JORNAL DO BRASIL
"Deu no JB", copyright Jornal do Brasil, 25/8/01
"Ética na política e diplomacia
O longo editorial sobre a demora com que o corporativismo político cozinha, em fogo brando, os escândalos nos níveis federal e estadual e a entrevista concedida pelo embaixador Flecha de Lima a Marcos Sá Corrêa, no último Domingo, são os temas das cartas destacadas na seção de hoje.
Escândalos
O texto do editorial Pistas Falsas (Jornal do Brasil, ed. 20/8) deveria ser reproduzido, lido, relido e submetido a análise periódica pelos políticos que tentam escamotear a aprovação do Código de Ética e Decoro Parlamentar, bem como por todas as pessoas que exercem cargos públicos, mas rejeitam submeter-se ao conjunto de regras de conduta moral suscetível a qualquer cidadão. Ainda não refeita dos graves acontecimentos que abalaram a opinião pública, após o lamentável episódio das fraudes nos painéis eletrônicos, que culminou com a renúncia dos senadores Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda, a sociedade brasileira depara-se com novos escândalos, protagonizados pelos deputados integrantes das Assembléias Legislativas do Espírito Santo e de Minas Gerais, flagrados cometendo atos incompatíveis com os princípios democráticos. No caso capixaba, obstaculizando o impeachment do governador, enredado em processo, juntamente com sua mulher e outras pessoas de sua relação. No caso vergonhoso de Minas Gerais, se assemelhando aos potentados da Índia diante das denúncias de que o faturamento daqueles parlamentares aproxima-se de R$ 1 milhão. O editorial do JB presta um relevante serviço à sociedade brasileira. Sinvaldo do Nascimento Souza, Rio de Janeiro.
Flecha de Lima
Confesso que minha primeira reação à entrevista do embaixador Flecha de Lima (JB, ed. 19/8) foi de irritação, talvez pelo título. Nossas carreiras têm sempre um fim abrupto ? ou assim nos parece. Também os diplomatas intelectuais vêem o sol se por antes do tempo de suas expectativas. Decidi que devia ler a entrevista. Paulo Tarso é um homem inteligente, grande diplomata e grande político. O mais conhecido diplomata brasileiro. Talvez os colegas não concordem, mas devemos entender e aceitar a biografia política, social e diplomática de Paulo tarso, desde a Casa Civil de Juscelino. Paulo Tarso é um vencedor. Os demais trabalharam em silêncio, mas mineiro é Paulo Tarso. O resto é ranger de dentes. Recomendo a leitura da entrevista, por boas razões. Especialmente a da agenda telefônica. Infelizmente poucos poderiam imitá-lo, mesmo que desejassem. Marco Aurélio Chaudon, Rio de Janeiro.
Doping
A reportagem sobre a atleta brasileira que se viu metida em caso de doping mais uma vez mostrou o JB fazendo um infeliz juízo de valor e crítica pessoal que vão muito além do dever de um veículo jornalístico que se propõe a ter seriedade, a credibilidade e a influência que o JB almeja. Se os repórteres não sabem para que uma pessoa está viva, após tentar o suicídio, certamente são eles que precisam parar para entender suas próprias vidas, em vez de manchar o jornal com sua raiva e seu preconceito. Eduardo Ramos, Rio de Janeiro.
JB ? A reportagem sobre o drama da atleta Fabiane dos Santos não contém ?juízo de valor?ou ?crítica pessoal?. Sua história foi contada pelos repórteres Anelise Infante e Tiago Petrik a partir de entrevistas, entre as quais com o seu treinador, Manuel Pascua (?Além de injusto, Pascua considera o banimento da corredora o maior desperdício que o esporte brasileiro pode cometer?). Sua principal rival, Luciana Mendes de Paula, foi também ouvida e, ela sim, fez comentários críticos ao comportamento da colega (?Ela falava de doping, achava que era liberado, que todo mundo toma, e ninguém é pego?).
Orquestra
Gostaria de esclarecer ao sr. Clóvis Marques, acerca da crítica ao concerto da Pró-Música com o violoncelista Antonio Meneses, publicada no dia 17/8, que eu me orgulho, e muito, da Orquestra Petrobras Pró-Música. Sei das limitações que o Rio de Janeiro impõe às orquestras, mas me orgulho de que ela faça o que faz ainda que com o que tem. Resolver o problema é muito simples. Basta que a Petrobras também se orgulhe da orquestra e resolva investir R$ 20 milhões na OPPM, como o governo de SP faz com a OSESP, e ela se tornará a melhor orquestra da América Latina. Tenho o costume de ir a São Paulo assistir à OSESP. Eles são de fato tecnicamente perfeitos, mas lhes falta paixão, amor, jovialidade. Isso é o que cativa o jovem e o público. E isso sobra na OPPM. Ver os spallas Felipe Prazeres e Antonella Pareschi com seus vinte e poucos anos ali, cheios de paixão por aquilo que fazem, me emociona. E orgulha, por que não? Isso não é decadência. Que se lhes pague R$ 6 mil por mês para ficarem à disposição, ensaiando manhã, tarde, fazendo 100 concertos anuais, e eles serão ao maiores e melhores. Não sei em que cidade o sr. Clóvis Marque vive, mas se for aqui, precisa antes deixar de lado sua alienação para depois lançar-se como crítico musical.Marcos Santiago, Rio de Janeiro.
Pode ser que o sr. Clóvis Marques não se orgulhe da Orquestra Petrobras Pró-Música (OPPM), mas eu, que a acompanho desde a fundação pelo saudoso maestro Prazeres, muito me orgulho do caminhar dela. Vê-la hoje, finalmente merecendo uma crítica, ainda que do sr. Clóvis Marques, já é motivo para orgulhar-se. Creio que a orquestra tem um grande potencial e pode chegar um dia a orgulhar também o referido senhor. Não, porém, enquanto não houver uma política cultural para as orquestras aqui no Rio de Janeiro. Carolina Dias Oliveira, Rio de Janeiro.
Clóvis Marques responde: Também me orgulho das orquestras da minha cidade quando se elevam acima de suas limitações. Quantas vezes, em décadas passadas, não enchi o peito com resultados ouvidos em concertos da Sinfônica Brasileira? E as belezas ouvidas ? e mencionadas na crítica ? no último concerto da OPPM? Mas o debate não pode ficar nestes termos. É por falta de uma política cultural e de apoio financeiro do Estado, da iniciativa privada e da comunidade que o Rio não tem uma orquestra de muito bom padrão, como mostram saber os leitores. O crítico não é um desalmado nem um sentimental. Ele ouve e relata. Não acha que jovialidade e entusiasmo sejam suficientes em música e não se considera um alienado por saber que no Rio raramente se faz música orquestral como ela precisa ser feita para ter sentido: em alto nível. Talvez o desinteresse do poder público e dos financiadores reflita um desinteresse do público ? ou a inexistência de um ?mercado? numa era que só funciona nesses termos: alguém já disse (um produtor de discos) que a cultura da música clássica não vigora efetivamente no Brasil, senão em nichos insignificantes de público. Está aí um bom debate."