JORNAL DO BRASIL
"Deu no JB", copyright Jornal do Brasil, 4/8/01
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Condenação e risco de morte
O destaque e o enfoque dados pelo JB à condenação em primeira instância, por erro médico, de uma ginecologista, e à ?sorte? do empresário João Paulo Diniz, que escapou ileso da queda de seu helicóptero, merecem reparos de leitores, abaixo transcritos. Outros comentários sublinham a leitura atenta e crítica que este jornal procura provocar.
Erro médico
Causou-me estranheza e indignação a reportagem ?Ginecologista e laboratório são condenados por erro médico?, de 26/7, pelo destaque para notícia que se refere a um julgamento em primeira instância, não tendo havido ainda recursos dos réus, e quando se sabe que processos percorrem um longo caminho até o julgamento final e definitivo. Quanto poder destrutivo! Solidarizo-me com a dor da jornalista Walda Menezes, que perdeu a filha. No entanto, o mínimo que se espera de um jornal ?sério? é que, antes de tentar acabar com a reputação e a carreira de um profissional competente, faça uma pesquisa, isto é, procure outras fontes, outros testemunhos, outras pacientes. Sei que a Dra. Nilcéa Neder Cardoso é excelente médica, trato-me com ela desde 1984. Em 1987 tive um tumor maligno que ela detectou e operou em seguida, com sucesso absoluto, juntamente com um cirurgião do Inca. Desde então tenho sido acompanhada pela Dra. Nilcéa, com competência e desvelo, admirando cada vez mais suas qualidades como profissional e ser humano. Ressalvo acertada indicação, feita por ela, de uma excelente oncologista para acompanhamento posterior. Várias pessoas de minha família e muitas das minhas amigas são pacientes dela há muito tempo, e consideram-na capaz, dedicada e responsável, além de haverem testemunhado, com a maior admiração meu tratamento com ela.
Cristina Wagner de Alvarenga – Rio de Janeiro.
JB ? A notícia mereceu destaque por serem raros os casos de condenação de médicos, por danos morais, mesmo na Justiça de primeira instância. E também pela notoriedade da vítima do eventual erro médico ? a bailarina clássica e jornalista Paola de Menezes Bustamante. Na reportagem, está dito que ?a decisão ainda é passível de revisão, em caso de recurso?.
Sorte
?Tem gente que nasce com sorte?. Essa era a frase inicial da reportagem de capa do JB de 28/7 que nos dava a primeira notícia sobre o acidente que João Paulo Diniz, Fernanda Vogel, Luiz Augusto Araújo Cintra e Ronaldo Ribeiro sofreram na noite de sexta-feira, 27/7. Ficamos extremamente incomodados pelo jeito irônico da reportagem. Na capa, só se fala de João Paulo e de quão sortudo ele é. A matéria cita, inclusive, o fato de ele ser milionário e de ter namorado Gisele Bündchen. Um desrespeito para com as outras quatro pessoas e seus familiares. Uma declaração de inveja do jornalista, publicada por um jornal de respeito. Não conhecemos nenhum dos tripulantes pessoalmente nem a sua sina, mas achamos que usar a sorte para narrar um fato tão trágico é, no mínimo, sem graça, para não dizer uma ofensa. As opiniões pessoais do jornalista e do JB a respeito do João Paulo Diniz não deveriam dar o tom da notícia. Afinal nós leitores queremos acreditar que notícias servem para nos mostrar fatos verdadeiros e não para contar histórias com julgamentos pessoais em tom jocoso?.
Andrea Longhi e Marcus Sulzbacher – Rio de Janeiro.
Polícia
O JB costuma repetir abordagem equivocada, quando em seus editoriais analisa questões relativas às polícias, particularmente nos casos de reivindicações salariais. Mais uma vez constato o erro no editorial ?Questão de Ordem?, de 26/7. Inicialmente, é preciso entender que nenhuma lei resolve o problema social. Matar, roubar, fraudar, tudo isso é crime, mas eles continuam a ocorrer. Agrava-se a pena. Não adianta, os delitos subsistem. Logo, não será a edição MP remédio capaz de conter as manifestações que, lembro, já são proibidas por lei. Segundo, ?reavaliação da atividade policial? se inicia com digna remuneração. Sem ela, como exigir qualidade, eficiência, exclusividade ou dedicação integral de quem mal consegue garantir o próprio enterro com seu salário? E o responsável único e direto não é o governo federal. Os responsáveis são os governos estaduais. Finalmente, ?informações sobre a situação calcificada? só não possui quem se recusa a idealizar ?viver? com R$ 700, executando o elenco de tarefas de um policial, nos ambientes mais hostis, e ainda sem poder sequer mostrar-se insatisfeito com a indiferença do poder público. Tudo começa com o salário, inclusive a solução para a maioria dos problemas de insegurança do cidadão. O mais que se diga, ou se busque justificar, é clara sinalização de ?miopia? mental ou espúria enganação.
Dilson F. Anaide – Rio de Janeiro.
Energia
É tarde demais para remoer o passado e apontar culpados pela ?Falha do Sistema? (editorial de 27/7), que poderá nos conduzir ao apagão. Sabemos que ninguém será punido por improbidade administrativa. Pior que o relatório atual a esse respeito, será o relatório a ser escrito dentro de alguns anos apontando os erros que estamos cometendo hoje, que citará por exemplo o fato de não termos tomado as atitudes corretas para atingir a independência e a autosuficiência na geração de energia; o fato de termos importado da Bolívia e da Argentina (fontes não confiáveis a longo prazo) gás e energia (pagos em dólar) para atendermos às nossas necessidades de geração e crescimento e, pior ainda, incorporado esses insumos à nossa matriz energética; o fato de não termos investido em energia nuclear. Acerca deste último, o governo está prestes a tomar uma decisão desastrosa que é a não construção de Angra III. Sem ela, estaremos: 1 ? Prejudicando a viabilidade econômica do atual ciclo de combustível nuclear; 2 ? Jogando fora, além dos bilhões de dólares já investidos em equipamentos e infra-estrutura, outros tantos milhões aplicados na capacitação científica e tecnológica de centenas de técnicos e engenheiros, em via de se aposentar nos próximos 5 a 10 anos; 3 ? Atirando no lixo 1300 MW, em um momento crucial de nossa história.
Eduardo de Braga Melo – Niterói.
?Shangri-lá?
Parabenizo o Jornal do Brasil pela cobertura do julgamento, no tribunal Marítimo, que decidiu por unanimidade que o barco pesqueiro Shangri-lá havia sido afundado pelo submarino nazista U-199. A reportagem sobre o caso escreve uma nova página em nossa história. Como neto de pescador fico feliz em ver a verdade chegar depois de 58 anos de espera. O que lamentamos profundamente é a omissão da marinha e do governo brasileiro, que esperaram tanto tempo para desvendar essa mistério, que só se conclui graças ao empenho do historiador Elízio Gomes Filho
. Marcos Eduardo Barreto Ferreira – Arraial do Cabo (RJ). [
colaborou Rui Sampaio Lima]"