Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Luiz Orlando Carneiro

JORNAL DO BRASIL

"Deu no JB", copyright Jornal do Brasil, 01/9/01

"Cota no ensino e seqüestro na mídia

A idéia do governo brasileiro de adotar cotas para facilitar o acesso de negros à universidade provocou polêmica e fornece, com duas cartas selecionadas, o tema para abrir esta seção. O problema da divulgação ou não pela imprensa de noticiário sobre pessoas seqüestradas é outro assunto debatido.

Reserva

?Sou negro, com três pós-graduações, professor universitário e militante do movimento negro. Concordo me todos os sentidos com o editorial do Jornal do Brasil de 28/8 e também afirmo que o sistema de cotas/ação afirmativa é paliativo imprescindível para diminuir a histórica defasagem sociocultural entre negros e brancos na sociedade brasileira, bem como para modificar a forma como essa questão foi enxergada até então. Sem dúvida, a implementação de um ensino de excelência nas escolas públicas seria parte da solução, pois a precarização das condições de sobrevivência das famílias negras, incluindo trabalho, remuneração, condições de saúde, segurança, auto-estima, minimizadas por tantos anos de opressão, terão de também receber especial atenção. Os dados do Ipea apontam para a perenização da desigualdade. As elites brasileiras governantes nunca demonstraram interesse em corrigir essa dolorosa dívida social que empurra multidões de jovens negros para a esesperança. É preciso encarar a utópica democracia racial brasileira e indicar ações concretas para a mudança desse quadro. Parabéns ao presidente da Republica pela coragem de incluir o sistema de cotas nas proposições a serem apresentadas pelo Brasil na África do Sul.? José Magalhães Furtado, Rio de Janeiro.

?Discordo frontalmente do editorial Decisão Salomônica, de 28/8. Estabelecer cotas para os negros nas universidades é a mesma coisa que abrir universidade só para negros. Nenhum negro de com senso deixaria de ver na medida uma ação puramente discriminatória e humilhante. Outra coisa: quem é negro, no Brasil? Será aquele com a pele puramente negra? E o pardo, e o moreno, e o mulato? E os brancos de origem negra? Outra coisa: o negro americano não entrava nas universidades por ser negro, enquanto o negro brasileiro e suas variações não entraram e não entram nas universidades devido a governos incompetentes como o atual, que em vez de investir em escolas públicas decentes, paga juros exorbitantes ao FMI.? Wilton Ribeiro Gomes, Maricá (RJ).

JB ? No editorial criticado o JB partiu do ?mote? da inclusão social, afirmando que o Brasil chega a esta posição com 40 anos de atraso em relação aos Estados Unidos, que enfrentaram problema semelhante quando então o presidente Kennedy criou o termo ?ação afirmativa? para seu projeto de cotas de negros nas empresas, logo depois extensivas às universidades.

Ética

?O triste episódio do seqüestro da filha do apresentador de TV Silvo Santos revela, mas uma vez, a face sórdida da imprensa: quando é com os outros, é válido o apresentador Ratinho em seqüestros, o Augusto Liberato (Gugu) e o Fausto Silva (Faustão) exibirem as mais lamentáveis aberrações. Tudo é válido e legítimo sob o argumento de que, se dá audiência, é sinal de que o povo quer ver. Entretanto, quando o incidente é com a filha de um dos mais prósperos e poderosos homens do país, o silêncio impera e surge o argumento ético: não divulgaremos nada em respeito nada em respeito à família do Silvio e para não prejudicar as negociações com os seqüestradores.? Newton Pessoa de Almeida Júnior, Rio de Janeiro.

JB ? O JB ? como ressaltou no dia seguinte do seqüestro de Patrícia Abravanel, filha de Silvio Santos ? publica, desde 1990, quando a vítima foi o empresário Roberto Medina, noticiário sobre seqüestros para evitar que a omissão beneficie os criminosos.

Choque

?Parabéns ao JB pelo brilhante editorial Choque de Capitalismo, de 18/8. Gostaria, entretanto, de fazer algumas considerações, já que ele deu ênfase à retomada das privatizações e à reforma tributária, omitindo ou colocando em plano secundário questões igualmente importantes. Uma delas é o Judiciário no Brasil, caduco, corporativista e, localizadamente, militando como trincheira politíco-ideológico do atraso. Não há capitalismo que resista a um Judiciário da qualidade do brasileiro, sendo imprescindível reformá-lo profundamente. Outra questão é a reforma previdenciária. Não é mais possível que a sociedade continue a financiar o déficit da previdência, mais especificamente a dos servidores públicos e a dos fundos de pensão de estatais. É inaceitável a continuação dos privilégios inerentes ao serviço público. Ou eles ficam restritos ao que permitem as respectivas contribuições ou estas são aumentadas para financiá-los adequadamente. Chega de funcionários fantasmas, carga horária reduzida, salário médio de R$ 5 mil no Legislativo e no Judiciário, estabilidade do emprego, greves remuneradas, aposentadorias precoces e com salários superiores aos da ativa, extensão das aposentadorias para filhas solteiras, etc. A educação é também uma tragédia nacional, em que pesem os recentes avanços nessa área. Nossos execrados juizes, senadores, deputados, vereadores, governadores e prefeitos representam uma amostra do povo brasileiro. Não entendemos ou fingimos não entender que os nossos problemas são internos e decorrem da tomada do Estado por predadores individuais e corporativos, e não de complôs internacionais, do neo-liberalismo, da globalização ou do FMI, e que os nossos juros imorais são conseqüência e não causa. Nossas elites são patrimonialistas. Não conseguindo sobreviver sem usufruir das beneses do Estado. Delas fazem parte os nossos socialistas que, ao contrário dos socialistas do restante do mundo, são inflacionistas, caneteiros e caloteiros. É uma esquerda ressentida, simplória, talvez a mais atrasada do planeta, que acredita em mágica, em muralhas e ainda está fundamentada em Marx e na revolta. É uma pena, pois a sua aparente indignação com injustiças sociais poderia ser canalizada positivamente, promovendo passeatas e greves pelas reformas estruturais pendentes.? Fernando F. Cruz., Rio de Janeiro.

Tenista

?O JB de 24/8 fez uma matéria sobre Anna Kournikova e caiu no lugar comum. O repórter escreveu que ela só faz sucesso porque é bonita. Busquem suas coloca&cccedil;ões no ranking. Creio que não foi a beleza que a fez ? e apesar de, agora, machucada ? a 19? colocada. A propósito, a brasileira mais bem colocada não está entre as 250 primeiras. Conclusão: por ser bonita, o repórter não admite que ela seja uma grande tenista.? Maurício Pires, Brasília."


    
    
            

Mande-nos seu comentário