CHINA NA WEB
"EUA apóiam plano para ajudar chineses a fugir da censura à Internet", copyright The New York Times / Último Segundo, 30/8/01
"Uma agência norte-americana está negociando uma parceria com uma empresa que fornece softwares especiais para disfarçar os sites da Internet consultados pelos usuários chineses, cujo governo está bloqueando a maioria dos servidores de sigilo
As agências governamentais norte-americanas que um dia tentaram quebrar a Cortina de Ferro com transmissões de rádio agora estão levando a guerra de informações à Internet, esperando financiar uma rede de computadores americana que visa a demover o governo chinês de tentar censurar a Web para usuários na China.
Os oficiais do governo e arquitetos particulares do plano dizem que o programa seria financiado pelo Bureau de Transmissão Internacional, agência mãe da Voz da América, que apresenta a visão americana a outros países – principalmente por rádio – há décadas. Isto significaria uma expansão importante na antiga guerra de informações entre a China e os Estados Unidos.
A agência está em uma fase avançada das discussões com a Safeweb, uma pequena companhia com sede em Emeryville, Califórnia, que recebeu financiamento do ramo de capitais de risco da CIA, a In-Q-Tel. As discussões foram confirmadas por pessoas de ambos os lados.
A Safeweb dirige sua própria rede mundial de aproximadamente 100 provedores de privacidade – computadores que ajudam a disfarçar quais os Web sites consultados por um usuário – que são populares entre os chineses que costumam navegar na Internet. Os provedores de privacidade têm sido um alvo contínuo do governo chinês, que bloqueou a maioria deles nas últimas semanas.
O bureau forneceria mais dinheiro para novos computadores que irão operar o software da Safeweb especificamente projetado para a audiência chinesa com a intenção de resistir melhor ao bloqueio do governo. A rede também irá cobrir alguns dos custos de implementação de redes de banda larga para levar o fluxo de informações da Internet, mas não servirá como anfitriã para os computadores em si.
O plano pagaria inicialmente por doze computadores, com a opção de ampliação do número após o início do próximo ano fiscal em 1o. de outubro. O projeto seria financiado por uma alocação do Congresso de US$5 milhões no ano passado para aprimorar as transmissões na China, inclusive de rádio e de Internet. Dos US$5 milhões, US$800 mil foram aprovados para ?melhoria da Internet e da multimídia?, e parte desta quantia será usada no projeto.
Para os líderes chineses, a Internet é como uma faca de dois cumes, um meio que se desenvolve rapidamente e traz oportunidades econômicas, mas que continua fora de um controle completo.
O uso da Internet na China está crescendo dramaticamente, penetrando universidades urbanas, empresas, casas e cafés de Internet em todo o país. O governo chinês estima que havia 26 milhões de usuários da Internet em julho, um número muito maior do que com os 9 milhões do final de 1999."
IRAQUE
"Uma emissora contra Saddam", copyright Jornal do Brasil / The New York Times, 29/08/01
"Grupos oposicionistas iraquianos vão abrir nova frente de batalha contra Saddam Hussein, quando for ao ar um programa de televisão via satélite – TV Liberdade -, financiada pelos Estados Unidos. O programa, transmitido de Londres por canal de satélite, terá notícias, perfis políticos, shows e entrevistas, e começará nos próximos dias, inicialmente com uma hora de duração por dia. A oposição prevê ampliar esse tempo nos próximos meses.
Enquanto isso, em Bagdá, a mídia oficial anunciava aos quatro ventos que um avião da inteligência americana fora abatido no Sul do Iraque. O Pentágono confirmou a perda de um aparelho Predator, no valor de US$3,2 milhões, sem tripulação e desarmado, do tipo usado para colher informações sobre a Iugoslávia, na guerra de Kosovo, mas disse não estar claro se ele foi derrubado ou se caiu devido a falha mecânica. Como os pilotos que controlam as zonas de exclusão aérea no Iraque têm sido muito atacados nos últimos meses, o Pentágono passou a usar mais vôos não-tripulados.
Rádio – O Congresso Nacional Iraquiano (CNI), organização dos nem sempre unidos grupos da oposição iraquiana, mostrou-se animado com perspectiva de transmitir programas pela tevê e depois por rádio.
?O rádio é mais simples, mas vamos começar pela TV porque tem mais impacto?, disse Zaab Sethna, assessor de comunicação do CNI. ?Vai ter um grande efeito, abalando Saddam Hussein pessoalmente e o cerne da estrutura do poder.?
Os recursos para o canal de televisão foram providenciados pelo Congresso americano e são administrados pelo Departamento de Estado. Já se gastou US$1 milhão com câmeras e um estúdio de transmissão em Londres. A operação vai custar mais US$1 milhão por ano, em salários e outros custos de produção. O custo da emissão do sinal via satélite, numa órbita estacionária sobre a Irlanda, é de US$1,3 milhão por ano. O sinal, que não pode ser bloqueado a partir do Iraque, chega a todos os possuidores de antena parabólica no Oriente Médio, Europa, grande parte da África e Costa Leste dos EUA.
Antenas parabólicas são rigorosamente controladas no Iraque, mas funcionários americanos que conhecem a região dizem que, com subornos, podem ser obtidas. Citando dados geralmente confirmados pelos EUA, a oposição calcula que em Bagdá e outras grande cidades do Iraque central sob comando de Saddam, talvez 25% da população tenham acesso à tevê por satélite. No Norte do país, onde os partidos políticos curdos estimulam seu uso, cerca de 60% da população têm acesso a parabólicas. No Sul, a cifra é menos de 20%, segundo a oposição.
?Mas as pessoas que têm parabólicas na parte do Iraque controlada pelo regime são em geral influentes, têm dinheiro e, muito freqüentemente, ligações com a estrutura do poder, como a família de um oficial do Exército ou um funcionário do governo ou um comerciante?, disse Sethna. ?É uma audiência de prestígio e influência. São as pessoas que temos de atingir para fazer mudanças no Iraque.?
Mas Lee McKnight, um acadêmico americano estudioso do uso passado de transmissões radiotransmissões políticas para outros países, diz que seu sucesso é muito limitado.
Quando estiver completa e funcionando, a TV Liberdade irá além das notícias iraquianas e incluirá entrevistas – com líderes da oposição, vítimas de abusos contra os direitos humanos no país, políticos estrangeiros – e também vídeos de música em língua árabe, shows e filmes proibidos pelo governo iraquiano."