Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Feriadão mostra que imprensa é dispensável

MOLEZA & CREDIBILIDADE

O final de semana prolongado foi restrito ao Brasil: no resto do mundo as guerras continuaram sangrentas, as bolsas mantiveram-se em queda e os indicadores apontando abismos.

Considerando que a imprensa obriga-se a manter a sociedade permanentemente informada e alerta ? gozando, em troca, de privilégios de ordem jurídica e econômica ? o seu pífio desempenho na sexta, sábado e domingo (7 a 10 de setembro) certamente soma-se às mazelas que lhe deram os minguados 15% de credibilidade na última pesquisa [veja remissão abaixo].

O descaso evidencia-se de forma gritante nas edições dos três semanários. Como são preparados muitos dias antes do ócio e da folga, por que razão seus teores foram tão descuidados e levianos? Porventura nesses dias o leitor afrouxa o nível de exigência e abre mão do desejo de saber?

Se os anunciantes acham que num feriadão o leitor não deseja informar-se e, por isso, não programam muitos anúncios, tudo bem, estão perdendo ótima oportunidade para vender suas mensagens. Mas os jornalistas que produzem essas revistas têm uma quota de páginas a preencher e um compromisso de lá colocar o que de melhor seus talentos e intelectos são capazes de produzir.

Não se justifica o desprezo que percorreu e unificou as três revistas: em Veja, o manual de sucesso do "executivo do século", o "mais esperado livro de negócios da história". Jogada abertamente promocional para vender um livro superficial sobre um homem vazio e desinteressante. Sobretudo porque o capitalismo que representa está em plena decadência. Se não fosse o feriadão jamais iria para a capa. IstoÉ e Época igualam-se na linha de auto-ajuda: a primeira cuida das emoções, a outra do corpo. Matérias iguais já devem ter saído nelas ou nas concorrentes, dezenas de vezes.

O tradicional desfile de Sete de Setembro foi tratado nos jornais de sábado com bocejos ? literalmente. Pela enésima vez os pauteiros e editores mandam que os fotógrafos caprichem nos flagrantes de autoridades e cônjuges entediadas e sonolentas.

O resto foi enfrentado burocraticamente, em edições exíguas e nenhum elã. A tragédia na Linha Vermelha (Rio, quinta-feira) conseguiu mexer com os jornalões cariocas. Mas já no sábado o trepidante Globo tirava-a da primeira página e, no domingo, esquecia que naquela tarde a interdição da via iria infernizar a vida dos leitores que viajaram de carro ou de ônibus.

Veículos impressos antigamente esforçavam-se para mostrar-se indispensáveis e insubstituíveis. Hoje, com meia bomba em matéria de confiança, dão o troco ? não se abalam.

    
    
              

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