Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Cidade Biz

DANÇA DAS CADEIRAS

"Ricardo Boechat será diretor de redação do JB", copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 5/09/01


"Quando o empresário Nelson Tanure comprou o Jornal do Brasil, o nome que tinha em mente para ficar à frente da redação era o do jornalista Ricardo Boechat. Na época, por uma série de conveniências, Boechat preferiu continuar como colunista de O Globo.

O jornalista paulista Mario Sérgio Conti é quem acabou indo para o Rio dirigir o JB. Ficou quatro meses no cargo e foi embora, quase que simultaneamente com a chegada do também jornalista Augusto Nunes, ex-diretor de redação de Época, levado por Tanure para estrear a vice-presidência editorial do jornal.

Entre essas idas e vindas, Boechat fora dispensado do Globo e contratado por Conti para repetir no Jornal do Brasil o sucesso de sua coluna.

Por telefone, na noite desta quarta, Boechat disse não poder ?confirmar uma informação de instância superior, que não passa pela redação?. Segundo ele, cabe ao chefe imediato, Nunes, a confirmação."

"Terremoto no JB: Nunes no poder (mas até quando?)", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 10/09/01

"?O JB já tem problemas demais para te aturar. Você não me conhece, sou casca grossa. Acho que você é doente. Aliás, você tem cara de doente?. Esta mensagem de Paulo Marinho enviada por e-mail a Mário Sérgio Conti foi a centelha decisiva para que Conti deixasse a direção editorial do Jornal do Brasil. Augusto Nunes assume nesta segunda-feira (10/9) uma vice-presidência do JB, que inclui o comando da redação. Ricardo Boechat acumula o cargo de editor-chefe (o título ainda não tinha sido definido até ontem, 9/9). Maurício Dias continuará sendo o n? 3 na hierarquia (também ainda sem título definido).

Pelo menos oito jornalistas – que haviam ido para o JB a convite de Conti – já pediram demissão. Flávio Pinheiro (diretor adjunto, ex-NO.), Regina Eleutério (editora executiva, ex-TV Globo), Eliane Thompson (diretora de arte), Plínio Fraga (editor de Política, ex-Folha de São Paulo), Expedito Filho (chefe da sucursal de Brasília, ex-IstoÉ Dinheiro), Daniela Pinheiro (Editora da revista Domingo, ex-Veja), Luiz Fernando Vianna (editor do Caderno B, ex-Globo) e Maurício Lima (repórter). A festa de despedida rolou firme no Bracarense (para quem não é do Rio: bar no Leblon, ideal para esquecer as mágoas, à a base do chope e do caldinho de feijão).

O JB vivia uma situação de crescente incerteza desde a saída de Fritz Utzeri da direção da redação, em março, e sua substituição por Conti a partir de 9 de abril. Em poucos dias, um terremoto começou a se formar. Conti demitiu 50 pessoas e convidou outras 60. Um dos epicentros formou-se no ressentimento crescente entre veteranos e recém-chegados, entre outras razões porque havia grande discrepância entre seus salários. Outro epicentro surgiu nas relações entre Conti e outros diretores.

Conti se recusava a ouvir queixas do pessoal da Publicidade, por exemplo. A crise financeira se agravou porque Conti recebera uma folha de pagamento de R$ 1,5 milhão na redação, chegando a quase R$ 3 milhões em sua gestão. Os incidentes foram se multiplicando até que, em certo momento, ele informou a Tanure que não participaria das reuniões da Diretoria se Paulo Marinho, amigo e principal assessor de Tanure, estivesse presente.

Com o irado e-mail de Marinho, em 16 de julho, Conti começou a arrumar as gavetas. Tanure imediatamente convidou Augusto Nunes, que havia saído da revista Época por desavenças com o diretor geral, Marcos Dvoskin. E circulou, rápido, o boato de que Conti substituiria Nunes, especialmente depois que ele foi visto em um restaurante, conversando com Merval Pereira, diretor da Infoglobo. Nesse mesmo dia, uma alta fonte da Infoglobo descartou essa possibilidade a um repórter do Comunique-se.

Depois de tentar, sem sucesso, a contratação de Aluízio Maranhão (substituto interino de Nunes na Época), Tanure arquitetou um novo esquema para a redação do JB. Nunes inicialmente seria vice-presidente, mas, na redação, comandaria apenas os editoriais. O veterano Wilson Figueiredo (77 anos de idade, 55 de jornalismo, 43 de JB) chegou a ser chamado ao gabinete de José Antonio Nascimento Brito (ex-sócio majoritário do JB e que ainda cuida dos assuntos ?antigos? do jornal) e afastado da Editoria de Opinião. Com a saída de Conti, Augusto Nunes passa a ser o número 1. E Wilson já voltou a dirigir a Opinião.

O terremoto aparentemente se acalmou. Se pudesse ser aplicada a escala Richter, o nível baixou de 9 para 2. Mas ainda há fumaça. Quem serão os substitutos dos que estão saindo (e ainda vão sair)? Nunes conseguirá ter relações mais tranqüilas entre a redação e a Diretoria? Ou poderão se repetir os problemas de seu antecessor ou os que ele mesmo teve na revista Época?"

 

ENTREVISTA JOÃO ROBERTO MARINHO

"João Roberto Marinho: Religião sim, concorrência desleal não", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 10/09/01

"?Nada temos contra emissoras de rádio ou televisão controladas por igrejas. Nenhuma delas jamais terá liderança de audiência, exatamente porque se dirigem a nichos e não a toda a população. O único problema é o financiamento, a origem do dinheiro, que chega a constituir concorrência desleal. O nosso dinheiro e o de todas as outras empresas comerciais de comunicação é sujeito ao Imposto de Renda e toda a legislação fiscal. O dinheiro das emissoras religiosas vem dos fiéis, das igrejas, é isento de qualquer tributo ou controle, e não para essa finalidade. Já estamos na Justiça contestando essa vantagem injusta?.

