo onde usualmente o texto da coluna é retirado para ser colado na página (e seguir para a impressão), estava armazenada uma coluna antiga. No comentário interno que fiz na sexta-feira, ressaltei que, como estamos sujeitos a esse problema, todo cuidado é pouco. O mais seguro é não manter textos antigos no arquivo da coluna, guardando em disquete todo o material produzido, para evitar o que aconteceu, ou seja, a publicação de uma coluna antiga.
Uma vez publicada uma informação incorreta, o reparo do jornal só pode ser feito na edição do dia seguinte, o que permite um bom espaço de tempo para mal entendidos. Na Vertical de sexta-feira, entre as notas publicadas estavam duas sobre protestos que teriam início ontem. A primeira, uma paralisação dos servidores públicos da Fundação Nacional de Saúde no Estado. Outra nota se referia a um protesto dos motoristas de ônibus, em frente à sede da Delegacia Regional do Trabalho. Quatro leitores ligaram na sexta-feira, bem cedo, para alertar sobre a desatualização da coluna.
Punições administrativas
Outro mau momento do jornal aconteceu na edição de segunda-feira, quando saiu publicado, na capa do jornal o resultado do Grande Prêmio (GP) de Fórmula 1 da Inglaterra. O título da chamada de capa dizia: ?Schumacher vence, Rubinho fica em 3??. O próprio texto da chamada de capa já dava informação contrária: ?Michael Schumacher conseguiu o que mais queria, ontem, em Silverstone. Não venceu o Grande Prêmio da Inglaterra, não igualou o recorde de vitórias de Alain Prost e até perdeu a chance de fechar o campeonato na próxima prova. Mas o alemão aumentou ainda mais sua folga para David Coulthard. A vitória foi do finlandês Mika Hakkinen, da McLaren (…)?. Em matéria de esportes, na edição do mesmo dia, foi publicado ainda que a seleção brasileira de futebol tinha vencido o jogo contra o Peru por 1 x 0, quando na verdade a seleção brasileira havia ganhado por 2 x 0.
Para o leitor, essas imprudências, embora obviamente não intencionais, são um golpe contra a credibilidade do jornal. Nos casos citados, a chefia de Redação adotou punições administrativas, de acordo com o compromisso assumido de não ter complacência com erros de informação, segundo frisou o diretor-executivo da Redação, Arlen Medina.
Claro que nos dois casos, como em qualquer outro que envolver erro de informação, é obrigação do jornal publicar uma retificação. Há um espaço para esses reparos diários: a seção ?Erramos?, na página 6. No caso do erro sobre o GP da Inglaterra, no entanto, o jornal optou por uma retificação na capa de terça-feira, sobre quem de fato ganhou a corrida de Fórmula 1. O caso é que publicar o erramos na capa abre precedente para publicar no mesmo espaço outros possíveis ?erramos? que envolvam quaisquer chamadas, e geralmente o jornal publica ?erramos? na capa quando o assunto é erro na manchete.
Linguagem compreensível para a maioria
Um dos desafios diários da cobertura econômica é traduzir para o leitor não especializado assuntos de difícil compreensão mesmo para pessoas razoavelmente bem informadas. Na edição de sexta-feira, uma matéria não teve esse tratamento cuidadoso. O resumo da matéria dizia: ?As medidas ainda estão sendo analisadas pelo governo e prevêem diferentes cenários, desde a melhora da economia argentina até se ocorrer o default.? A informação voltou a aparecer no texto, no último parágrafo. Minha conclusão foi que se tratava de um sinônimo para moratória. Foi uma conclusão acertada, mas aí é que está: o jornal precisa ser claro, e não deixar para o leitor a tarefa de deduzir o significado de determinada informação.
Um caso parecido aconteceu em matéria de Esportes essa semana, que tratou da punição ao técnico da seleção brasileira de futebol, Luís Felipe Scolari, conhecido pela ?catimba? em campo. Para quem não é tão inteirado sobre futebol, ficou a dúvida sobre o significado da palavra. O editor adjunto do Núcleo de Cotidiano, Maurício Lima, diz que o termo é conhecido nacionalmente e bastante usado em coberturas sobre futebol. ?Procuramos sempre explicar o significado dos termos esportivos. Nesse caso, pensamos em dar o significado de catimba na matéria, mas é um termo tão aberto de definições quanto a expressão cearense botar boneco?, comentou Maurício. No dicionário Michaelis, ?catimba? significa ?astúcia, manha?, mas segundo Maurício, a palavra também serve para definir comportamento brigão em campo, por exemplo. O diretor-executivo da Redação, Arlen Medina, reforçou: ?Nossa recomendação aos editores é que a informação seja repassada para o leitor da forma mais clara possível. Quando os termos técnicos são imprescindíveis, precisa haver uma explicação entre parênteses ou um quadro Dicionário, esclarecendo aquela expressão?."