ELEIÇÕES 2002
Chico Bruno (*)
Estamos a mais de um ano das eleições, mas a imprensa brasileira todos os meses divulga a intenção de voto para as eleições presidenciais de 2002. São pesquisas encomendadas por confederações patronais, tipo CNI, CNT e outras, com exceção do Datafolha. Elas, inclusive, já definiram que existem cinco candidatos de oposição Lula, Ciro, Itamar, Garotinho e Êneas. Como não existe, ainda, o candidato da situação, os resultados são inócuos.
Essas sondagens divulgadas pela imprensa com alarde estão servindo para balões de ensaio de interesses duvidosos. Senão vejamos. O PFL contratou pela bagatela de R$ 240 mil, segundo a própria imprensa, pesos pesados da propaganda brasileira para criarem e produzirem três comerciais de televisão estrelados pela governadora do Maranhão Roseana Sarney. Esses comerciais foram e estão sendo veiculados maciçamente em todo o país. Um plano de mídia digno de lançamento automobilístico, pela qualidade do material e quantidade de inserções no horário nobre das emissoras de TV. A governadora está bem dirigida e seu desempenho é muito bom perante as lentes.
Imediatamente os institutos de pesquisas, a mando das confederações, controladas por políticos do PFL, colocaram o nome de Roseana Sarney para ser avaliado em confronto com os nomes de oposição, como uma possível candidata da situação. Nas pesquisas divulgadas ela aparece com algo em torno de 13 e 14%, disputando o segundo lugar com três candidatos de oposição ao governo.
Os comentaristas políticos analisaram os resultados de vários ângulos e cenários, que vão desde o poder de barganha do PFL, para torná-la candidata ou quem sabe vice, a até um possível enfraquecimento do poder de ACM na legenda. O que nenhum jornalista analisou, infelizmente, foi o uso da propaganda eleitoral partidária e das pesquisas para cacifar a operação desencadeada pelo PFL de se impor no jogo político da situação. Todos caíram na armadilha do PFL e foram usados. Não se pode entender que jornalistas com tantos anos de janela, sejam tão ingênuos, ao ponto de não perceber a arapuca montada pelos liberais brasileiros.
Felizmente a grande maioria do eleitorado brasileiro não está, no momento, em clima de disputa eleitoral, apesar da insistência da grande maioria da imprensa em antecipar a discussão eleitoral. Uma grande parcela, talvez a maioria do eleitorado brasileiro, está preocupado é com o racionamento de energia, a maquiagem dos produtos, a queda no poder de compras, segurança, o desemprego e com os problemas de sua cidade, causado pela má gestão da maioria dos governantes estaduais e municipais, segundo as próprias pesquisas indicam. Se os eleitores e os leitores não estão em clima de eleições, por que a imprensa insiste tanto nesse assunto.
Seria pertinente que os jornais, revistas, enfim a mídia encomendasse, através de suas associações ou sindicatos patronais, uma grande pesquisa para saber o que leitor quer ler no momento, coisa do tipo que a Globo faz para saber que rumo dar as telenovelas. Infelizmente não se tem notícia de que isso aconteça. Por favor, entendam, isso não é válido para o dia a dia dos acontecimentos fatuais. É válido para se saber por que o leitor não se empolga com a antecipação do clima eleitoral, por que não se empolga e vai para as ruas pedir a cassação do senador Jader Barbalho e cadeia para Maluf, haja vista que se empolgou e foi às ruas pedir a cassação de ACM e Arruda.
Enquanto isso, principalmente os jornais e revistas vão gastando a energia de seus repórteres em saber o que o Lula acha do Tony Blair, o Ciro de um jantar entre empresários e o presidente da república, o Itamar do presidente e o Garotinho do evangelho. Outra chatice é ver todo dia as ilações de que o Malan, Serra, Paulo Renato, Tasso, Aécio e o Alckmin podem ser o candidato a presidente do governo, e agora até a Roseana. Declarações que publicadas são em seguida analisadas pelos articulistas e repercutidas por outras personalidades. Um tipo de jornalismo que foi consagrado nos primórdios do colunismo social e que nem mesmo os colunistas sociais de hoje utilizam mais ? a fofoca, que hoje está restrito ao jornalismo que se dedica a vida privada alheia, principalmente dos artistas. Ao contrário nenhum jornal, revista, emissora de televisão ou de rádio se dispôs a mandar enviados especiais a Genebra, Jersey ou Cayman para aprofundar o caso Maluf, in loco.
(*) Jornalista