CHANNEL 4
O prestigiado Channel 4, TV comercial britânica aberta (uma das cinco da Grã-Bretanha) continua levantando polêmica com o programa sobre pedofilia que transmitiu em 2 de agosto. Downing Street ? rua de Londres famosa por abrigar a casa do primeiro-ministro e muitos prédios do governo ? apoiou os ministros que criticaram o controvertido programa, que analisou a cobertura da pedofilia pela mídia: faltaram "questões legítimas", disseram personalidades de peso, como a secretária de Cultura, Tessa Jowell, e a ministra de Proteção Infantil, Beverley Hughes.
O porta-voz do primeiro-ministro disse que o governo repudiou o programa, por ultrapassar os limites do bom gosto e da decência. Tessa Jowell está preocupada com o fato de o Channel 4 ter reprisado o show pouco depois da primeira exibição, apesar da reação negativa de telespectadores e instituições infantis. Beverley Hughes disse que "a abordagem vulgar e satírica, a trivialidade e o humor em cima desse assunto são completamente inapropriados e ofensivos ao público."
As cenas do programa, de acordo com a BBC (30/7/01), mostram um homem ao qual foi oferecido um garoto; um pedófilo sendo queimado num símbolo fálico, após ser solto da prisão; e um perfil do molestador de crianças. A Secretaria de Cultura procurou a Independent Television Commission (ITC), grupo comercial regulador da TV britânica, para discutir se a entidade precisa de novos poderes para reagir mais rapidamente.
Tessa Jowell garante que a crítica nem cheira a censura. "Não tenho a intenção de ditar ou influenciar o conteúdo dos programas de TV. Mas tenho o dever de assegurar que a ITC seja capaz de representar as preocupações do público sobre emissoras", disse. Se a ITC descobrir que seu código foi quebrado, o Channel 4 poderá arcar com multa ilimitada ou, teoricamente, ter revogada sua licença.
O Channel 4 lamenta que telespectadores tenham ofendido pela reportagem, mas defende a decisão de transmitir o programa. "Faz parte dos objetivos do canal tocar em questões complicadas sobre a forma com que a sociedade e a mídia lidam com seus mais difíceis problemas", afirmou um porta-voz da emissora.
O Daily Mail encontrou no programa, chamado Brass Eye, seu novo alvo de ódio. Conservador, o jornal chamou a atração do Channel 4 de "o programa de TV mais doente de todos os tempos". "Foi um dos mais absurdos gestos de mau gosto que já testemunhei na TV", escreveu Simon Heffer, colunista do Daily Mail.
Diante de diversas reclamações de outros veículos, segundo Sarah Lyall [The New York Times, 3/8/01], o Channel 4 publicou declaração dizendo que Chris Morris, cômico crítico social e um dos responsáveis pelo programa, não tinha a intenção de "tirar sarro" da pedofilia. "Seu alvo era o perigo do sensacionalismo e da exploração que pode caracterizar a cobertura da mídia sobre o assunto", disse a emissora.