Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Karla Monteiro e Ivan Finotti

ENTREVISTA / AMAURY JR.

"A ciência do fuxico", copyright No (www.no.com.br), 28/08/01

"?Estou careca de entrevistar gente com bafo de coxinha. Mulheres lindíssimas com salgadinho na mão, é um horror.? A vida dura de Amaury Jr., o rei das celebridades, promete ficar ainda mais difícil nos próximos meses, com o lançamento de sua revista própria, a ?Flash?. Pioneiro do colunismo televisivo, onde atua há mais de 20 anos, Amaury se prepara a expansão dos seus domínios para o jornalismo impresso. ?Provavelmente minha revista sairá pela mesma editora da ‘Caras’. Estamos negociando. Eu já tinha a idéia antes da ‘Caras’ ser lançada?, gaba-se.

Ele tem certeza de que sua publicação será um estouro, mesmo com toda a avalanche de revistas semanais de ?celebrização? que entope as bancas de jornais. Porque Amaury tem ?informações exclusivíssimas?, como o fato de que não é Marília Gabriela que tem ciúmes de Gianecchini, e sim ele que tem dela. ?Você sabia disso??, pergunta, visivelmente extasiado com a informação coletada minutos antes num telefonema com a jornalista loira de 52 anos. Ele acredita que nem mesmo a peculiar diferenciação que faz entre fofocas publicáveis ou não pode ameaçar sua nova investida.

Para Amaury, esse estudioso do assunto (está até trabalhando num livro chamado ?A Ciência do Fuxico e o Fuxico na História?), existem três tipos de fofoca. Em primeiro lugar está a futrica do bem, aquela que as celebridades não apenas adoram, como estimulam, posando para fotos ou até ligando para avisar as redações. É o tipo ?Caras?, ?para mostrar o esplendor da vida?, resume o colunista. Do outro lado, existe o mexerico do mal, que Amaury se nega a veicular: ?Eu não dou notícias que possam desmontar uma pessoa?. É entre uma e outra espécie que ele se encaixa. Amaury sabe fuxicar sem magoar, ou seja, conta pequenas indiscrições, mas jamais algo que faça a celebridade arrancar os cabelos de raiva e deixar de atender a seus telefonemas. ?Se eu abrir a minha boca de verdade, posso arrumar minha mala e pegar um avião. Acho que o colunista sobrevive na medida em que ele não fecha as portas das suas fontes.?

As portas, ele tem deixado abertas desde que começou o colunismo televisivo na repetidora da Globo em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Na capital, trabalhou em TV, jornais e chegou a dirigir uma revista pornográfica hardcore, a Fiesta. Casado, com 50 anos e pai de dois filhos, Amaury odeia festas (mas não sai delas), abomina a música do É o Tchan (mas não pensa duas vezes antes de colocar bundas que levantem a audiência de seu programa) e detesta gente sem talento (mas de vez em quando entrevista um ou outro…). Em seu programa diário na Band, um minuto de matéria paga custa, segundo tabela oficial (mas negociável), 9 mil reais. Amaury rende tanto dinheiro que a emissora equipou, exclusivamente para ele, uma mansão para funcionar como estúdio no chique Jardim Europa. A casa, onde Amaury concedeu essa entrevista à no., ganhou todos os fru-frus da decoradora Brunete Fraccaroli misturados aos ambientes clean de João Armentano. ?Dinheiro é bom para gastar. Mas eu dou dinheiro para a Band e exijo conforto?.

Você faz colunismo social há mais de 20 anos. A chegada da revista ?Caras? e suas diversas imitações atrapalhou o trabalho nessa área?

Amaury Jr – De jeito nenhum. Ajudou. O gênero ficou valorizado. E como sou bom nisso, estou sempre por cima da maionese. É que a ?Caras? não fala mal de ninguém. É para mostrar o esplendor da vida.

Mas coluna social não é para mostrar o esplendor da vida também?

Amaury – Eu acho que não. A coluna social que o Zózimo fazia no ?JB? não era. Amanhã, por exemplo, eu estou dando uma nota da Marília Gabriela. Eu sou amigo dela, também tenho que me valer dessas proximidades. Todo mundo está dizendo que ela morre de ciúmes do Gianecchini. Mentira! Quem morre de ciúmes dela é o Gianecchini! Sabia disso?

