Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

África do Sul ficou órfã

DONALD WOODS

Donald Woods, que morreu de câncer aos 67 anos no dia 19 de agosto, era, na opinião de Allister Sparks [The Washington Post, 22/8/01], o jornalista mais carismático da África do Sul e também o branco mais engajado na luta contra o apartheid. Sua carreira jornalística foi construída em um jornal relativamente pequeno, chamado Daily Dispatch, na cidade costeira de East London.

Aos 31, Woods se tornou editor-executivo do jornal, mas sua personalidade engajada e seu estilo pungente colocou-o em estágio bem acima de sua própria publicação. Tornou-se colunista sindicalizado, estabelecendo-se como personalidade nacional com sua crítica violenta à segregação racial.

Sua língua solta, infelizmente, não permaneceu imune e a vingança veio a cavalo. Woods foi proibido de escrever, mas o fez secreta e abundantemente, no conforto do lar, escondendo as páginas à medida que as preenchia. Depois de um confronto com a polícia, que incluiu tiros contra sua casa e uma camiseta envenenada enviada a sua filha de 2 anos, Woods escapou pela fronteira de Lesotho, travestido de padre.

Partiu, então, para Londres, carregando seus manuscritos. Em seguida, foram a seu encontro a mulher e os cinco filhos. Woods foi de fundamental importância para a opinião internacional sobre o apartheid. Sua vida mudou novamente quando brancos e negros da África do Sul chegaram a um acordo em 1994, quando o país passou a ser governado por Nelson Mandela e a constituição se tornou democrática.

Woods sonhava em voltar para casa, mas a realidade de 24 anos em exílio resultou em uma família muito enraizada na nova rotina e o jornalista foi, acima de tudo, um homem de família. Um patriota tão apaixonado morreu no exílio, horas após ter recebido um telefonema de despedida de Mandela em Johannesburg.

    
    
              

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