THE NEW YORK TIMES
Se a imprensa pode se considerar justiceira, agente da exigência de padrões de transparência, performance e conflitos de interesses, pode, também, se esquecer de desempenhar esse mesmo papel em relação a si própria ? o que leva o público a, corriqueiramente, chamar a mídia de hipócrita. Um exemplo envolve a recente promoção de Howell Raines de editor de editoriais do New York Times para editor-executivo.
Na opinião de Robert J. Samuelson [The Washington Post,
29/8/01], em muitos aspectos Raines parece soberbamente qualificado
para o novo cargo, que assumirá em 6 de setembro. Aos 58
anos, já foi chefe de redação da sucursal do
Times em Londres e Washington, tendo ganhado em 1992 um prêmio
Pulitzer. Mas o que o desqualifica para a função é
seu passado como editor de editoriais, afirma Samuelson. Raines
proclamou em letras garrafais sua inclinação em favor
da visão liberal, posição política pela
qual o Times ficou fortemente conhecido.
Apesar de todos os jornalistas terem suas tendências políticas pessoais, Raines se destaca por ter sua opinião demasiadamente conhecida pela opinião pública. É notório simpatizante dos democratas (apoiou Al Gore nas eleições presidenciais do ano passado) e critica deliberadamente os republicanos, atacando recorrentemente o presidente George W. Bush.
Para Samuelson, não dá para acreditar que Raines, de uma hora para outra, aceitará visões diversas sobre um assunto que encara sob a perspectiva unicamente liberal. Por suas opiniões serem tão públicas, comprometem a habilidade do Times de agir e parecer justamente equilibrado.
Entre editores e repórteres da mídia americana, a "tendência liberal" não é tão negada quanto ignorada, apesar das muitas evidências de sua existência. O que acontece na redação do Times, afirma Samuelson, interessa porque se trata do jornal mais influente dos EUA, servindo de base para implantação de padrões jornalísticos norte-americanos.