Não.

Amaury – Pois então. É o contrário. Eu vou dar essa informação. Porque, porra, estou vendo que está tudo errado. Esses colunismo social por aí não é legal. É um colunismo de chute, um chutômetro.

Mas e se você soubesse que o Gianecchini estivesse tendo um caso com outra mulher? Você daria essa informação?

Amaury – Não, eu não daria.

Por quê?

Amaury – Porque eu acho que iria magoar uma amiga minha, uma fonte minha, entendeu? E eu acho que o colunista sobrevive na medida em que ele não fecha as portas das suas fontes. Se você for falar a verdade de todo mundo, se eu abrir a minha boca de verdade, eu posso arrumar minha mala e pegar um avião. Porque não é assim que se faz jornalismo, está certo? Não pode ser do mal.

Você quer dizer que é assim que se faz colunismo social.

Amaury – Você pode fazer muitas coisas agradáveis. Eu acho que o fuxico, a fofoca, é uma coisa de entretenimento.

Mas então qual é a diferença entre a ?Caras? e o colunismo que você faz?

Amaury – A ?Caras? jamais diria isso que eu contei da Marília Gabriela. A ?Caras? jamais vai dizer que a Hebe Camargo está namorando o Ciro Bartelli, o que eu descobri. Até está aí uma puta especulação dizendo que eu inventei essa história. O tempo dirá.

Por que a ?Caras? não publicaria isso?

Amaury – Porque é fofoca! A ?Caras? só vai dar na hora em que o Ciro aparecer com a Hebe sentado numa mesa e fotografado. A ?Caras? não vai jamais dizer que o governador de Brasília fez uma plástica porque estava descontente com sua imagem numa foto política que fizeram para a próxima eleição.

Mas você também não dá notícias que podem ate fazer perder a fonte?

Amaury – Eu não dou notícias que possam desmontar a pessoa. Para que vou falar que vi um puta empresário com outra mulher de noite? Que conversa é essa? Isso é ser do mal, não é?

Você também aparece na ?Caras?. É por trabalho ou prazer?

Amaury – Eu preciso de visibilidade, eu adoro a ?Caras?. As pessoas lêem, gostam. Quem sai na ?Caras? tem o estigma de ser importante. E isso é importante para o meu trabalho.

Então é pelo trabalho?

Amaury – Eu tenho prazer pessoal também. Eu tenho vaidade. Me fotografaram com a minha família. Fiquei feliz em ver aquilo.

Todas as festas que você cobre são freqüentadas por celebridades televisivas?

Amaury- Não. Anteontem, eu fui fazer uma festa do José Ermírio de Moraes, irmão do Antônio Ermírio de Moraes. Não tinha ninguém de televisão. Estavam lá os quatrocentões. É outra coisa.

Esse tipo de celebridade vende?

Amaury – Não, n&aatilde;o dá audiência. A gente tem que dançar de acordo com o ritmo. Se eu coloco o Luís Veríssimo, presidente do Grupo Eldorado, não dá ibope. Mas bota a Carla Perez grávida e fala quem vai fazer o vestido de casamento dela…

O que você prefere fazer, a Carla Perez ou o Veríssimo?

Amaury – Para não cair na audiência, eu faço uma moldura no programa com essas coisas mais popularescas, que o público quer. Não acho ruim. Só estou entrando nessa onda porque o público está cada vez mais interessado na intimidade das pessoas. Mas na parte musical do meu programa, essas coisas, tipo É o Tchan, não entram. Eu fico na Bossa Nova, no circuito que foi botado de lado.

Você disse que o É o Tchan não entra no seu programa? Quais são as restrições do Flash?

