IMPRENSA REGIONAL
José Alfredo Rodrigues (*)
O desentendimento entre os jovens herdeiros instalou uma crise sem precedentes nos quase 50 anos de existência do jornal ValeParaibano, publicado em São José dos Campos, interior de São Paulo. A razão central da desavença ainda não veio à tona, mas teve origem quando os herdeiros Aquilino Lovato Júnior e Fernando Mauro Salerno assumiram o controle do jornal substituindo seus pais, Aquilino Lovato e Ferdinando Salerno, responsáveis pela reforma gráfica e editorial ocorrida na década de 70 e também sócios da Empresa São Bento, que monopolizava o transporte coletivo urbano na industrializada São José dos Campos (SP).
De um veículo provinciano impresso a quente em velhas linotipos, de circulação restrita à cidade, aquela reforma transformou o ValeParaibano em um jornal dinâmico e moderno. O diário hoje tem um tiragem média de 15 mil exemplares e circula nos 56 municípios da região do Vale do Paraíba, incluindo o litoral Norte paulista, Sul fluminense e o Sul de Minas.
O clímax da crise se deu quando Aquilino Júnior publicou seguidamente uma nota de primeira página do jornal na qual informava estar impedida a entrada nas dependências do jornal do diretor Fernando Mauro. Ato contínuo, excluiu-o do expediente do jornal.
Aquilino Júnior alegou que o sócio Ferdinando Salerno, pai de Fernando Mauro, não mais pertencia à diretoria do jornal e teria se baseado em um suposto pedido de falência de uma das empresa de Ferdinando Salerno, a concessionária Volkswagen Bandeirantes, para justificar a saída compulsória de seu sócio.
"Questão interna"
Para garantir que os Salerno não tivessem acesso às dependências do jornal, Aquilino Júnior contratou uma empresa de segurança particular. A resposta de Fernando Mauro veio por meio de outra publicação, a mando da Justiça, também na primeira página, restituindo suas funções originais. Para se garantir, Mauro também contratou uma empresa de segurança particular. Hoje, cerca de 15 homens "a serviço da segurança" estão espalhados pelos corredores do prédio do ValeParaibano.
Os jornalistas se alternam entre a indignação e a perplexidade. A cada dia surgem boatos dando conta de que o jornal já teria sido vendido para as Organizações Globo, para o grupo Folha da Manhã, ou ainda para o deputado federal Ary Kara José (PPB), que tem base eleitoral na região. Outras variantes dão conta que Aquilino Júnior teria comprado o título de um outro jornal joseense, o Diário de São José. Todas essas versões, no entanto, não podem ser confirmadas. Ainda.
Alguns jornalistas já pediram desligamento da empresa, outros buscam nova colocação no mercado de trabalho. Um repórter do jornal que por razões óbvias pediu anonimato, lamentou que os recursos do jornal sejam desviados para garantir a segurança particular dos diretores, enquanto os profissionais se esfalfam para tocar uma operação jornalística sem infra-estrutura e sem rumo empresarial e editorial definidos.
Em comunicado publicado na capa do caderno regional FolhaVale, da Folha de S.Paulo (domingo, 29/7) Ferdinando Salerno afirma que "recentes desavenças entre os sócios do jornal ValeParaibano foram divulgadas através de ?Comunicado à Praça? veiculado neste jornal, trazendo à lume uma questão interna, que nada interessa aos leitores. Nossa intenção, do jornal e minha, é que o leitor continue recebendo o unicamente o que deseja: informação séria e confiável. Apesar das investidas materializadas, até mesmo, pela utilização de documento falso, supostamente com a chancela da Junta Comercial do Estado de São Paulo, nada mudou. Continuo à frente do jornal, que, por isso, mantém-se honrado e digno".
(*) Jornalista