FLÁVIO CAVALCANTI REVISITADO
"A direita e a tevê", copyright Istoé, 31/08/01
"Livros de origem acadêmica normalmente são peças de circulação limitada ao meio universitário e quase sempre pouco atraentes ao leitor comum. ?Nossos comerciais, por favor!? – a televisão brasileira e a Escola Superior de Guerra: o caso Flávio Cavalcanti (Beca, 128 págs., R$ 25), dissertação de mestrado da historiadora carioca Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira, 40 anos, para a Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), é uma exceção à regra. A autora, que concebeu um trabalho fluente e provocador, coloca o leitor diante de uma espécie de ovo da serpente encubado pela ditadura, com a participação dos melhores cérebros da caserna. Através de seu livro, Lúcia revela um projeto doutrinário que sustentou o regime militar amparado em ideais extremamente conservadores elaborados pela Escola Superior de Guerra (ESG) e que encontraram no apresentador Flávio Cavalcanti (1923-1986) seu mais exacerbado, ainda que involuntário, porta-voz.
O que provoca calafrios entre as conclusões de Lúcia é que A doutrina, como é apresentado o Manual Básico da Escola Superior de Guerra, tinha ampla aceitação das elites brasileiras. ?Era um projeto pesado, excludente, que eliminava a pluralidade?, diz a autora. Propagava um estilo de vida calcado em valores cristãos ocidentais e parecia imbuído de estímulos missionários. Aconselhava, por exemplo, as mulheres a não trabalhar fora. ?Ao saírem de casa, elas desordenariam a vida doméstica e iriam contra os valores familiares?, relembra Lúcia. Diante de tais preceitos, emergia a figura autoritária do apresentador Flávio Cavalcanti, que, com seus gestos largos catalisava – para surpresa geral – uma enorme parcela das classes mais privilegiadas do País, que realmente compartilhava de seus arroubos moralistas pontuados por frases lapidares do tipo: ?Acho que na porta de uma maternidade todo mundo deve torcer para nascer homem ou mulher… nada diferente disso.?
Flávio Cavalcanti, portanto, não poderia ter surgido em melhor momento para o regime militar. A televisão se tornava o instrumento mais importante no projeto de unidade nacional criado pela ESG. Não à toa o veículo recebeu do governo intensos investimentos em tecnologia, tendo como resposta um enorme apoio popular às programações em geral. À época, uma pesquisa do Ibope continha a seguinte questão: ?Em que meio confia mais quando recebe uma notícia?? A televisão despontou soberana, com 64,6% das preferências. O apresentador se aproveitava de tamanha credibilidade para alardear os feitos militares. Também fazia discursos como o da tese paranóica supondo que a canção Alegria, alegria, de Caetano Veloso, continha referências ao ácido lisérgico nos versos ?sem lenço, sem documento?, as iniciais de LSD.
Em nenhum momento, a autora quis traçar uma biografia de Cavalcanti, por quem ela afirma não ter nutrido nenhuma simpatia. Não esconde, porém, que quando criança ficava magnetizada pela presença dele na televisão. A peça de resistência no trabalho de Lúcia, contudo, é embutir a reflexão aterradora de que a democracia não esteja totalmente garantida no Brasil. ?O golpe militar não foi unilateral. A sociedade foi lá chamar os militares, e isso pode acontecer de novo?, analisou Lúcia em conversa com ISTOÉ. Não por acaso, ela mostra como pode ser perigoso o casamento de princípios conservadores, uma elite assustada e um veículo com o poder da televisão.
IBOPE & MERCADO
"Ibope terá audiência minuto a minuto fora da Grande São Paulo", copyright O Estado de S. Paulo, 31/08/01
"A guerra de audiência deve ganhar mais um tempero em 2002. O Ibope pretende instalar a medição de audiência em tempo real em outros Estados do País.
Hoje, essa medição só existe na Grande São Paulo.
Segundo o gerente de Atendimento do Ibope, Derli Pravato, a audiência em tempo real deve ser instalada nos Estados que já possuem a medição eletrônica: Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador , Recife e Belo Horizonte. ?Não sabemos ainda se será só em um ou em mais Estados que instalaremos essa medição?, conta Pravato. ?O problema é que é um sistema de transmissão caro, que envolve também a implantação de equipe técnica do Ibope no local trabalhando 24 horas ao dia.?
Pravato diz que o ibope nacional em tempo real é um pedido insistente das TVs, que planejam muitas de suas atrações em cima desses dados. ?As agências de publicidade querem só os dados consolidados, são as emissoras as maiores interessadas nesse tipo de medição, é assim que elas vêem o que está ou não está dando certo na atração ao vivo.? É o que ocorre na disputa de audiência, apertada, entre o Domingo Legal, do SBT, e o Domingão do Faustão, da Globo.
Baseados na audiência em tempo real, Gugu e Faustão remanejam suas atrações, estendem quadros e encerram outros que não estão agradando ao público.
?Apesar de São Paulo ser muito importante em audiência e economicamente, as TVs só têm uma visão parcial do resultado de seus programas. A medição em tempo real em outros Estados deve mudar muita coisa?, diz Pravato."