Amaury – Não tenho restrições. Mas é uma puta música ruim. Isso não é música. Claro que eu já pus o Tchan para dançar, aquelas bundas maravilhosas. Eu adoro bunda. Eu pus porque sou obrigado. Mas eu não gosto. Acho o momento musical brasileiro um puta lixo. Sou antigo? O cacete! Tenho dois filhos adolescentes, minha equipe é jovem e sou antenado. Procuro privilegiar o que eu não acho lixo. Se eu puder, dou espaço só para a boa música popular brasileira, Emílio Santiago etc. Do jeito que está, você desestimula um Roberto Menescal, um Marcos Valle, uma Wanda Sá, pessoas que eu acabei de entrevistar.

Você é contra as celebridades instantâneas então?

Amaury – A televisão hoje pega essas merdas que estão por aí e despreza o resto. Esse é o erro da mídia que cuida da música brasileira hoje. Então fica essa merda que estamos vendo.

Então você coloca o É o Tchan a contragosto?

Amaury – Meu programa é de variedade. Eu também não quero ter um tom professoral. Acho que o programa tem que acrescentar informação. Quem não tiver nada para falar, não vale entrevista. Tereza Collor, por exemplo. Eu entrevistei ela essa semana com o novo namorado. Qual o interesse da Tereza? É só a badalação? É só futrica? Não. Essa mulher mudou o país. Foi uma fofoca dela que derrubou o Collor e arrebentou a história do Brasil. Ela vale ser investigada, vale conhecê-la um pouco melhor. Entrando pela brincadeira, você consegue tirar as posições dela. E é uma linda mulher. Magnífica. Seduz quem quiser.

Você conseguiria criar uma celebridade?

Amaury – Ô! Na verdade, a gente pode consolidar talentos. Você pode empinar o papagaio, mas se não tiver vento permanente, vai cair. Muita gente começou comigo. O João Kléber, por exemplo. Se ele existe, fui eu quem deu um chute na bunda dele. Apresentei para o Agildo Ribeiro e ele decolou.

Como você seleciona suas reportagens?

Amaury – As matérias se impõem pelo feeling. Se vão interessar ou não. Tem matéria, como uma que eu fiz ontem, que é obrigatória por causa dos patrocinadores.

Como funcionam as matérias pagas?

Amaury – Quem assiste o programa sabe. Tem uma tarja ?Flash Business?. Se um hotel vai inaugurar e quer a minha presença, liga para o departamento comercial da Bandeirantes e compra. É uma informação comercial tarjada.

Mas você entrevista as pessoas como se fosse uma reportagem?

Amaury – Fiz um recentemente. Inaugurou o hotel Sofitel de Higienópolis. Levaram lá a Cristiane Torloni porque parece que ela tem uma transa de se hospedar lá durante uma peça. Foram na Band e disseram ?Queremos o Amaury para mostrar um Sofitel?. Perfeitamente, venderam. Faturaram. Fui lá: ?Estamos aqui, para mostrar para vocês mais uma unidade Sofitel… Está aqui o gerente geral do Brasil. Quantos Sofitéis vocês têm?? ?35 no Brasil? ?Que beleza! E aí? Vai fazer mais quantos?? ?Mais 25? ?E esse aqui? Mostra aí um apartamento por dentro…? É isso aí, é um informercial. Programa roda com gasolina.

Qual a porcentagem de informerciais em seu programa?

Amaury – Eu gostaria que fosse 50%, mas não é. É uns 30%.

Você é rico?

Amaury – Eu não tenho nada. Todo mundo me enche o saco. Pensa que eu sou rico. Eu quero ficar. Eu trabalho é para ganhar dinheiro mesmo. Dinheiro é bom para gastar. Mas eu dou dinheiro para a Band e exijo conforto. Faturo. Por isso sou importante. As emissoras me querem porque eu atraio cascalho, dinheiro.

Você adora festas?

Amaury – O dia em que eu parar, você nunca mais vai me ver em festa. Odeio festas.

Você bebe nas festas?

Amaury – Não fumo, não bebo. Não me venha com salgadinho pro meu lado que eu derrubo a bandeja. Primeiro, você vai comer e fica com a boca suja, gosmenta, isso prejudica a sua dicção e você fica com um péssimo hálito. Estou careca de entrevistar gente com bafo de coxinha. Mulheres lindíssimas com salgadinho na mão, é um horror.

E sua equipe? Tem que ficar longe dos salgadinhos também?

