Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Decisão sobre imagens chocantes

ÉTICA

Era tarde da noite do dia 11, e Erik Sorenson, presidente e administrador geral da MSNBC, começou a assistir ao vídeo recém-chegado à redação diretamente dos escombros no WTC. "Havia trechos horripilantes", disse. "Havia sangue. Havia partes de corpos."

Alguns produtores acharam que o vídeo deveria ser transmitido independentemente de quão chocantes fossem alguns trechos e que não seriam as emissoras a poupar os telespectadores do horror. Mas Sorenson, segundo reportagem de Jim Rutenberg e Felicity Barringer [The New York Times, 13/9/01], acredita que há muitas imagens capazes de contar a história sem cenas chocantes. "Escolhemos não mostrar muito, mas é possível algo mais horripilante e gráfico do que um prédio de 110 andares explodindo e se desintegrando diante de nossos olhos?"

Pelos estúdios, decisões eticamente difíceis têm sido tomadas sobre mostrar ou não mostrar, um processo que ficou ainda mais complicado com a gigantesca oferta de imagens. Câmeras, fotógrafos e amadores tiveram tempo e ângulos diversos para captar os momentos e as situações mais terríveis.

Do ponto de vista da TV, esse caso foi superior a outros desastres. Do bombardeio em Oklahoma City à queda de um helicóptero em Mogadíscio, na Somália [quando os corpos de fuzileiros americanos eram arrastados pela ruas], editores de jornais ou produtores de TV nunca tiveram disponível tamanho arsenal de imagens mostrando mortos e mutilados.

As empresas noticiosas, num esforço para levar o drama dos atentados à TV, discutiram se deveriam ou não mostrar vídeos em que se podia avistar nitidamente pessoas pulando dos prédios do World Trade Center.

Muitas redes exibiram imagens dos prédios desmoronando em que era impossível distinguir corpos e ruínas. Mas algumas preferiram mostrar cenas em que claramente se podiam ver pessoas pulando das torres para escapar do incêndio. A CBS transmitiu imagens dos corpos caindo no horário nobre da terça-feira. Bill Shine, produtor executivo da Fox News, disse que a rede lamentavelmente mostrou o vídeo uma ou duas vezes. "Foi errado e acidental. Nós temos outros vídeos que propositadamente não foram exibidos e que não exibiremos", afirmou Shine.

CNN e MSNBC recusaram-se a mostrar os suicidas desesperados. "Tentamos pôr em prática nosso bom senso e moderação e ser responsáveis pelo que exibimos", disse Eason Jordan, chefe de reportagem da CNN. Em vez de levar ao ar as pessoas que pularam, uma porta-voz da ABC disse que a rede mostrou duas mulheres no local gritando enquanto seus olhos acompanhavam a queda de um corpo ao chão. "Achamos que esta foi a melhor maneira de mostrar o horror da situação sem chocar", disse. As informações são de John M. Higgins para a revista Broadcasting & Cable (12/9/01).

    
    
                     
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