Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As fontes são os editores

EDUCAÇÃO

Victor Gentilli

O fenômeno é geral. Atinge o jornalismo como um todo. Quanto o assunto é educação, hoje, a praga parece incontrolável. Certamente, o problema está na falta de editores especializados. O diabo é que até temos ? e alguns muito bons ? repórteres especializados em educação. Mas nenhum jornalão ou revista semanal tem um editor para o tema. Corrijam-me, se estiver errado, mas o último editor de educação que mereceu e honrou o nome foi Perseu Abramo, na Folha da primeira metade dos anos 1970. Ele só seria demitido em 1979, depois da greve, mas já com outras funções.


Nada em debate

O ensino superior brasileiro está com as vísceras abertas. Em todo o Brasil, as universidades federais estão à mingua, o ensino decai, professores buscam alternativas. O ensino confessional de qualidade limita-se ? ressalvem-se as exceções ? às PUCs. E o ensino particular divide-se, grosso modo, entre barracões e shopping centers, para usar a feliz expressão do colega Salvador Faro. Alguns poucos cursos de alguma qualidade ? e mensalidades no céu ?; e uma maioria de fábricas de diplomas que roubam o dinheiro do pobre brasileiro que tanto se sacrifica para atingir o ensino superior e recebe um diploma em troca de uma paga.

Neste quadro, temos um jornalismo chocho, anódino, sem iniciativa. Parece cego. Se analisarmos os jornalões nestes anos recentes, veremos que os verdadeiros editores são as autoridades educacionais.

Se as autoridades falam, temos matérias. Se falam muito, as matérias são grandes; algumas até merecem chamadas na primeira. Se falam pouco, é pé de página.

Se é crítica às autoridades, é preciso ouvir os dois lados. Basta o secretário, o ministro ou quem quer que seja se recusar a falar que a matéria não sai porque só tem uma versão.

Nem mesmo nos artigos de opinião o ensino superior hoje é discutido de forma autônoma. Quando os jornais publicam opiniões, são opiniões favoráveis ou contrárias a alguma ação do governo.

Por que ninguém vai ver como anda o debate da autonomia universitária para as universidades federais? Por que ninguém faz uma grande reportagem sobre a realidade de hoje do movimento estudantil? Por que a mídia não abre espaço para o efetivo debate das questões que estão hoje na ordem do dia?

Esta semana IstoÉ fez uma matéria sobre ensino à distância. Confundiu tudo. Tratou o assunto como cursos pela internet.

Quem mandou o ministro ficar quieto por uma semana? Os jornais ficaram sem pauta.

E assim caminhamos.

    
    
                     

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