Amaury – Se encostar, estão despedidos. Também não deixo ir mal vestido. Alugamos black-tie, se preciso. Você bota oito pessoas, um bando de mocorongo, tudo desarrumado, e a mulher caprichou tanto. Você não pode desmontar a festa da pessoa.

Tem alguma celebridade que você adoraria entrevistar e ainda não conseguiu?

Amaury – Morreu. Jacqueline Onassis era o meu grande sonho. Virou uma obsessão. Li tudo sobre ela e já fiz tocaia na Quinta Avenida para tentar entrevistá-la. Uma vez eu a vi chegar, mas não consegui porque tinha muito segurança em volta dela.

E alguém que você não entrevistaria de jeito nenhum?

Amaury – Não entrevisto um monte de gente que está por aí, sem talento. Todo mundo acha que é talentoso e liga para a gente. O pior é nas festas. Minha produção está escolada para não magoar ninguém e a pessoa não sair achando que é um cocô.

Você se importa de ser chamado de fofoqueiro?

Amaury – De jeito nenhum. Não é importante o que dizem de mim, importante é o que eu sou.

E o que você é, Amaury?

Amaury – Eu sou um jornalista de variedades, sério, que procura sair do convencional. Estou trabalhando num livro, há um ano e meio, sobre a ciência do fuxico e o fuxico na história.

Como é isso?

Amaury – Uma longa pesquisa que eu faço, minha diversão no fim de semana. É descobrir onde as grandes personalidades foram pegas na contramão do fuxico. Então fui ler a vida do Ruy Barbosa. Tinha uma cunhada dele, muito filha da puta, que esparramava venenosamente que ele tinha contas no exterior, conchavos com bancos suíços. E o Ruy Barbosa era um cara imaculado. Mas essa cunhada invejosa, que provavelmente queria ser comida por ele, detonou a vida dele.

Tem mais?

Amaury – Muita coisa. Eu quero mostrar as pessoas que estão sendo fuxicadas e não estão mais aí para se defender. Até o Shakespeare, estão dizendo que ele fumava haxixe. Tem um cara raspando os cachimbos dele lá. O que isso vai modificar o establishment? Nada."

 

BRAVA GENTE

"’Brava Gente’ vira linha de montagem", copyright O Estado de São Paulo, 3/09/01

"Felipe Camargo é o protagonista da reestréia da série Brava Gente, que a Globo exibe amanhã, às 22h30. Em Proezas do Finado Zacarias, o ator faz um morto que não aceita a própria morte e quer conquistar Marina (Carolina Dieckman), por quem se apaixonara antes de morrer. O roteiro é de João Emanuel Carneiro e a direção, de Vicente Barcelos.

Da nova fase, o diretor de Núcleo Guel Arraes está fora. A coordenação será de Roberto Farias. Para ajudá-lo, ele escalou o roteirista Geraldo Carneiro, que coordena as adaptações, escolhas de escritores e textos. Cada programa leva uma semana para ser pré-produzido e seis dias de gravação. ?O ideal seria que o roteirista tivesse um mês, mas há programas feitos em até três dias?, diz Farias. ?A série exige esforço. Guel (Arraes) se salvou e espero não enlouquecer até o fim do ano.?

Segundo ele, o programa está ?consolidado? e, por isso, não há grandes modificações a fazer. Mesmo assim, o enfoque dos episódios passará a ser feito em cima de personagens. ?Brava Gente deixa de ser algo genérico?, diz.

?Grandes personagens vão puxar a história para dar uma unidade ao programa.?

Esses grandes personagens podem ser históricos, personagens de ficção ou até algum anônimo que tenha feito algo que o transforme num brava gente. Farias afirma sentir falta de mais episódios urbanos. Segundo ele, a característica do programa será mantida, a diversidade de autores e diretores. ?Essa série desperta muito interesse dos profissionais da emissora porque é uma oportunidade que todos têm para exercitar seus estilos?, diz Farias, que, na primeira fase, dirigiu o episódio Coleira do Cão. Com essa experiência, realizou um sonho de dez anos, quando, pela primeira vez, desejou fazer uma adaptação para TV ou cinema do conto de Rubens Fonseca."

    
                  
    
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