João Roberto Marinho falou ao Comunique-se na ampla sala que os três vice-presidentes e herdeiros dividem no 11? andar do prédio-sede das Organizações Globo. A idéia de sala única para os três irmãos foi sugerida por um consultor canadense e é uma idéia bastante praticada no mundo inteiro em grandes empresas, com o objetivo de tornar mais fácil a comunicação entre seus dirigentes.

Com a mesma franqueza usada na questão das emissoras religiosas, João Roberto explicitou a opinião atual das Organizações Globo sobre a mudança do artigo 222 da Constituição:

?As Organizações Globo continuam a apoiar a entrada de capital estrangeiro nos meios de comunicação conforme previa a proposta original da emenda constitucional,? disse. ?Mas não concordamos com a mudança do texto patrocinada pelo PT. No texto original, estava claro que o comando das empresas ficaria em mãos de brasileiros?.

Para João Roberto, embora todos os sites de notícias estejam amargando prejuízos ?poderão se tornar um negócio lucrativo?. Ele acredita que a tendência no futuro será o aumento da convergência entre internet e televisão, ?até mais do que entre internet e jornais? e se tornará uma fonte alternativa de receita.

As circulações dos jornais vêm caindo em todo o mundo, em ritmo lento mas consistente. E são muitos os profetas – encabeçados por Bill Gates – de que o jornal impresso, como o conhecemos hoje, se tornará uma relíquia em futuro não muito distante.

?Acho que o jornal é um formato superatraente para se pegar, com o conjunto das informações organizado pelo editor do jeito que o leitor mais aprecia e quer saber todo dia? – diz João Roberto. ?Jornal é portátil, o papel dá uma sensação gostosa de leitura – tudo ali está organizado pelo editor em que você confia. Esse formato do jornal vai sobreviver, pelo menos ainda durante muito tempo?.

?O que se precisa pensar sobre circulação? – continua João Roberto – ?é se estamos fazendo o produto que os leitores querem, se é o mais útil para eles. Muitas vezes acho que nós erramos nessa avaliação. A gente tende a privilegiar política e economia, coisas mais macro e menos do interesse do nosso leitor. O leitor procura notícias e serviços que possam ter influência direta em sua vida e na de sua família?.

João Roberto compara seus próprios jornais: ?O Extra é um exemplo de produto construído para esse tipo de leitor. Veja o caso de nossos produtos. O Globo é maior do que o Extra. O Extra vende mais do que o Globo. E o Globo jamais pretendeu ser um jornal para a elite, é um jornal para a classe média carioca e também para a classe A. O Extra atinge as classes B, C e D. Os dois jornais têm abordagens diferentes dos mesmos assuntos. Quando leio o Globo, me pergunto: será que as pessoas que estão lendo esta matéria estão mesmo interessadas nisso? A gente discute no jornal o que está ocorrendo no Congresso, mas muito mais as alianças, as brigas etc. do que os projetos que interessam ao cidadão comum?.

João Roberto reitera a posição das Organizações Globo em relação à publicação de informações sobre seqüestros e não concorda com a sugestão de Sílvio Santos de que jornais, tevês e rádios subordinem o noticiário à orientação da polícia:

?Não, não concordamos com isso. Temos uma posição clara e pública em matéria de seqüestros, desde 1990. Afirmamos em editorial que passaríamos a noticiar todos os casos e que não aceitaríamos pedidos de não-publicação. Agimos assim porque, em primeiro lugar, nossa missão, nossa razão de ser é informar. Em segundo lugar, informar estimula a sociedade a reagir. Quanto mais famosa a vítima, maior o estímulo. Estimular a sociedade a combater essa indústria é tremendamente saudável?.

João Roberto sustenta que a ação da sociedade, gerada por pressão da imprensa, acabou com o seqüestro como indústria no Rio. ?A ação da sociedade se manifesta de várias formas e inclusive através do Disk-Denúncia?. Citou Zeca Borges (que dirige este serviço no Rio), para quem a atuação dos meios de comunicação ?é fundamental para estimular o público a dar pistas? e mencionou, em defesa de sua posição, que o volume de ligações para o Disk-Denúncia em São Paulo aumentou espetacularmente durante o seqüestro da filha de Sílvio Santos e a invasão da casa do apresentador e dono do SBT.

?O seqüestrador pretende dominar o ritmo da negociação? – diz João Roberto – ?quando está com um membro da família no cativeiro e usa o nível de aflição da família para controlar o timing. O noticiário pressiona o seqüestrador a resolver o caso, porque ele teme que a informação avance e as denúncias aconteçam?.

Mas João Roberto ressalva que as Organizações Globo tomam alguns cuidados: ?Por exemplo, nada informamos sobre o patrimônio da vítima. Nada informamos sobre o valor do resgate, nem o pedido nem o negociado. Tomamos cuidado para nada revelar sobre a casa do seqüestro que possa atrapalhar a polícia ou beneficiar o seqüestrador. Erramos três vezes no caso do Sílvio Santos. Dissemos que ele aceitava pagar resgate, noticiamos a presença do celular e o Diário Popular (diário paulista comprado recentemente do ex-governador Orestes Quércia pelas Organizações Globo) disse que o seqüestrador estava pedindo dois milhões de reais?."

    
    
                     

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