ÁFRICA
O jornalismo da porção sul da África anda doente. Aterrorizados pela possibilidade de disseminação da censura sobre os meios de comunicação do Zimbábue, outros países africanos têm apresentado violações à profissão de jornalista nos últimos dias, fazendo do governo zimbabuense apenas o primeiro de uma série de governos repressivos e intolerantes com a imprensa.
Na Zâmbia, por exemplo, a popular Rádio Phoenix foi fechada e Fred M?membe, editor do único jornal diário independente do país, foi preso por difamar o presidente. Já em Angola, as autoridades apreenderam o passaporte de Gilberto Neto, repórter do jornal independente Folha 8, dizendo que ele ainda enfrenta acusações de ameaça da segurança do estado devido a uma reportagem escrita em 1999, na qual o repórter noticiou a invasão da polícia em uma estação de rádio da Igreja.
A imprensa está sendo esmagada até em locais plácidos como Botsuana e Namíbia, onde os governos, irritados com as severas críticas de veículos privados, pararam de anunciar em algumas publicações e encerraram suas assinaturas.
Ainda há, claro, o Zimbábue. De acordo com Henri E. Cauvin [The New York Times, 25/8/01], o trabalho de jornalista tornou-se um esporte para poucos. Intimidação por militantes do partido do governo é rotina e violência policial também é comum. Há sempre o risco iminente de ser preso.
Na semana passada, Geoff Nyarota, editor do Daily News, único jornal diário privado do Zimbábue, foi preso junto a outros três jornalistas do mesmo veículo [veja remissão abaixo]. No dia 22 de agosto, Mark Chavunduka, editor do Standard, recebeu ordens para comparecer ao QG, onde investigadores lhe disseram que deveria se preparar contra acusações de difamação. A ameaça seguiu-se à reimpressão de um artigo do Standard afirmando que o presidente Mugabe foi perseguido pelo fantasma de um legendário herói da guerra de libertação. Na mesma edição, o jornal disse que o governo tinha uma lista negra de jornalistas.
Ainda na semana passada, outro jornalista presente na dita lista, Basildon Peta, editor de projetos especiais do Financial Gazette e secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do Zimbábue, foi intimado a responder a um interrogatório.
SAN FRANCISCO CHRONICLE
O San Francisco Chronicle, um dos principais jornais diários da Califórnia, publicou no último dia 31 uma nota aos leitores esclarecendo a decisão de colocar anúncios na página de opinião e editoriais. A medida, que muitos acreditam poder comprometer a imparcialidade do jornal, é resultado da forte crise econômica que tem atingido o mercado editorial norte-americano. Eis a íntegra da nota, escrita pelo editor da página editorial, John Diaz:
"A queda econômica forçou o Chronicle a tomar uma decisão difícil ? publicar anúncios na página de opinião.
Vocês devem saber que esta decisão foi aceita somente após muitas outras medidas terem sido tomadas para compensar o desequilíbrio entre publicidade e espaço noticioso.
No passado, o Chronicle publicava ocasionalmente anúncios ?de suporte? de um quarto de página nesta seção. Diferentes tipos de anúncio agora aparecerão nesta página mais regularmente.
No entanto, todas as seções deste jornal estão sendo afetadas pela realidade econômica. Algo que a recessão não irá comprometer é nossa independência ou nossos padrões. O conteúdo editorial que você vê nestas páginas não será influenciado de maneira alguma pela presença de publicidade".
RÚSSIA
Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Sociologia da Academia Russa de Cientistas entre jornalistas revelou a baixa estima desses profissionais. Entre março e maio deste ano, 100 jornalistas de São Petersburgo e 300 de outras regiões do país foram entrevistados sobre ética e práticas da profissão. Dos jornalistas de São Patersburgo, 12% disseram produzir "regularmente" matérias que envolvem propaganda indireta; outros 18% afirmaram escrever matérias deste tipo apenas "ocasionalmente", enquanto 37% admitiram tê-las feito "mais de uma vez".
Embora alguns pesquisadores procurem entender o fato como um reflexo dos baixos salários (o que tornaria ainda mais irresistíveis as tentações financeiras), apenas 47% consideraram que "problemas materiais" são o maior obstáculo ao jornalismo russo. Para a mesma percentagem de entrevistados, o principal problema apontado foi a "falta de profissionalismo".
A falta de prestígio da profissão também incomoda os profissionais. Apenas 5% dos jornalistas locais e 8% dos regionais acreditam que a mídia é poderosa o suficiente para forçar as autoridades a reagir. Mais: 20% dos jornalistas locais afirmaram que sua influência declinou nos últimos meses e 15% disseram que a idéia de que a mídia goza de influência é apenas um mito criado por ela mesma.
Para Vladimir Osinsky, do Departamento de Jornalismo da Universidade Estadual de São Petersburgo, a constatação de que "matérias sobre questões sociais destinadas a ajudar as pessoas não provocam qualquer reação das autoridades" gera apatia: "os repórteres se sentem inúteis".
Mas estes profissionais que se sentem ignorados podem se considerar, de certa forma, pessoas de sorte, afirma Galina Stolyarova [The St. Petersburg Times, 28/8/01]: 49% dos jornalistas regionais tiveram problemas judiciais por causa de seus artigos; em São Petersburgo, apenas 20% tiveram a mesma sorte.
A falta de senso corporativo também ajuda na desintegração da comunidade jornalística do país, apontam os entrevistados. Na opinião de Nail Bashirov, editor do jornal MIG, os profissionais "estão divididos entre aqueles que servem ao estado ? e este grupo, infelizmente, é majoritário ? e aqueles que tentam ser independentes".